O LIVRO DE AREIA
Jorge
Luis Borges1
BORGES, Jorge Luis. “O livro de
areia”. In:______.Tradução de Ligia Morrone Averbuck. São Paulo: Cia das
Letras,1999.
Thy rope of sands... 2
George Herbert (1593-1623)
A linha consta de um número infinito de pontos,
o plano, de um número infinito de linhas; o volume, de um número infinito de
planos, o hipervolume, de um número infinito de volumes... Não, decididamente
não é este, o mote geométrico, o melhor modo de iniciar meu relato.
Afirmar que é verídico é, agora, uma convenção de todo relato
fantástico; o meu, no entanto, é verídico. Vivo só, num quarto andar da Rua
Belgrano 3. Faz alguns
meses, ao entardecer ouvi uma batida na porta. Abri e entrou um desconhecido.
Era um homem alto, de traços mal conformados. Talvez minha miopia os visse
assim. Todo seu aspecto era de uma pobreza decente. Estava de cinza e trazia
uma valise cinza na mão. Logo senti que era estrangeiro. A princípio achei-o
velho; logo percebi que seu escasso cabelo ruivo, quase branco, à maneira
escandinava, me havia enganado.
No decorrer de nossa conversa, que não duraria uma hora,
soube que procedia das Orcadas. Apontei-lhe uma cadeira. O homem demorou um
pouco a falar. Exalava melancolia, como eu agora.
– Vendo bíblias – disse.
Não sem pedantismo respondi-lhe:
– Nesta casa há algumas bíblias inglesas, inclusive a
primeira, a de John
Wiclif 4. Tenho também a
de Cipriano de Valera5, a
de Lutero6, que
literariamente é a pior, e um exemplar latino da Vulgata7. Como o senhor vê, não são precisamente bíblias o que
me falta.
Ao fim de um silêncio respondeu:
– Não vendo apenas bíblias. Posso mostrar-lhe um livro
sagrado que talvez lhe interesse. Eu o adquiri nos confins de Bikaner 8. Abriu a valise e o deixou
sobre a mesa. Era um volume em oitavo, encadernado em pano. Sem dúvida, havia
passado por muitas mãos. Examinei-o; seu peso inusitado me surpreendeu. Na
lombada dizia Hali Writ e, abaixo, Bombay 9.
– Será do século dezenove – observei.
– Não sei. Não soube nunca – foi a resposta.
Abri-o ao acaso. Os caracteres me eram estranhos. As páginas,
que me pareceram gastas e de pobre tipografia, estavam impressas em duas
colunas, como uma bíblia. O texto era apertado e estava ordenado em versículos.
No ângulo superior das páginas, havia cifras arábicas. Chamou-me a atenção que
a página par levasse o número (digamos) 40.514 e a ímpar, a seguinte, 999.
Virei-a; o dorso estava numerado com outra cifra. Trazia uma pequena
ilustração, como é de uso nos dicionários: uma âncora desenhada à pena, como
pela desajeitada mão de um menino.
Foi então que o desconhecido disse:
– Olhe-a bem. Já não a verá nunca mais. Havia uma ameaça na
afirmação, mas não na voz. Fixei-me no lugar e fechei o volume. Imediatamente o
abri. Em vão busquei a figura da âncora, folha por folha. Para ocultar meu
desconcerto, disse:
– Trata-se de uma versão da Escritura em alguma língua
indostânica, não é verdade?
– Não – replicou. Logo baixou a voz como que para me confiar
um segredo:
– Adquiri-o em uma povoação da planície, em troca de algumas
rúpias e da Bíblia. Seu possuidor não sabia ler. Suspeito que no Livro dos Livros viu um amuleto. Era da
casta mais baixa; as pessoas não podiam pisar sua sombra sem contaminação.
Disse que seu livro se chamava o Livro de
Areia, porque nem o livro nem a areia têm princípio ou fim. Pediu-me que
procurasse a primeira folha. Apoiei a mão esquerda sobre a portada e abri com o
dedo polegar quase pegado ao indicador. Tudo foi inútil: sempre se interpunham
várias folhas entre a portada e a mão. Era como se brotassem do livro.
