1. Quando começou a escrever poesia?
Comecei na
adolescência, na verdade nem chamava de poesia, achava prepotente de minha
parte usar a palavra “poesia” em meus escritos. Mas só durante a graduação,
incentivado por geniais colegas de classe e grandes professores, que assumi
minha “prepotência”.
2. Quais são seus/suas poetas preferidos?
Tenho forte admiração
por dois sujeitos que conheci na faculdade, dois amigos: Patrick Furtado e
Gustavo Ferreira, dois poetas excelentes. Fernando Pessoa, Ferreira Gullar,
Paulo Leminski, William Blake são outros que admiro.
3. O que é Literatura pra você?
Literatura é uma
reunião das sensações e sentimentos que o ser humano é capaz de ter, é
emancipação, é libertador. Transformou-me em um novo homem. Imagine se para
exercer um cargo eletivo, em um dos três poderes da república, fosse
obrigatório ser formado em literaturas, Ah! Que mundo maravilhoso teríamos.
4. Como é seu processo de escrita?
Procuro escrever a
chamada “Poesia social”, claro que não me limito nem me rotulo a nada, mas predomina
em mim essa necessidade de uma escrita social, coletiva, contestadora,
inquieta. O Brasil é uma fonte
inspiradora excelente para a poesia critica social.
5. Pretende usar a poesia de maneira atuante em suas
práticas como futuro professor?
Certamente, o mundo
precisa de poesia. Da nossa poesia, da poesia que sai das escolas, das
universidades, das favelas, das ruas. Essa poesia que está ai, pronta para ser
lida e aplicada.
O conflito
do ofício
Roberto
Nunes
Diante do inesperado ócio
Angústia e solidão
A labuta escraviza
Não há opção
O Pão! Voltou ao lar
O menino não me acha
A moça abençoa meu sono
O lamento é só meu
Agradeço em voz alta
****
Quando II
Roberto
Nunes
Quando olho para mim não me percebo
Quando II
Roberto Nunes.
Quando olho para mim não me percebo
dentro dessa alegria,
essa coisa "Normal"
de parar de dormir as cinco da manhã,
fazer a higiene mal feita
atracar-me com estranhos
na luta por um lugar para o corpo
que ainda dorme dentro do coletivo.
Quando olho para mim não me percebo
produzindo uma fortuna para uma
única família
e entregando tão pouco ao meu
filho.
O estranhamento que percebo
tão bem, pesa em meus ombros
como uma angústia amiga.
Quando olho para mim, me
reconheço na loucura
de parar de dormir as cinco
da manhã somente para
debochar das horas e voltar
a sonhar.
Quando olho para mim, me
reconheço na coragem de criticar
quem me domina.
Quando olho para mim, me
reconheço no normal de
tratar todos iguais.
Quando olho para mim, me
reconheço no medo de cortar
o cordão que me obriga a
fingir ser bom.
Parto do desencanto
Roberto
Nunes
Parto do desencanto
Flertando com a
Embriaguez
Pelo caminho.
Se eu não chegar
Apenas me veja nos
Rostos dos derrotados.
Leve um cão
para casa
E me encontre lá.
Lá, onde a embriaguez
É conquistada.
Onde a derrota
É aproveitada.
Onde o cão me
Festeja.
Lá, onde o desencanto
as vezes
Sou eu.
****
Sigo
Roberto
Nunes
Sigo a fim de buscar
ausência,
deixar de existir quando
o copo estiver vazio.
Minha presença é de medo.
Me refugio
nu
numa ponta de
fumaça e pulmão.
A desordem média me
diz
aonde devo ficar.
Sigo avançando com
minhas mãos queimadas
de sangue,
meu rosto sujo de
pólvora
e a voz
embargada
de cólera.
****
Selvageria
normal
Roberto
Nunes
Sinto-me parado, imóvel
preso a uma normalidade assombrosa.
Um oceano vermelho e denso
toca meu queixo,
e pareço caminhar em um
campo verdejante.
A lágrima da mãe que sofre
até me causa momentânea
comoção.
Só até o próximo gole de incapacidade
e aceitação.
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