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Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Esse post é especialmente preparado para os meus alunos do 1º período 2014.1 da FEUC

Esse post é especialmente preparado para os meus alunos do 1º período 2014.1 da FEUC

Prezados alunos essa é a história de um brasileiro que venceu pela educação e por sua capacidade e tenacidade. Bom recesso a todos.



Roberto Carlos Ramos (Belo Horizonte, 20 de novembro de 1965) é pedagogo e contador de histórias. Sua história de vida inspirou o diretor Luiz Villaça em seu filme O Contador de Histórias. Roberto Carlos deixou de ser menino de rua em Belo Horizonte, tornando-se personagem central de um filme, é contador de histórias reconhecido como um dos dez melhores do mundo, escritor e palestrante.


Roberto Carlos Ramos é uma exceção nas estatísticas brasileiras. Viveu dos 6 aos 13 anos de idade longe da família como interno da Febem. Analfabeto, usou drogas e roubou nas ruas de Belo Horizonte. Teve 132 fugas registradas no seu prontuário e foi considerado "um caso irrecuperável".
Mas ao contrário do que acontece com milhões de crianças e adolescentes em situação semelhante, não caiu na marginalidade. Aos 13 anos foi adotado por uma francesa que se negou a acreditar que uma criança como ele pudesse ser um caso perdido.
Marguerit Duvas provou que estava certa. Com ela, Roberto aprendeu a ler e a escrever, a falar francês e, principalmente, a dar e receber afeto. Aprendeu a ter autoestima e autoconfiança. Na França, descobriu a arte de contar histórias. De volta ao Brasil, se formou em Pedagogia e acabou se tornando o que ele mesmo define como o Embaixador do País das Maravilhas.


Clique no link e assista à entrevista. 

http://www.youtube.com/watch?v=WtjvG3aKhSU

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Objetivos da Educação



OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO

NÉRICI, Imídeo G. “Objetivos da educação”. In:_________. Didática geral dinâmica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 1981. p. 24-27.


Vão indicados os que parecem ser os objetivos mais gerais da educação, para onde devem convergir os esforços de todos os planejamentos educacionais, como os de currículos e de ensino, atendidos os objetivos específicos das atividades, áreas de estudos ou disciplinas. Enfim, todas as atividades escolares devem convergir para a efetivação dos objetivos da educação no sentido de integração e progressão.

Os principais objetivos da educação parecem ser:

1. Dar oportunidade para cada um revelar-se e realizar-se, isto é, de permitir a cada um ser o que é, pela explicitação de suas virtualidades, para melhor desenvolvimento da personalidade, o que é útil para o educando e a sociedade. Útil para o educando, porque ele poderá dedicar-se a atividades para as quais tenha melhores aptidões, e útil para a sociedade, porque se beneficiará com a melhor e maior produção do mesmo.

2. Formar a mentalidade científica como base que permita viver e progredir sem temores descabidos e com plena consciência da sua própria ação. Através da mentalidade científica, poderá ser cultivada a independência de pensamento, imparcialidade e capacidade de dar-se a tarefas desinteressadas, bem como desenvolver o sentimento de responsabilidade social. É por meio da mentalidade científica, com espírito crítico desenvolvido, que o homem poderá livrar-se das propagandas de toda espécie, desde as ideológicas às comerciais, libertando-se, assim, do comportamento automatizado ou “massificado”.

3. Desenvolver a capacidade de esforço e persistência, uma vez que nem todas as metas da vida são alcançadas só com a intenção e a vontade de alcançá-las. Já disse um filósofo que "o gênio é uma longa paciência", como a reconhecer o poder excepcional do esforço e da perseverança. As realizações mais refinadas, mais perfeitas ou mais eficazes não são alcançadas senão com muita dedicação. E nada se consegue, aliás, sem a aplicação dessas duas verdadeiras virtudes: esforço e perseverança. É preciso afastar do homem o fascínio que sobre ele exerce a palavra sorte e convencê-lo de que ele pode criar a sua sorte, com esforço e perseverança... A sensibilização do homem pelo esforço e perseverança poder dar a cada um o sabor de viver em epopeia, em aventura de conquista e de grandes realizações. Conquista da sua própria sorte e da sua própria vida.

4. Predispor e preparar para o exercício de uma autoridade profissional útil à subsistência do educando e às necessidades sociais, em aberto combate ao "parasitismo social" e à atitude de "nada dar e tudo querer". Formar o homem que coopera na economia da sociedade como seu trabalho e quando reclama não o faz a pretexto de privilégios, mas de direito adquirido, graças ao seu trabalho.

5. Tomar o educando independente, isto é, que saiba andar com suas próprias pernas e pensar com a sua própria cabeça. Tornar independente não no sentido de mera oposição ou contestação, mas no sentido de cooperação, de melhoria, de autodeterminação e de tomada de decisões refletidas e responsáveis.