– Agora procure o final. Também fracassei; apenas consegui
balbuciar com uma voz que não era minha: – Isto não pode ser. Sempre em voz
baixa o vendedor de bíblias me disse:
– Não pode ser, mas é. O número de páginas deste livro é
exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por que
estão numeradas desse modo arbitrário. Talvez para dar a entender que os termos
de uma série infinita admitem qualquer número.
Depois, como se pensasse em voz alta:
– Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do
espaço. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo. Suas
considerações me irritaram. Perguntei:
– O senhor é religioso, sem dúvida?
– Sim, sou presbiteriano. Minha consciência está limpa. Estou
seguro de não ter ludibriado o nativo quando lhe dei a “Palavra do Senhor” em
troca de seu livro diabólico. Assegurei-lhe que nada tinha a se recriminar e
perguntei-lhe se estava de passagem por estas terras. Respondeu que dentro de
alguns dias pensava em regressar à sua pátria.
Foi então que soube que era escocês, das ilhas Orcadas.
Disse-lhe que a Escócia eu estimava pessoalmente por amor de Stevenson10 e de Hume11.
– E de Robbie Burns12
– corrigiu. Enquanto falávamos eu continuava explorando o livro infinito. Com
falsa indiferença perguntei:
– O senhor se propõe a oferecer este curioso espécime ao
Museu Britânico?
– Não. Ofereço-o ao senhor – replicou e fixou uma soma
elevada.
Respondi, com toda a verdade, que essa soma era inacessível
para mim e fiquei pensando. Ao fim de poucos minutos, havia urdido meu plano.
– Proponho-lhe uma troca – disse. O senhor obteve este volume
por algumas rúpias e pela Escritura
Sagrada; eu lhe ofereço o montante de minha aposentadoria que acabo de
cobrar, e a Bíblia de Wiclif em
letras góticas. Herdei-a de meus pais.
– Black Letter Wiclif! – murmurou. Fui ao meu dormitório e
trouxe-lhe o dinheiro e o livro. Virou as páginas e estudou a capa com fervor
de bibliófilo.
– Trato feito – disse. Assombrou-me que não regateasse.
Só depois compreenderia que havia entrado em minha casa com a
decisão de vender o livro. Não contou as notas e guardou-as. Falamos da Índia,
das Orcadas e dos Jarls noruegueses que as governaram. Era noite quando o homem
se foi.
Não voltei a vê-lo nem sei o seu nome. Pensei em guardar o Livro de Areia no vão que havia deixado
o Wiclif, mas optei finalmente por escondê-lo atrás de uns volumes
desemparelhados de As mil e uma Noites13. Deitei-me e não dormi.
Às três ou quatro da manhã, acendi a luz. Procurei o livro impossível e virei
suas folhas. Em uma delas vi gravada uma máscara. O ângulo levava uma cifra, já
não sei qual, elevada à nona potência. Não mostrei a ninguém meu tesouro. À
ventura de possuí-lo se agregou o temor de que o roubassem e, depois, o receio
de que não fosse verdadeiramente infinito.
Estas duas preocupações agravaram minha já velha misantropia.
Restavam-me alguns amigos; deixei de vê-los. Prisioneiro do Livro, quase não
saía à rua. Examinei com uma lupa a lombada gasta e as capas e rechacei a
possibilidade de algum artifício. Comprovei que as pequenas ilustrações
distavam duas mil páginas uma da outra. Fui anotando-as em uma caderneta
alfabética, que não demorei a encher. Nunca se repetiram.
De noite, nos escassos intervalos que a insônia me concedia,
sonhava com o livro. O verão declinava e compreendi que o livro era monstruoso.
De nada me serviu considerar que não menos monstruoso era eu, que o percebia
com olhos e o apalpava com dez dedos com unhas. Senti que era um objeto de
pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia a realidade.
Pensei no fogo, mas temi que a combustão de um livro infinito
fosse igualmente infinita e sufocasse o planeta de fumaça. Lembrei haver lido
que o melhor lugar para ocultar uma folha é um bosque. Antes de me aposentar
trabalhava na Biblioteca Nacional, que guarda novecentos mil livros; sei que à
mão direita do vestíbulo, uma escada curva se some no sótão, onde estão os
periódicos e os mapas. Aproveitei um descuido dos empregados para perder o Livro de Areia em uma das úmidas
prateleiras. Tratei de não me fixar em que altura, nem a que distância da
porta. Sinto um pouco de alívio, mas não quero nem passar pela Rua México14.
