VENHA VER O PÔR-DO-SOL
TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr-do-sol. In: ______. Mistérios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p. 203-212.
Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinha um jeito jovial de estudante.
– Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
– Veja que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do táxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele riu entre malicioso e ingênuo.
–Jamais? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância! Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete léguas, lembra?
–Foi para me dizer isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hein?!
–Ah, Raquel... – e ele tomou-a pelo braço. Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado... Juro que eu tinha que ver ainda uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então? Fiz mal?
–Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz. – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
–Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo acrescentou apontando as crianças na sua ciranda.
Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro.
–Ricardo e suas idéias. E agora? Qual o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
–Conheço bem tudo isso, minha gente está, enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
Ela encarou-o um instante. Envergou a cabeça para trás numa risada.
–Ver o pôr-do-sol!... Ali, meu Deus... Fabuloso, fabuloso!... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
–Raquel, minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
–E você acha que eu iria?
–Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um pouco numa rua afastada... _ disse ele, aproximando-se mais.
Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram-se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento. _ Você fez bem em vir.
–Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
–Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
–Mas eu pago.
–Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver um passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
–Foi um risco enorme, Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero só ver se alguma das suas fabulosas ideias vai me consertar a vida.
–Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
–É um risco enorme, já disse. Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo.
O mato rasteiro dominava tudo. E não satisfeito de ter-se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrara-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira as alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos, medalhões de retratos esmaltados.
–É imenso, hein? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, que deprimente – exclamou ela, atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada. – Vamos embora, Ricardo, chega.
–Ali, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou-lhe dando um crepúsculo numa bandeja, e você se queixa.
–Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
–Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
–É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
–Ele é tão rico assim?
–Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
–Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
–Sabe, Ricardo, acho que você é mesmo meio tantã... Mas apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo.
Que ano aquele! Quando penso, não entendo como agüentei tanto, imagine, um ano!
–É que você tinha lido A Dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora?
–Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
–Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja – disse apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda –, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas... Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
–Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim. – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega, Ricardo, quero ir embora.
–Mais alguns passos...
–Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para trás. –Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
–A boa vida te deixou preguiçosa? Que feio – lamentou ele, impelindo-a para a frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr-do-sol. Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
–Sua prima também?
–Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos... Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas... Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
–Vocês se amaram?
–Ela me amou. Foi a única criatura que... Fez um gesto. – Enfim, não tem importância. Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o.
–Eu gostei de você, Ricardo!
–E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
–Esfriou, não? Vamos embora.
–Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta: de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombros do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
–Que triste que é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu, melancólico.
–Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo? Mas já disse que o que mais amo neste cemitério é precisamente este abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
–E lá embaixo?
–Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó –murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa? Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
–Todas essas gavetas estão cheias?
–Cheias?... Só as que têm o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe – prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
–Vamos, Ricardo, vamos.
–Você está com medo.
–Claro que não. Estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado.
–A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato, duas semanas antes de morrer... Prendeu os cabelos com uma fita azul e veio se exibir, estou bonita? Estou bonita?... – Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente. – Não é que fosse bonita, mas os olhos... Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
–Que frio faz aqui. E que escuro, não estou enxergando!
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
–Pegue, dá para ver muito bem... – Afastou-se para o lado. –Repare nos olhos.
–Mas está tão desbotado, mal se vê que é uma moça...
Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.
– Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil e oitocentos e falecida... – Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel. – Mas esta não podia ser sua
namorada, morreu há mais de cem anos ! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
–Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso! Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
–Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. – Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta tem uma frincha na porta. Depois vai se afastando devagarzinho, bem devagarzinho. Você terá o pôr-do-sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
–Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente! –Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso.
–Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque. Boa noite, Raquel...
–Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.
–Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos! – exigiu, examinando a fechadura nova em folha.
Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
–Não, não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando, as duas folhas escancaradas.
– Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se, entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
–Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
–NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de, um animal sendo, estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora, qualquer chamado. –Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.