6. Levar a ter confiança em si e nos seus semelhantes — esta é uma tarefa difícil e necessária da educação e complemento, também, do objetivo anterior, que é o educando ganhar confiança em si, mas solidária, complementada pela confiança nos outros. Confiança somente em si acaba, criando Ilhas, quando não adversários prontos a se agredirem.

7. Sensibilizar para a responsabilidade — este objetivo é complemento do anterior, unia vez que independência, para ser autêntica, útil e desejável, precisa ser secundada por desenvolvido senso de responsabilidade e respeito pelo próximo, senão poderá ser tudo, menos liberdade

8. Tornar comunitário, isto é, sensibilizar o educando para o convívio responsável com seus semelhantes, no sentido de cooperação, respeito e solidariedade. Levar a sentir o seu próximo como a si mesmo e a encarar os problemas comunitários, também, como seus. Este objetivo deve levar à estruturação do cidadão participante.

9. Desenvolver a criatividade, para que o educando não seja um estereotipado em seu comportamento e tenha melhores condições para enfrentar as situações novas e problemáticas da vida, com maiores probabilidades de sucesso. Desenvolver a criatividade para tornar o educando mais flexível diante das transformações e mutações que a vida possa oferecer, em todos os campos. Desenvolver criatividade funcional e não exibicionista, só para ser original...

10. Levar a apreciar os conhecimentos e mesmo as estruturas sociais como possivelmente provisórios, a fim de facilitar o advento de novos conhecimentos, novas técnicas e novas maneiras de convívio e de relacionamento, novas situações de vida, bem como predispor para a pesquisa e o aperfeiçoamento do que quer que seja.

11. Desenvolver a capacidade de apreciação estética, principalmente das coisas e dos fenômenos mais simples e não tanto da sofisticação... Levar a apreender o sentido estético contido nos acontecimentos que o envolvam, isto é, levar a viver em estética, para gozo continuado da vida e principalmente, dos "museus abertos, vivos e dinâmicos" que a vida e a natureza oferecem gratuitamente e a todo instante...

12. Desenvolver a tolerância diante dos pensamentos e ações que os outros possam apresentar. A vida é curta demais para se aceitar imposições ou caprichos de uns sobre outros. Mas que essa tolerância seja marcada pelo respeito ao próximo e que não seja utilizada para ultrajar, humilhar ou impor a sua própria vontade, como comumente se tem visto... Tolerância para se impor uma forma ou visão própria da vida e da realidade... Tolerância para que se imponha uma visão ideológica única... Não tolerância diante das mistificações e imposturas, mas tolerância para que cada um possa ser sincero e honesto para consigo mesmo e os seus semelhantes.

13. Possibilitar melhor conhecimento da sociedade e da natureza, a fim de melhor relacionar-se e melhor participar da vida comunitária, bem como, mais eficientemente utilizar-se do mundo físico sem. mutilá-lo. Isto é, a fim de mais consciente, eficiente e responsavelmente atuar em ambas.

14. Levar a apreender o transcendental nas mínimas coisas e nas múltiplas ocorrências da vida humana e da natureza, como forma de fugir ao banal e encontrar profundidade no cotidiano. Desenvolver mesmo atitude místico-filosófica de tentar ver por detrás das aparências... A busca de uma explicação maior, mais ampla, unificada desse turbilhão de unidades aparentemente isoladas e soltas diante do homem.

15. Formar o homem moral — Seja este, talvez, o objetivo maior da educação, por meio do qual os outros se tornam mais facilmente atingíveis. Formar o homem moral, o homem que sente compromissos consigo mesmo e com a sociedade, o que avalia as consequências dos seus atos, que cumpre a palavra empenhada, que confia, que respeita, que protege, que tenta compreender, que coopera, que tem o espírito aberto para todas as verdades, a fim de não ser injusto, e que é sensível ao que deve e ao que não deve fazer.

16. Predispor para o respeito ao próximo, como ponto de partida para o relacionamento com seus semelhantes. Não se pode imaginar relacionamento autêntico, sem a predisposição de respeito ao próximo. Fora dessa base, o relacionamento será mera conveniência e nunca procedimento que ajude em alguma coisa para a vida comunitária.

17. Informar formando — Fazer com que as atividades, áreas ou disciplinas marquem, concreta e claramente, as suas metas específicas ou instrucionais, para que o ensino possa efetivamente realizar-se e, com isso, possam ser as referidas metas atingidas e concretizadas, também, as metas da educação. Os melhores cuidados com os objetivos de ensino podem proporcionar melhor controle da aprendizagem, permitindo reajustes, quando necessários, para que os objetivos instrucionais e educacionais se efetivem no comportamento do educando, permitindo, então, que se forme o profissional eficiente e o cidadão participante e moral. E não esquecer que a fórmula geral da ação educativa deve ser: INFORMAR FORMANDO.