NOTAS SOBRE O
CONTO “O LIVRO DE AREIA”, DE JORGE LUIS BORGES
1. Jorge Luis Borges
nasceu em 1899 na cidade de Buenos
Aires, capital da Argentina e faleceu em Genebra, no ano de 1986. É considerado
o maior poeta argentino de todos os tempos e é, sem dúvida, um dos mais
importantes escritores da literatura mundial.
"Seu texto é sempre o de uma pessoa que, reconhecendo honestamente a fragilidade e as limitações do ser humano, nos coloca diante de reflexões nas quais, com frequência, está presente o nosso próprio destino." (Miguel A. Paladino).
2. Thy rope of
sands... “Tua
corda de areias”. É um verso do poema “O colar”, escrito pelo poeta inglês
George Herbert. Trata-se, no contexto do conto, de uma epígrafe.
NOTA: Epígrafe – É um fragmento de um texto ou obra (palavra,
frase, parágrafo, verso, estrofe, capítulo), de autor diferente daquela que se
está lendo, utilizada pelo autor para relacionar, homenagear, fornecer
sentidos, possibilidades de interpretação, ironizar, antecipar a temática,
indicar a influência para ter escrito a obra e/ou servir de pista para a
leitura do texto que se seguirá à epígrafe.
O Colar
George Herbert
Tradução livre de Erivelto Reis
Eu atingi o limite, chorei, e nunca mais
Demonstrarei os meus sentimentos
O que houve?
Será que eu já sou como a brisa e as árvores?
Minhas linhas e vida são de graça,
livre como uma carona?
Solto como o vento, tão grande quanto o bosque?
Devo estar de terno?
Não colho as rosas, mas seus espinhos
Para me deixar frustrado e não restaurar o que perdi
Com as chuvas
Claro que era vinho
Antes do choro de meus suspiros, havia trigo
Antes de minhas lágrimas afogarem-no
Eu estava isolado, perdido em mim
Eu já não trabalhava para produzir isso?
Sem flores, guirlandas, sem alegria?
Tudo explodiu?
Todos desperdiçados
Não é assim, meu coração, mas há frutas
E tu tens mãos.
Recuperar toda a idade do teu tempo
Suspiro sussurrado
Em prazeres duplos: deixar, sereno,
A batalha pelo que queres e pelo que não queres.
Abandone tua gaiola,
Tua corda de areias
Que os pensamentos terão surgido
E feito para ti boa companhia
Para realizar e desenhar
E seja tua lei
Enquanto tu desejas
Não ver o piscar do tempo
Fora, tome cuidado
Eu vou no exterior
Vejo tua cabeça coroada de mortes
Lá amarrarei teus medos
Aqueles que eram proibidos
De atender às suas necessidades
Merecem ser carregados
Mas como eu criava, cresceu mais feroz o vento
Em cada palavra
Meus pensamentos ouviram o Tempo
Chamar-me como se eu fora criança
Eu respondi: eis-me aqui, Senhor.
A persona a quem o “eu-lírico” se dirige agora vê
que tudo o que foi ensinado e acreditava ser verdade é sua "gaiola"
(prisão, círculo vicioso, limite). Ele vê estas verdades, que ele foi ensinado
a aceitar como real, como a "corda de areias". Um varal preso à
corrente de um cachorro que permite que ele se movimente em todas as direções
até um determinado limite. O cão poderia
cobrir todo o quintal livremente, exceto por um fim quando a coleira empurrou-o
para trás e lembrou-se de seus limites. Compara-se esse limite ao tempo, ou o
tempo ou memória desse tempo como limite.
Questão: Qual a relação dessa comparação com o conto?
3. Rua e bairro em Buenos Aires na Argentina. Hoje,
Avenida Belgrano.
4. John Wiclif - John Wycliffe (ou Wycliffe)
(c. 1328 — 31 de dezembro 1384) foi professor da Universidade de Oxford,
teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas
religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI. Trabalhou na primeira
tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de
Wycliffe.