FINAIS ALTERNATIVOS ELABORADOS PELOS ALUNOS
Oficina de Produção texto
Professor: Erivelto Reis
Curso: Geografia 1º período
Aluna: Cristiane Maia Carvalho
Final da história : Venha ver o pôr do sol
Lygia Fagundes Telles
Raquel foi sentindo a total ausência de Ricardo . Gritou por um determinado tempo e sacudiu a portinhola com uma força que jamais imaginara ter . Mas a falta de ar consumiu por inteiro sua pessoa. Sua força foi se desfazendo com uma escultura na areia.
Sem recursos e sem companhia Raquel foi caindo aos poucos. Acreditando que a grande solução era acalmar-se e pedir a Deus que conseguisse apreciar seu último pôr do sol pela frincha da porta. Pois sua hora estava chegando.
Prof° Erivelto Reis
Aluna Diva da Silva
Geografia 1° período
Venha ver o pôr do sol ( Ligia Fagundes Telles ).
Parte final
Continuou com seus passos firmes, indiferente a toda paisagem pobre que ultrapassava. O negror da noite ia se intensificando a cada esquina e as imagens do desespero de Raquel, aos prantos, agora começava fixar em sua mente. Parou, por um instante, e olhou para trás como se estivesse sentindo a presença de alguém o seguindo, no entanto, não viu ninguém, jogou o que resta do cigarro no chão e seguiu seu caminho. Avistou a pensão onde morava e nesse mesmo instante começou a chover, pôs-se a correr ate chegar aos degraus da varanda.
Apoiando-se com a mão na maçaneta da porta, olhou para traz mais uma vez. A chuva agora mais forte cuidava para que as ruas ficassem deserta, angustiada e ofegante enxugou o rosto lentamente com uma das mãos e quando virou-se esbarrou em Dna Sarita proprietária da pensão.
- Noite chuvosa não?! Falou Dna Sarita fitando Ricardo com o habitual olhar de reprovação e completou:
- Não parece muito bem hoje... levantando-se apressadamente sem dizer nada seguiu para seu quarto e bateu a porta fortemente , seu quarto escuro e desarrumado o recebeu friamente e os clarões da tempestades revelava as poucas mobílias que ocupava o ambiente.
Sentou-se à beira da cama sem importar-se com a escuridão. Inquieto, deitou-se na cama e a cada clarão que iluminava o quarto a imagem de Raquel se refletia nas paredes. Levantou-se e dava repetidas volta em seu quarto, não conseguia dormir. Escutou batidas na porta, imaginando que fosse Dna Sarita mandou que fosse embora, pois só conseguia pensar em Raquel presa, sozinha naquele lugar fúnebre e sombrio. Pensando assim não hesitou saiu apressadamente da pensão.
Tempestades, relâmpagos e trovões parecia persegui-lo numa maratona interminável ate chegar ao cemitério, cujos portões estavam entre abertos. Chegando a capela e com ritmo reduzido, Ricardo chama pelo nome de Raquel varias vezes, desorientado em meio a escuridão sem fim Ricardo ouve o trovão forte daquela noite, que como um lampejo atravessa e estremece todo seu corpo, derrubando-o no chão
Assustado levanta-se, arrasta rapidamente encostando-se na parede, coloca a mão na cintura e lentamente levanta a mão ensanguentada. Ao tentar se apoiar toca algo que se revela no clarão da tempestade. É Raquel no chão morta, o desespero tomou conta de Ricardo que num desespero lançava um olhar enlouquecido para todas as direções, ate que num segundo, alguém o golpeia novamente e ele cai no chão.
Respiração fraca e olhar desesperado, Ricardo via surgir da escuridão, como a própria morte, uma figura, que apoia um dos seus joelhos a sua frente e como a voz rouca sussurra em seu ouvido
-Achou que vocês poderiam me enganar para sempre? O olhar de Ricardo se arregala de pavor.
- Foi fácil encontrá-los... são descuidados, todos os outros foram assim, e eu cuidei de todos. Por isso acabei com Raquel, mas é claro que sem sua ajuda seria difícil eu jamais imaginaria que você deixasse ela trancada para mim. Depois que saiu desta capela, entrei e acabei com tudo. Segui você ate seu quarto, bati na porta mas você não atendeu, então esperei pacientemente do lado de fora. E veja agora onde nos estamos.