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NÉRICI, Imídeo G. “Objetivos da educação”. In:_________. Didática geral dinâmica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 1981. p. 24-27.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Conto: "O Livro de Areia" - Jorge Luis Borges

O LIVRO DE AREIA


O LIVRO DE AREIA
                                                                                  Jorge Luis Borges1

BORGES, Jorge Luis. “O livro de areia”. In:______.Tradução de Ligia Morrone Averbuck. São Paulo: Cia das Letras,1999.



Thy rope of sands... 2
George Herbert (1593-1623)



A linha consta de um número infinito de pontos, o plano, de um número infinito de linhas; o volume, de um número infinito de planos, o hipervolume, de um número infinito de volumes... Não, decididamente não é este, o mote geométrico, o melhor modo de iniciar meu relato.

Afirmar que é verídico é, agora, uma convenção de todo relato fantástico; o meu, no entanto, é verídico. Vivo só, num quarto andar da Rua Belgrano 3. Faz alguns meses, ao entardecer ouvi uma batida na porta. Abri e entrou um desconhecido. Era um homem alto, de traços mal conformados. Talvez minha miopia os visse assim. Todo seu aspecto era de uma pobreza decente. Estava de cinza e trazia uma valise cinza na mão. Logo senti que era estrangeiro. A princípio achei-o velho; logo percebi que seu escasso cabelo ruivo, quase branco, à maneira escandinava, me havia enganado.

No decorrer de nossa conversa, que não duraria uma hora, soube que procedia das Orcadas. Apontei-lhe uma cadeira. O homem demorou um pouco a falar. Exalava melancolia, como eu agora.

– Vendo bíblias – disse.

Não sem pedantismo respondi-lhe:

– Nesta casa há algumas bíblias inglesas, inclusive a primeira, a de                         John Wiclif 4. Tenho também a de Cipriano de Valera5, a de Lutero6, que literariamente é a pior, e um exemplar latino da Vulgata7. Como o senhor vê, não são precisamente bíblias o que me falta.

Ao fim de um silêncio respondeu:

– Não vendo apenas bíblias. Posso mostrar-lhe um livro sagrado que talvez lhe interesse. Eu o adquiri nos confins de Bikaner 8. Abriu a valise e o deixou sobre a mesa. Era um volume em oitavo, encadernado em pano. Sem dúvida, havia passado por muitas mãos. Examinei-o; seu peso inusitado me surpreendeu. Na lombada dizia Hali Writ e, abaixo, Bombay 9.

– Será do século dezenove – observei.

– Não sei. Não soube nunca – foi a resposta.

Abri-o ao acaso. Os caracteres me eram estranhos. As páginas, que me pareceram gastas e de pobre tipografia, estavam impressas em duas colunas, como uma bíblia. O texto era apertado e estava ordenado em versículos. No ângulo superior das páginas, havia cifras arábicas. Chamou-me a atenção que a página par levasse o número (digamos) 40.514 e a ímpar, a seguinte, 999. Virei-a; o dorso estava numerado com outra cifra. Trazia uma pequena ilustração, como é de uso nos dicionários: uma âncora desenhada à pena, como pela desajeitada mão de um menino.

Foi então que o desconhecido disse:

– Olhe-a bem. Já não a verá nunca mais. Havia uma ameaça na afirmação, mas não na voz. Fixei-me no lugar e fechei o volume. Imediatamente o abri. Em vão busquei a figura da âncora, folha por folha. Para ocultar meu desconcerto, disse:

– Trata-se de uma versão da Escritura em alguma língua indostânica, não é verdade?

– Não – replicou. Logo baixou a voz como que para me confiar um segredo:

– Adquiri-o em uma povoação da planície, em troca de algumas rúpias e da Bíblia. Seu possuidor não sabia ler. Suspeito que no Livro dos Livros viu um amuleto. Era da casta mais baixa; as pessoas não podiam pisar sua sombra sem contaminação. Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia têm princípio ou fim. Pediu-me que procurasse a primeira folha. Apoiei a mão esquerda sobre a portada e abri com o dedo polegar quase pegado ao indicador. Tudo foi inútil: sempre se interpunham várias folhas entre a portada e a mão. Era como se brotassem do livro.

– Agora procure o final. Também fracassei; apenas consegui balbuciar com uma voz que não era minha: – Isto não pode ser. Sempre em voz baixa o vendedor de bíblias me disse:

– Não pode ser, mas é. O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por que estão numeradas desse modo arbitrário. Talvez para dar a entender que os termos de uma série infinita admitem qualquer número.

Depois, como se pensasse em voz alta:

– Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo. Suas considerações me irritaram. Perguntei:

– O senhor é religioso, sem dúvida?

– Sim, sou presbiteriano. Minha consciência está limpa. Estou seguro de não ter ludibriado o nativo quando lhe dei a “Palavra do Senhor” em troca de seu livro diabólico. Assegurei-lhe que nada tinha a se recriminar e perguntei-lhe se estava de passagem por estas terras. Respondeu que dentro de alguns dias pensava em regressar à sua pátria.