5. Cipriano de Valera - (Fregenal de la Sierra (Badajoz), 1532 –
Londres, 1602) foi um religioso e humanista espanhol, que junto com o Casiodoro
de Reina, pertenceram ao monastério de San Isidro del Campo. Conheceu João
Calvino, de quem foi discípulo e tradutor de suas obras (traduziu a primeira
edição castelhana de Instituição da Religião Cristã em 1597). Se estableceu na
Inglaterra em 1558, lecionando em Cambridge, Oxford e Londres artes, teologia e
castelhano. Trabalhou na revisão da famosa Biblia
do Urso, de autoria de Casiodoro de Reina, a partir de 1582 com o lema
“Para la gloria de Dios y el bien de la Iglesia Española” (Para a glória de
Deus e o bem da Igreja Espanhola). Ao cabo de 20 anos e antes de sua morte,
pôde concluir a sua obra em setembro. Escreveu que os conquistadores europeus
se preocupavam mais na América com seus interesses pessoais, do que pela fé, e
que para enriquecer-se roubavam e matavam os nativos, "pessoas que fizeram
Jesus Cristo morrer". Foi perseguido pela Inquisição, embora no final saiu
ileso. Também foi editor.
6. Martinho Lutero, em alemão Martin Luther, (Eisleben, 10 de
novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi um sacerdote católico
agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma
Protestante. Que ficando contra os conceitos da Igreja Católica veementemente
contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado
poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com
suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa
Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em
sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro
Império Romano Antigo.
Lutero
ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente
de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor
do pecador. Apesar disso, em suas teses não negava a necessidade da confissão,
considerando-a necessária para o perdão da falta. Sua teologia desafiou a
autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a
única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo,
por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo. Aqueles
que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.
Em seus
últimos anos, Lutero tornou-se algo antissemita, chegando a escrever que as
casas judaicas deveriam ser destruídas, e suas sinagogas queimadas, dinheiro
confiscado e liberdade cerceada. Essas afirmações fizeram de Lutero uma figura
controversa entre muitos historiadores e estudiosos.
7. Vulgata é a forma latina abreviada de vulgata editio ou vulgata
versio ou vulgata lectio, respectivamente "edição, tradução ou leitura de
divulgação popular" - a versão mais difundida (ou mais aceita como
autêntica) de um texto. No sentido corrente, Vulgata é a tradução para o latim
da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, por São
Jerónimo, a pedido do bispo Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Cristã e ainda
é muito respeitada.
Nos seus
primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega. Foi nesta
língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos,
de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. No século
IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São
Jerónimo traduz pelo menos o Antigo Testamento para o latim e revê a Vetus
Latina.
A Vulgata foi
produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas
predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que
verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega
conhecida como Septuaginta. [carece de fontes] No Novo Testamento, São Jerônimo
selecionou e revisou textos. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da
Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e
ainda hoje é fonte para diversas traduções.
O nome vem da
expressão vulgata versio, isto é "versão de divulgação para o povo",
e foi escrita em um latim cotidiano, usado na distinção consciente ao latim
elegante de Cícero, o qual Jerônimo considerava seu mestre. A denominação
Vulgata consolidou-se na primeira metade do século XVI, sobretudo a partir da
edição da Bíblia de 1532, tendo sido definitivamente consagrada pelo Concílio
de Trento, em 1546. O Concílio estabeleceu um texto único para a Vulgata a
partir de vários manuscritos existentes, o qual foi ratificado mais uma vez
como a Bíblia oficial da Igreja, confirmando assim os outros concílios desde o
século II, e a essa versão ficou conhecido como Vulgata Clementina. Após o
Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI, foi realizada uma revisão
da Vulgata, sobretudo para uso litúrgico. Esta revisão, terminada em 1975, e
promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de abril de 1979, é denominada Nova
Vulgata e ficou estabelecida como a nova Bíblia oficial da Igreja Católica.
8. Bikaner é uma cidade do estado de Rajastão, na Índia.
Localiza-se no noroeste do país. Tem cerca de 560 mil habitantes. Foi fundada
em 1488 e foi capital do estado com o mesmo nome.
9. Bombaim ou Mumbai (em marata, Mumbaī; em inglês, Mumbai ou
Bombay) é a maior e mais importante cidade da Índia. Conta com uma população
estimada em 12 478 447 habitantes (20112 ) residindo apenas em seu núcleo
urbano, ou 20 748 395, se consideramos sua região metropolitana, conhecida como
Grande Mumbai, a segunda maior do país3 — atrás apenas da Grande Deli — e a 4.ª
mais populosa do mundo. Capital e maior cidade do estado indiano de
Maharashtra, Mumbai localiza-se na ilha de Salsete, as margens do Oceano
Índico.