- Sabe Ricardo cansei disso tudo, e meu dia chegou
Ao terminar de dizer tudo, o homem levantou-se, engatilhou a arma lentamente e conclui com um último disparo.
Trabalho de Oficina de Produção de Texto
Prof. Erivelto Reis
Aluna: Taynan Campos
1º Periodo de Matemática
Capela
E Raquel, então, percebe que seus gritos já não ultrapassam as grades que seu amado, preparou com zelo que a teve, e Raquel no seu desespero, tão logo se cala com seu olhar molhado suas mãos suadas que ao tempo vai se escorregando entre as grades do seu lamento... mansidão e porque não da morte ... morte que beija lentamente seu pescoço, o mesmo que pouco atrás ansiava pelo sussurro de sua malícia de menina . Para Raquel agora não importava se as folhas eram secas, ou se ainda havia lama em seus sapatos, pois ali, no chão da capela, com paredes entre rachadas, sombria no fundo do seu desespero, em meio à lembrança morgue está Raquel a espera de sua morte.
Aluna: Isabelle Brum e Silva
1° Período – Letras: Português e Literaturas
Matéria: Oficina de Produção de Textos
Professor: Erivelto Reis
Final Alternativo
As horas vão passando até que escurece e Raquel, percebendo que ninguém a ouviria por conta dos gritos dos animais, decide esperar pelo dia seguinte, sentindo-se mais calma ao ter a certeza de que Ricardo de fato se fora. O dia seguinte chega e com ele o cansaço de uma noite mal dormida bate em Raquel. Ela então se levanta e vai à portinhola enferrujada que Ricardo havia trancado e volta frustrada ao tentar, sem sucesso, quebrar a fechadura para que ela possa se libertar daquele lugar aterrorizante. A tarde vai chegando e Raquel ouve passos do lado de fora da catacumba; era Ricardo que havia voltado para atormentar aquela que ele considerava amar. Raquel, ao se deparar com Ricardo a observando, encara-o dizendo: “Seu estúpido, aqui estou melhor do que se estivesse ai fora com você”. Apesar de estar com medo de possíveis atitudes repentinas que Ricardo possa vir a tomar, Raquel se mantem firme e completa: “Eu nunca te amei e nunca te amarei; somente um idiota amaria seu igual. Só quero que você morra como a escória de sua laia, seu imprestável”.
Ricardo já não aparentava mais malícia ou ironia em seu olhar; pelo contrário, parecia um pouco transtornado pelas palavras duras de Raquel. Percebendo então que a situação estava ao seu favor, Raquel continua: “E sabe o por do sol, do qual tanto me insistiu para que eu visse? É eu vi, e achei uma porcaria, como você”. A noite já havia chegado novamente e Ricardo permanecia imóvel e abalado pela atitude repentina de sua amada, e num ato desesperado, crava a chave que libertaria Raquel em seu peito e, dirigindo-se a Raquel, joga a ela a chave já ensanguentada, diz então suas últimas palavras: “Pronto, ai está a chave do meu coração”, caindo morto em seguida no alto da escada, de olhos arregalados a observar Raquel por uma última vez.
Aluno: Carlos Alberto de Castro e Silva Jr.
1° Período – Letras - (Português/Literaturas) - Noite
Matéria: Oficina de Produção de Textos
Professor: Erivelto Reis
Parte final para o conto: Venha ver o pôr do sol (Lygia Fagundes Telles)
Do encanto do abandono na morte ao abandono na vida
Ricardo voltou ao cemitério, e disse: Como não és mais minha não serás de mais ninguém.
Agora não terás a intervenção dos vivos em tua vida, terás sim o abandono na morte! Hahahahaha..................
Raquel, desta vez, nem para gritar tem forças. Seus olhos desfalecendo acompanham Ricardo que vira as costas, ainda sorrindo, e não volta mais.
Mas o que Ricardo não esperava é que a dona da pensão onde morava espiava pelo buraco da fechadura mais do que ele imaginava.