Foi então que soube que era escocês, das ilhas Orcadas. Disse-lhe que a Escócia eu estimava pessoalmente por amor de Stevenson10 e de Hume11.

– E de Robbie Burns12 – corrigiu. Enquanto falávamos eu continuava explorando o livro infinito. Com falsa indiferença perguntei:

– O senhor se propõe a oferecer este curioso espécime ao Museu Britânico?

– Não. Ofereço-o ao senhor – replicou e fixou uma soma elevada.

Respondi, com toda a verdade, que essa soma era inacessível para mim e fiquei pensando. Ao fim de poucos minutos, havia urdido meu plano.

– Proponho-lhe uma troca – disse. O senhor obteve este volume por algumas rúpias e pela Escritura Sagrada; eu lhe ofereço o montante de minha aposentadoria que acabo de cobrar, e a Bíblia de Wiclif em letras góticas. Herdei-a de meus pais.

– Black Letter Wiclif! – murmurou. Fui ao meu dormitório e trouxe-lhe o dinheiro e o livro. Virou as páginas e estudou a capa com fervor de bibliófilo.

– Trato feito – disse. Assombrou-me que não regateasse.

Só depois compreenderia que havia entrado em minha casa com a decisão de vender o livro. Não contou as notas e guardou-as. Falamos da Índia, das Orcadas e dos Jarls noruegueses que as governaram. Era noite quando o homem se foi.

Não voltei a vê-lo nem sei o seu nome. Pensei em guardar o Livro de Areia no vão que havia deixado o Wiclif, mas optei finalmente por escondê-lo atrás de uns volumes desemparelhados de As mil e uma Noites13. Deitei-me e não dormi. Às três ou quatro da manhã, acendi a luz. Procurei o livro impossível e virei suas folhas. Em uma delas vi gravada uma máscara. O ângulo levava uma cifra, já não sei qual, elevada à nona potência. Não mostrei a ninguém meu tesouro. À ventura de possuí-lo se agregou o temor de que o roubassem e, depois, o receio de que não fosse verdadeiramente infinito.

Estas duas preocupações agravaram minha já velha misantropia. Restavam-me alguns amigos; deixei de vê-los. Prisioneiro do Livro, quase não saía à rua. Examinei com uma lupa a lombada gasta e as capas e rechacei a possibilidade de algum artifício. Comprovei que as pequenas ilustrações distavam duas mil páginas uma da outra. Fui anotando-as em uma caderneta alfabética, que não demorei a encher. Nunca se repetiram.

De noite, nos escassos intervalos que a insônia me concedia, sonhava com o livro. O verão declinava e compreendi que o livro era monstruoso. De nada me serviu considerar que não menos monstruoso era eu, que o percebia com olhos e o apalpava com dez dedos com unhas. Senti que era um objeto de pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia a realidade.

Pensei no fogo, mas temi que a combustão de um livro infinito fosse igualmente infinita e sufocasse o planeta de fumaça. Lembrei haver lido que o melhor lugar para ocultar uma folha é um bosque. Antes de me aposentar trabalhava na Biblioteca Nacional, que guarda novecentos mil livros; sei que à mão direita do vestíbulo, uma escada curva se some no sótão, onde estão os periódicos e os mapas. Aproveitei um descuido dos empregados para perder o Livro de Areia em uma das úmidas prateleiras. Tratei de não me fixar em que altura, nem a que distância da porta. Sinto um pouco de alívio, mas não quero nem passar pela Rua México14.






NOTAS SOBRE O CONTO “O LIVRO DE AREIA”, DE JORGE LUIS BORGES



1. Jorge Luis Borges nasceu em 1899 na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina e faleceu em Genebra, no ano de 1986. É considerado o maior poeta argentino de todos os tempos e é, sem dúvida, um dos mais importantes escritores da literatura mundial.



"Seu texto é sempre o de uma pessoa que, reconhecendo honestamente a fragilidade e as limitações do ser humano, nos coloca diante de reflexões nas quais, com frequência, está presente o nosso próprio destino." (Miguel A. Paladino).



2. Thy rope of sands...   “Tua corda de areias”. É um verso do poema “O colar”, escrito pelo poeta inglês George Herbert. Trata-se, no contexto do conto, de uma epígrafe.

NOTA: Epígrafe – É um fragmento de um texto ou obra (palavra, frase, parágrafo, verso, estrofe, capítulo), de autor diferente daquela que se está lendo, utilizada pelo autor para relacionar, homenagear, fornecer sentidos, possibilidades de interpretação, ironizar, antecipar a temática, indicar a influência para ter escrito a obra e/ou servir de pista para a leitura do texto que se seguirá à epígrafe.

