Perfil de Poeta 6 - Patrick Vieira Furtado
1. Quando começou a escrever poesia?
Bem pequeno. Passei por situações difíceis, perdi pessoas
queridas muito cedo, estava tudo bem caótico para uma criança sem voz e que
"não entendia nada da vida". A poesia foi e é a maneira que encontrei
de chorar, gritar sem voz, lutar e descansar.
2. Quais são seus/suas poetas preferidos?
Mia Couto, Drummond, João Doederlein, Camões, Cecília
Meireles, Salomão, Rei Davi, Zack Magiezi, Daniela Souzza, nossa rsrsrs se eu
falar de todos vai virar um textão!
3. O que é Literatura pra você?
Refúgio.
4. Como é seu processo de escrita?
Há coisas que demoro a escrever. Eu penso, trabalho palavras
e miro um alvo. Mas, confesso que algumas outras coisas me escapam da mente, da
alma, dos olhos e quando vejo nem sou mais poeta, apenas palavras.
5. Pretende usar a poesia de maneira atuante em suas
práticas como futura professor?
Com toda a certeza.
SÓ
dedico a quem sente dores, a quem não tem medo de dizer que
é humano e precisa de ajuda. todos
precisamos. só
Dói mais do que
Remói a dor que
outrora era nós
correndo pelos sonhos
buscando os tesouros
da vida que termina
eu sei que é uma mina
onde tem que se cavar
pra encontrar um bem
bem que eu queria
não ter que me dar ao trabalho
já que tudo vai ter fim
juntar tanta coisa e
ganhar os nãos querendo os sims
se eu pudesse eu iria a fins de
outros nas asas de meu amor
para além do horizonte
mas não suporto o peso
da dor
Eu escancarei todas
as portas que entrei
por fim eu me tranquei
do lado de fora de mim
e as vezes que eu tentei
sair pra fora dos meus
olhos vi a imensidão
que migrava rumo ao verão
lá eu sei que o sol não deixa
de brilhar mesmo se a noite
bater a porta e lá eu sou
alguém pra descansar sem
regras ou cores isso não importa
o calor me sustenta mais que
os meus vendavais nas ideias
amenas do que deixo para trás
fico a beira da eira pairando a
imensidão e a torrente das águas
dos meus marços desaguam de uma
só vez sem pedir perdão
eu me pergunto era ou foi
são?
As histórias más contadas
viram músicas tão cantadas
de inverdades e desverdades
pisando no que já foi chão
e a glória da verdade é que
não desdenha a idade já que
chega sem aviso prévio e sem
recomendação me fazendo pensar
que dois mais dois são cinco se eu tenho com quem dividir
mas já que
não tenho minha conta da um solitário
viajante das terras por aí e as falácias
da gente eu guardei dentro da minha razão já que não cabem
dentro do que era meu coração por isso eu paro aqui
sem medo clamando por favor
já não tem mais
dor
Como são as coisas
Patrick Furtado
Foi-se o tempo
em que eu não
me preocupava
se eu gritasse ou chorasse
alguém logo me trocava
não pedia nada
tudo era Eu
hoje se grito ou choro
logo apontam o dedo na minha cara
me dizem tantas palavras
que a vontade de crescer morreu
e no fim se digo que dói
me dizem que o problema é meu
A história de quem acha que o ego é a verdade da razão
Patrick Vieira Furtado
Viver de fotossíntese
Não dá
Até o ar é contaminado
Viver de amor
Não dá
Ele arde sem se ver e vou sair queimado
Viver de dinheiro
Não dá
As coisas que ele me dá são passageiras
Viver de você
Até da
Desde que seja da minha maneira
Não dá! — disse
Se me ama de verdade, finge que não existe
Fim.
Cansam
Patrick Vieira Furtado
Aqui é terra de ninguém
Sem dó nem piedade
Do que vale o céu estrelado?
As campinas floridas?
Se os bosquem padecem
Sem amor e sem vida?
O povo já não grita
Nem as margens da sociedade
As palmeiras derrubadas
Os sabiás emudecidos
Nossa terra tem trincheiras
Que escondem todo o frio
Se o verde é belíssimo
E as frutas suculentas
Ficamos sem teto e sem chão
Mas sem comida a gente não aguenta
O povo heróico do brado retumbante
Se enfurece por prestações
Daí os sabiás não mais gorjeiam
Deus me deixa a minguar pela morte
Cismado, sozinho sem sorte
Sem noite, sem dia, sem canções
Se um dia eu resolvo voltar
Que eu não me encontre em uma rua qualquer
Domingo
Patrick Vieira Furtado
Há muito para se dizer
O tempo que nos corre
dos dedos
se anseia nas dádivas
dos sonhos que afundei
no profundo do travesseiro
abro então os olhos
corro para a janela
vejo a multidão enfurecida
todos os sórdidos
os preambulos
as crianças iludidas
vendo os seus dias
irem pelo bueiro da rua