As crianças brincando de roda não eram obra do acaso, e sim um plano dessa senhora para vigiar Ricardo e saber onde ele colocaria em prática os planos que ela ouvira pelo buraco da fechadura. Algum tempo depois de Ricardo chegar a casa, as crianças também chegaram e contaram o caminho feito por ele e que este havia deixado uma mulher presa no local. Assim a dona da pensão chamou a polícia, que libertou Raquel. Ela confirmou o ato praticado por Ricardo, que foi preso.
Raquel foi até a prisão onde Ricardo estava e disse: Viu Ricardo?! Você me deixou presa e agora quem está preso é você! Terás a estúpida intervenção dos vivos e sentirás o que é o abandono na vida. Isso te lembra alguma coisa? Vou embora, e ao contrário de você pouparei minhas risadas.
Faculdades Integradas Campo-grandenses
Disciplina: Oficina de Produção de Textos
Professor: Erivelto Reis
Aluna: Debora Rafaela Nunes da Silva
1° Período do Curso de Letras - Inglês - Noite
Vamos ver o pôr-do-sol - Final opcional
Autora: Lygia Fagundes Teles
Final de Raquel e Ricardo.
Neste clima sombrio e de suspense, Raquel encontra-se agora numa situação na qual ela não gostaria de estar, sentimentos de angústia, medo, raiva, paixão, tomam conta de suas expressões, sua voz agora embargada e desesperada não acredita na cilada em que ela foi posta.
Agora ela grita em tom de desespero enquanto Ricardo, friamente a deixa em seu cativeiro. Ela não pode acreditar em tamanha crueldade, pensava e indagava: "Será este aquele a quem amei, que convivi, que me conhece bem?" Ricardo não era muito certo das idéias, mas ele não poderia fazer algo tão horrível, afinal ela o conhecia, conviveu com ele por um ano viu muitas de suas facetas, mas não acreditava. Pede socorro! Grita ! Ninguém a ouve, nada. Afinal os mortos nada sabem.
Ricardo, tranquilamente, vai embora sente como se seu dever fosse cumprido. Conseguiu enfim resgatar seu amor e colocá-la num lugar onde só ele poderia vê-la, só ele saberia como encontrá-la. Para ele, Raquel é algo tão precioso que só ele poderia ter acesso a ela. Raquel está lá, não viva, mas está lá.
Débora Rafaela Nunes da Silva
FEUC
Profº : Erivelto Reis
Aluna Nelma Sampaio de Almeida Gomes
Curso: Licenciatura- Português e Literatura / 1º Período
Contos de Cemitério (O Pôr do Sol no Cemitério)
Ao ficar presa no cemitério, Raquel ficou muito triste, pois não sabia que Ricardo poderia ter tal reação.
Ricardo por sua vez usou de malícia e já tinha arquitetado (planejado), todo aquele ocorrido. Ele não teve dó nem piedade para se vingar de Raquel: por isso deixou morrer trancada ali naquele lugar medonho para sempre.
Ricardo deixou a amada para trás, gritando horrorizada com aquela situação desagradável.
Ele por sua vez saiu dali e foi viver sua vida normalmente (sem culpa).
FEUC – Fundação Educacional Unificada Campograndense.
Aluna: Sandra Flôres dos Santos Silva
Letras Português/Inglês
Período: 1
Prof.: Erivelto Reis
Oficina de Produção de Texto
Texto: Venha ver o pôr do sol de Lygia Fagundes Telles (1957)
Conclusão Particular:
Ricardo balança a chave fora do cemitério como um maníaco se deliciando com o desespero de sua vítima, presa no mausoléu, despede-se com sentimento de dever cumprido: a vingança.
Ouvindo os gritos de pavor de Raquel, as crianças que brincavam próximo, chamaram os pais, causando grande alvoroço no cemitério abandonado.
Logo trataram de contatar um chaveiro que salvou a moça do crepúsculo de horror.
Rio de Janeiro, 20 de Março de 2012.