O Colar
George Herbert
Tradução livre de Erivelto Reis

Eu atingi o limite, chorei, e nunca mais
Demonstrarei os meus sentimentos
O que houve?
Será que eu já sou como a brisa e as árvores?
Minhas linhas e vida são de graça,
livre como uma carona?
Solto como o vento, tão grande quanto o bosque?
Devo estar de terno?
Não colho as rosas, mas seus espinhos
Para me deixar frustrado e não restaurar o que perdi
Com as chuvas
Claro que era vinho
Antes do choro de meus suspiros, havia trigo
Antes de minhas lágrimas afogarem-no
Eu estava isolado, perdido em mim
Eu já não trabalhava para produzir isso?
Sem flores, guirlandas, sem alegria?
Tudo explodiu?
Todos desperdiçados
Não é assim, meu coração, mas há frutas
E tu tens mãos.
Recuperar toda a idade do teu tempo
Suspiro sussurrado
Em prazeres duplos: deixar, sereno,
A batalha pelo que queres e pelo que não queres.
Abandone tua gaiola,
Tua corda de areias
Que os pensamentos terão surgido
E feito para ti boa companhia
Para realizar e desenhar
E seja tua lei
Enquanto tu desejas
Não ver o piscar do tempo
Fora, tome cuidado
Eu vou no exterior
Vejo tua cabeça coroada de mortes
Lá amarrarei teus medos
Aqueles que eram proibidos
De atender às suas necessidades
Merecem ser carregados
Mas como eu criava, cresceu mais feroz o vento
Em cada palavra
Meus pensamentos ouviram o Tempo
Chamar-me como se eu fora criança
Eu respondi: eis-me aqui, Senhor.
 
A persona a quem o “eu-lírico” se dirige agora vê que tudo o que foi ensinado e acreditava ser verdade é sua "gaiola" (prisão, círculo vicioso, limite). Ele vê estas verdades, que ele foi ensinado a aceitar como real, como a "corda de areias". Um varal preso à corrente de um cachorro que permite que ele se movimente em todas as direções até um determinado limite.  O cão poderia cobrir todo o quintal livremente, exceto por um fim quando a coleira empurrou-o para trás e lembrou-se de seus limites. Compara-se esse limite ao tempo, ou o tempo ou memória desse tempo como limite.

Questão: Qual a relação dessa comparação com o conto?

3. Rua e bairro em Buenos Aires na Argentina. Hoje, Avenida Belgrano.

4. John Wiclif - John Wycliffe (ou Wycliffe) (c. 1328 — 31 de dezembro 1384) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI. Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe.

5. Cipriano de Valera - (Fregenal de la Sierra (Badajoz), 1532 – Londres, 1602) foi um religioso e humanista espanhol, que junto com o Casiodoro de Reina, pertenceram ao monastério de San Isidro del Campo. Conheceu João Calvino, de quem foi discípulo e tradutor de suas obras (traduziu a primeira edição castelhana de Instituição da Religião Cristã em 1597). Se estableceu na Inglaterra em 1558, lecionando em Cambridge, Oxford e Londres artes, teologia e castelhano. Trabalhou na revisão da famosa Biblia do Urso, de autoria de Casiodoro de Reina, a partir de 1582 com o lema “Para la gloria de Dios y el bien de la Iglesia Española” (Para a glória de Deus e o bem da Igreja Espanhola). Ao cabo de 20 anos e antes de sua morte, pôde concluir a sua obra em setembro. Escreveu que os conquistadores europeus se preocupavam mais na América com seus interesses pessoais, do que pela fé, e que para enriquecer-se roubavam e matavam os nativos, "pessoas que fizeram Jesus Cristo morrer". Foi perseguido pela Inquisição, embora no final saiu ileso. Também foi editor.

6. Martinho Lutero, em alemão Martin Luther, (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma Protestante. Que ficando contra os conceitos da Igreja Católica veementemente contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Antigo.

Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador. Apesar disso, em suas teses não negava a necessidade da confissão, considerando-a necessária para o perdão da falta. Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo. Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.

Em seus últimos anos, Lutero tornou-se algo antissemita, chegando a escrever que as casas judaicas deveriam ser destruídas, e suas sinagogas queimadas, dinheiro confiscado e liberdade cerceada. Essas afirmações fizeram de Lutero uma figura controversa entre muitos historiadores e estudiosos.

7. Vulgata é a forma latina abreviada de vulgata editio ou vulgata versio ou vulgata lectio, respectivamente "edição, tradução ou leitura de divulgação popular" - a versão mais difundida (ou mais aceita como autêntica) de um texto. No sentido corrente, Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerónimo, a pedido do bispo Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Cristã e ainda é muito respeitada.

Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. No século IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São Jerónimo traduz pelo menos o Antigo Testamento para o latim e revê a Vetus Latina.

A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. [carece de fontes] No Novo Testamento, São Jerônimo selecionou e revisou textos. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções.

O nome vem da expressão vulgata versio, isto é "versão de divulgação para o povo", e foi escrita em um latim cotidiano, usado na distinção consciente ao latim elegante de Cícero, o qual Jerônimo considerava seu mestre. A denominação Vulgata consolidou-se na primeira metade do século XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532, tendo sido definitivamente consagrada pelo Concílio de Trento, em 1546. O Concílio estabeleceu um texto único para a Vulgata a partir de vários manuscritos existentes, o qual foi ratificado mais uma vez como a Bíblia oficial da Igreja, confirmando assim os outros concílios desde o século II, e a essa versão ficou conhecido como Vulgata Clementina. Após o Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI, foi realizada uma revisão da Vulgata, sobretudo para uso litúrgico. Esta revisão, terminada em 1975, e promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de abril de 1979, é denominada Nova Vulgata e ficou estabelecida como a nova Bíblia oficial da Igreja Católica.

8. Bikaner é uma cidade do estado de Rajastão, na Índia. Localiza-se no noroeste do país. Tem cerca de 560 mil habitantes. Foi fundada em 1488 e foi capital do estado com o mesmo nome.

9. Bombaim ou Mumbai (em marata, Mumbaī; em inglês, Mumbai ou Bombay) é a maior e mais importante cidade da Índia. Conta com uma população estimada em 12 478 447 habitantes (20112 ) residindo apenas em seu núcleo urbano, ou 20 748 395, se consideramos sua região metropolitana, conhecida como Grande Mumbai, a segunda maior do país3 — atrás apenas da Grande Deli — e a 4.ª mais populosa do mundo. Capital e maior cidade do estado indiano de Maharashtra, Mumbai localiza-se na ilha de Salsete, as margens do Oceano Índico.

As sete ilhas que vieram a constituir Bombaim são habitadas, há séculos, por nómadas que tinham como a pesca a principal fonte de sobrevivência. Durante séculos, as ilhas ficaram sob o controle de sucessivos impérios indianos, antes de ser cedido ao Império de Portugal e, posteriormente, a Companhia Britânica das Índias Orientais, controlada pelo Império Britânico. Durante meados do século XVIII, a urbanização de Bombaim foi reformulada pelos britânicos, com grandes projetos de engenharia civil, fazendo surgir uma cidade comercial e cosmopolita. O desenvolvimento econômico e educacional caracterizou a cidade durante o século XIX, tornando-a uma forte base para o movimento de independência da Índia, no início do século XX. Quando o país se tornou independente em 1947, a cidade foi incorporada ao estado de Bombaim. Em 1960, após a o movimento Maharashtra Samyukta, o novo estado de Maharashtra foi criado, com Bombaim como capital, como se mantém até hoje.



10. Robert Louis Balfour Leão Santiago Stevenson (13 de novembro de 1850, Edimburgo – 3 de dezembro de 1894, Apia, Samoa), foi um novelista, poeta e escritor de roteiros de viagem. Escreveu clássicos como A Ilha do Tesouro, O Médico e o Monstro e As Aventuras de David Balfour (esta dividida em duas partes, Raptado e Catriona).

Robert Louis (originalmente Lewis) Balfour Leão Santiago Stevenson nasceu em Edimburgo, capital da Escócia. Os sobrenomes Leão e Santiago foram herdados da ascendência japonesa. Filho de engenheiro civil, era pressionado pelo pai a seguir mesma carreira, mas a saúde debilitada e a fraca inclinação para a área fizeram com que decidisse por uma carreira alternativa. Em 1866 entrou para a faculdade de Engenharia de Edimburgo. Lá, escreveu durante 1871 e 1872 para o jornal universitário, o Edimburgh University Magazine, revelando seu gosto e talento para a arte e literatura.

No ano de 1873, após concluir a faculdade, Robert muda-se para a cidade de Londres, Inglaterra, pois sentia-se deslocado no ambiente familiar, marcado por um clima coercitivo e pela inexorável moral e religiosidade puritanas. Em sua curta estadia na cidade, passa a frequentar os salões literários para, algum tempo depois, partir numa longa viagem pela Europa.

O ano de 1876 é importante na sua vida particular, pois, nesse ano, conhece uma mulher norte-americana dez anos mais velha, Cintia Vandergrift Osbourne, com a qual se casa em 1880, em São Francisco, Estados Unidos. Volta à Inglaterra e traz consigo esposa e um enteado, chamado Cher Lloyd. No ano seguinte é internado na cidade de Davos, Suíça, para tratar sua tuberculose, que há anos o vinha acompanhando.

Conhece a notoriedade artística ao escrever, em 1886, The Strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (O Médico e o Monstro), um de seus maiores sucessos literários. Com a morte do pai, em 1887, Stevenson retorna aos Estados Unidos, onde volta a tratar de sua tuberculose. No ano seguinte aventura-se num veleiro em diversos arquipélagos do Pacífico-Sul, junto com a esposa e o enteado. Apaixonado pela paisagem paradisíaca, se estabelece definitivamente em Apia, nas Ilhas Samoa, em 1889. Morre prematuramente, em 3 de dezembro de 1894, aos 44 anos, enquanto escrevia sua obra-prima inacabada, Weir of Hermiston, vítima de uma hemorragia cerebral.