Venha Ver o Pôr do Sol
TATIANA REIS – 1º PERÍODO – HISTÓRIA – MANHÃ
OFICINA DE PRODUÇÃO DE TEXTO – PROF. ERIVELTO REIS
Raquel, de dentro do jazigo, entra em desespero e a única coisa que passa pela sua cabeça é a sensação assustadora de esperar a morte chegar. Como num filme de suspense épico sua vida passa diante de seus olhos. Em meio às lagrimas que rolavam de angustia,ela sussurrando,repetia por inúmeras vezes que deveria ter feito tudo diferente, dado mais valor as coisas simples, menos supérfluo.
Impaciente, resolveu retornar até aquela foto da suposta prima de Ricardo limpando a camada de poeira sobre a foto que se fazia desbotada e quase solta por causa do tempo, caiu-lhe entre os pés um bilhete.
Raquel pegou a caixa de fósforos e começou a ler o bilhete que já estava quase se desfazendo por causa das lágrimas que rolavam do de seu rosto.
“Querida Raquel, quero lhe mostrar através dessa sensação única e devastadora, o verdadeiro sentido da vida, porque só quando estamos prestes a perdê-la é que percebemos isso. Espero que tenha entendido que verdadeiros valores estão naquilo que você carrega dentro de si e não nas coisas que a soberba e futilidade pode comprar. Reveja seus conceitos”.
Estou de volta ao topo, fiz um investimento oportuno e perfeito sou chefe na empresa a qual tenho seu companheiro como funcionário. Partirei.Espero que fique bem.
Raquel, desconcertada com tudo que acabara de ler aguça seu desespero, de repente percebe que no fim do bilhete existia um “pos scriptum”.
“Abra a gaveta que está embaixo da foto da minha “prima” e pegue a cópia da chave do cadeado, mas não se esqueça de sempre saber aproveitar a beleza do pôr do sol.”.
Ramayana Del Secchi - 1º período - Pedagogia - Noite
Oficina de Produção de Texto
Prof. Erivelto Reis
Ele se afastou lentamente com um sorriso pálido entre os lábios, um olhar enrugado e frio.
Com as
mãos trêmulas e úmidas exibiu a chave como um troféu.
–Entre
gritos, lamentos e gemidos ela relembrou
sua vida como um filme que passa repentino deixando saudades. Pediu perdão
a Deus pelos seus erros e omissões,
enquanto seu corpo amolecia.
Ele retornava pelo caminho, seus pés tocando a
lama pútrida que respingava de sua roupa, deixando marcas da sua crueldade
sem limites e de incontrolável loucura desvalida... Observou crianças brincando
de roda e desfez seu semblante pesado.
Sempre parecendo simpático, segue seu caminho. Na pensão, tomou um banho
demorado como se quisesse lavar e purificar sua alma na tentativa de minimizar
sua atrocidade.
Dentro
da noite fria e sombria, o passado o
atormenta com lembranças dos dias
ensolarados onde a felicidade
parecia ser infinita ao lado de Raquel.
Seus pensamentos o condenam e o sufocam pelos planos medíocres que antes o
perseguia e agora aponta-o como culpado. Tomado por uma estranha dor no peito,
se arrepende e resolve voltar ao cemitério.
Seus passos
rápidos rompem o silêncio da madrugada. Rosto suado, mãos trêmulas e respiração ofegante ele
corre, querendo voltar no tempo e rever seus planos.
–Raquel,
me perdoe! Raquel! Raquel! - Range o
velho portão, acende a lanterna, abre
cada gaveta não a encontra, se
desespera, grita, chora e não entende.
–Um
senhor se aproxima.
- Mas
quanto sentimento Ricardo? Perdeu alguém ?
- Seus olhos estremeceram, seu corpo enrijeceu, meio sem jeito, levantou
a cabeça sem saber o que fazer. .
– Quem
é você? –Algum tempo tenho seguido os passos dessa linda jovem.- Fui contratado pelo namorado de Raquel e
fiquei perplexo com sua artimanha. Pobre rapaz,
espero que nós próximos anos dentro da prisão você aprenda a
ser um pouco mais humano.
Raquel
aprendeu valores antes ignorados, e
partiu bem acompanhada para o oriente, para apreciar o pôr-do-sol
com a liberdade dos pássaros.