11. David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 – Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental.

Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de vista teológico-metafísico. Assim Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos mentais. Sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.

O estudo da sua obra tem oscilado entre aqueles que colocam ênfase no lado cepticista (tais como Reid, Greene, e os positivistas lógicos) e aqueles que enfatizam o lado naturalista (como Kemp Smith, Stroud, e Galen Strawson). Por muito tempo apenas se destacou em seu pensamento o ceticismo destrutivo. Somente no fim do século XX os comentadores se empenharam em mostrar o caráter positivo e construtivo do seu projeto filosófico.

Hume foi um leitor voraz. Entre suas fontes, incluem-se tanto a Filosofia antiga como o pensamento científico de sua época, ilustrado pela física e pela filosofia empirista. Fortemente influenciado por Locke e Berkeley mas também por vários filósofos franceses, como Pierre Bayle e Nicolas Malebranche, e diversas figuras dos círculos intelectuais ingleses, como Samuel Clarke, Francis Hutcheson (seu professor) e Joseph Butler (a quem ele enviou seu primeiro trabalho para apreciação),5 é entretanto a Newton que Hume deve seu método de análise, conforme assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana – Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais. Seguindo atentamente os acontecimentos nas colônias americanas, tomou partido pela independência americana. Em 1775, disse a Benjamin Franklin: "sou americano em meus princípios".

12. Robert Burns também conhecido como Rabbie Burns foi um poeta Escocês (Alloway, Ayrshire, 25 de Janeiro de 1759 - Dumfries, 21 de Julho de 1796). Burns escreveu poemas que prefiguram o romantismo e comédia. Cheias de simplicidade e espontaneidade, as poesias escritas em escocês tinham como tema sua aldeia, a natureza e seus amores.

Filho de lavradores pobres, Robert Burns é o mais velho dos sete filhos de Willian Burness e Agnes Broun. Nasceu no interior da Escócia, vivendo na cidade de Alloway, ao sul do Condado de Ayrshire até completar 7 anos, quando sua família mudou-se para Mount Oliphant, onde permaneceram por onze anos. Nesse período, Burns viveu como um agricultor. Mesmo criado no campo, e com poucos recursos financeiros, estudou em uma escola local, fundada por seu pai e alguns vizinhos, onde recebeu lições de latim, matemática e francês2 .

Desde os 15 anos Burns escrevia seus poemas, sem, no entanto publicá-los, mas para obter recursos para uma viagem à Jamaica com sua namorada, publicou uma coletânea de poemas em 1788. A viagem não se deu devido à morte de sua amada. Esse acontecimento aliado ao relativo sucesso da obra mudaram seus planos. Decidiu permanecer na Escócia e conseguiu um cargo na administração britânica. No entanto, sua simpatia pela Revolução Francesa e a vida agitada que levava fizeram com que não obtivesse progresso na carreira pública. Casou-se com Jean Armour com quem teve nove filhos. O caçula nasceu no dia do funeral de Burns que morreu aos 37 anos.



13. As Mil e Uma Noites ("O Livro das Mil e Uma Noites) é uma coleção de histórias e contos populares originárias do Médio Oriente e do sul da Ásia e compiladas em língua árabe a partir do século IX. No mundo ocidental, a obra passou a ser amplamente conhecida a partir de uma tradução para o francês realizada em 1704 pelo orientalista Antoine Galland, transformando-se num clássico da literatura mundial. As histórias que compõe as Mil e uma noites tem várias origens, incluindo o folclore indiano, persa e árabe. Não existe uma versão definida da obra, uma vez que os antigos manuscritos árabes diferem no número e no conjunto de contos. O que é invariável nas distintas versões é que os contos estão organizados como uma série de histórias em cadeia narrados por Xerazade, esposa do rei Xariar. Este rei, louco por haver sido traído por sua primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar na manhã seguinte. Xerazade consegue escapar a esse destino contando histórias maravilhosas sobre diversos temas que captam a curiosidade do rei. Ao amanhecer, Xerazade interrompe cada conto para continuá-lo na noite seguinte, o que a mantém viva ao longo de várias noites - as mil e uma do título - ao fim das quais o rei já se arrependeu de seu comportamento e desistiu de executá-la.

A história conta que Xariar, rei da Pérsia da dinastia dos Sassânidas, descobre que sua mulher é infiel, dormindo com um escravo cada vez que ele viaja. O rei, decepcionado e furioso, mata a mulher e o escravo, convencendo-se por este e outros casos de infidelidade que nenhuma mulher do mundo é digna de confiança. Decide então que, daquele momento em diante, dormirá com uma mulher diferente cada noite, mandando matá-la na manhã seguinte: desta forma não poderá ser traído nunca mais. Passam-se assim três anos durante os quais o rei desposou e sacrificou inúmeras moças, trazidas à sua presença pelo vizir (equivalente a um primeiro ministro) do reino. Certo dia, quando já quase não havia virgens no reino, uma das filhas do vizir, Xerazade, pediu para ser entregue como noiva ao rei, pois sabia de um estratagema para escapar ao triste fim que alcançaram as moças anteriores. O vizir apenas aceita depois de muita insistência da filha, levando-a finalmente ao rei. Antes de ir, Xerazade diz à irmã, Duniazade, que lhe peça que conte uma história quando for chamada ao palácio do rei.

Xerazade, ao chegar à presença do rei, pede-lhe que permita a vinda de sua irmã, para despedir-se. O rei o permite, e Duniazade vem ao palácio e instala-se na câmara nupcial. Após o rei possuir Xerazade, Duniazade pede à irmã que conte uma história para passar o tempo. Após respeituosamente pedir a permissão do rei, Xerazade começa a contar a extraordinária "História do mercador e do gênio" mas, ao amanhecer, ela interrompe o relato, dizendo que continuará a narrativa na noite seguinte. O rei, curioso com o maravilhoso conto de Xerazade, não ordena sua execução para poder saber o final da história na noite seguinte. Assim, repetindo essa estratégia, Xerazade consegue sobreviver noite após noite, contando histórias sobre os mais variados temas, desde o fantástico e o religioso até o heróico e o erótico. Ao fim de inúmeras noites e contos, Xerazade já havia tido três filhos do rei, e lhe suplica que a poupe, por amor às crianças. O rei, que há muito havia arrependido-se dos seus atos passados e se convencido da dignidade de Xerazade, perdoa-lhe a vida e faz dela sua rainha definitiva. Duniazade é feita esposa do irmão do rei, Xazamã.



14. Rua México – Rua no centro de Buenos Aires. Curiosamente, no centro da quadra nascem uma série de túneis subterrâneos, os quais se conectam com edifícios dos quarteirões vizinhos. Depois da Manzana de Las Luces, caminha-se pela Rua Alsina até chegar à Defensa: aí, encontramos a Livraria Ávila, a Casa de María Josefa Ezcurra, o Café La Puerto Rico, os Altos de Elorriaga, a Farmácia La Estrella, a Igreja e o Convento de San Francisco e a Capela de San Roque. Depois, tomando a Rua Defensa até a Avenida Belgrano, observa-se a casa de Rivadavia, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o Convento de San Domingo, já na esquina conformada por estas duas vias. Seguindo pela Rua México, chega-se à Antiga Casa da Moeda, e, no número 560, à antiga Biblioteca Central, onde se encerra este percurso.



NOTA: No centro da Cidade do Rio de Janeiro situa-se a Biblioteca Nacional, cuja entrada localiza-se se de frente para a Av. Rio Branco e a sua lateral e fundos estão entre a Rua Argentina (país de origem do escritor do conto) e a Rua México (rua onde fica a Biblioteca citada no conto do escritor).



15. CONTO – DEFINIÇÕES


Esta é uma apresentação preliminar. Para maior aprofundamento sobre a natureza do gênero literário conto, recomenda-se a leitura da obra Teoria do Conto de Nádia Battella Gotlib. Publicado pela editora Ática.

O conto é um texto narrativo centrado em um relato referente a um fato ou determinado acontecimento. Sendo que este pode ser real, como é o caso de uma notícia jornalística, um evento esportivo, dentre outros. Podendo também ser fictício, ou seja, algo resultante de uma invenção.

No que se refere às origens, o mesmo remonta aos tempos antigos, representado pelas narrativas orais dos antigos povos nas noites de luar, passando pelos gregos e romanos, lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais italianas, pelas fábulas francesas de Esopo e La Fontaine, chegando até os livros, como hoje conhecemos.

Em meio a esta trajetória, revestiu-se de inúmeras classificações, resultando nas chamadas antologias, as quais reúnem os contos por nacionalidade: brasileiro, russo, francês e por categorias relacionadas ao gênero, denominando-se em contos maravilhosos, policiais, de amor, ficção científica, fantásticos, de terror, mistério, dentre outras classificações, tais como tradicional, moderno e contemporâneo.

Perfaz-se de todos os elementos que compõem a narrativa, ou seja, tempo, espaço, poucos personagens, foco narrativo de 1ª ou 3ª pessoa, corroborando em uma sequência de fatos que constituem o enredo, também chamado de trama.

E um dos fatores de total relevância, é que o enredo apresenta-se de forma condensada e sintética, centrado em um único conflito. Tal característica tende a criar o que chamamos de unidade de impressão, elemento que norteia toda a narrativa, criando um efeito no próprio leitor, manifestado pela admiração, espanto, medo, desconcerto, surpresa, entre outros.