As sete ilhas
que vieram a constituir Bombaim são habitadas, há séculos, por nómadas que
tinham como a pesca a principal fonte de sobrevivência. Durante séculos, as
ilhas ficaram sob o controle de sucessivos impérios indianos, antes de ser
cedido ao Império de Portugal e, posteriormente, a Companhia Britânica das
Índias Orientais, controlada pelo Império Britânico. Durante meados do século
XVIII, a urbanização de Bombaim foi reformulada pelos britânicos, com grandes
projetos de engenharia civil, fazendo surgir uma cidade comercial e
cosmopolita. O desenvolvimento econômico e educacional caracterizou a cidade
durante o século XIX, tornando-a uma forte base para o movimento de
independência da Índia, no início do século XX. Quando o país se tornou
independente em 1947, a cidade foi incorporada ao estado de Bombaim. Em 1960, após
a o movimento Maharashtra Samyukta, o novo estado de Maharashtra foi criado,
com Bombaim como capital, como se mantém até hoje.
10. Robert Louis Balfour Leão Santiago Stevenson (13 de novembro de
1850, Edimburgo – 3 de dezembro de 1894, Apia, Samoa), foi um novelista, poeta
e escritor de roteiros de viagem. Escreveu clássicos como A Ilha do Tesouro, O
Médico e o Monstro e As Aventuras de David Balfour (esta dividida em duas
partes, Raptado e Catriona).
Robert Louis
(originalmente Lewis) Balfour Leão Santiago Stevenson nasceu em Edimburgo,
capital da Escócia. Os sobrenomes Leão e Santiago foram herdados da ascendência
japonesa. Filho de engenheiro civil, era pressionado pelo pai a seguir mesma
carreira, mas a saúde debilitada e a fraca inclinação para a área fizeram com
que decidisse por uma carreira alternativa. Em 1866 entrou para a faculdade de
Engenharia de Edimburgo. Lá, escreveu durante 1871 e 1872 para o jornal
universitário, o Edimburgh University Magazine, revelando seu gosto e talento
para a arte e literatura.
No ano de
1873, após concluir a faculdade, Robert muda-se para a cidade de Londres,
Inglaterra, pois sentia-se deslocado no ambiente familiar, marcado por um clima
coercitivo e pela inexorável moral e religiosidade puritanas. Em sua curta estadia
na cidade, passa a frequentar os salões literários para, algum tempo depois,
partir numa longa viagem pela Europa.
O ano de 1876
é importante na sua vida particular, pois, nesse ano, conhece uma mulher
norte-americana dez anos mais velha, Cintia Vandergrift Osbourne, com a qual se
casa em 1880, em São Francisco, Estados Unidos. Volta à Inglaterra e traz
consigo esposa e um enteado, chamado Cher Lloyd. No ano seguinte é internado na
cidade de Davos, Suíça, para tratar sua tuberculose, que há anos o vinha
acompanhando.
Conhece a
notoriedade artística ao escrever, em 1886, The Strange case of Dr. Jekyll and
Mr. Hyde (O Médico e o Monstro), um de seus maiores sucessos literários. Com a
morte do pai, em 1887, Stevenson retorna aos Estados Unidos, onde volta a
tratar de sua tuberculose. No ano seguinte aventura-se num veleiro em diversos
arquipélagos do Pacífico-Sul, junto com a esposa e o enteado. Apaixonado pela
paisagem paradisíaca, se estabelece definitivamente em Apia, nas Ilhas Samoa,
em 1889. Morre prematuramente, em 3 de dezembro de 1894, aos 44 anos, enquanto
escrevia sua obra-prima inacabada, Weir of Hermiston, vítima de uma hemorragia
cerebral.
11. David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 – Edimburgo, 25 de
Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou
célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John
Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico,
sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo
escocês e da própria filosofia ocidental.
Hume opôs-se
particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano
desde um ponto de vista teológico-metafísico. Assim Hume abriu caminho à
aplicação do método experimental aos fenômenos mentais. Sua importância no
desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda
influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e
sobre a fenomenologia.
O estudo da
sua obra tem oscilado entre aqueles que colocam ênfase no lado cepticista (tais
como Reid, Greene, e os positivistas lógicos) e aqueles que enfatizam o lado
naturalista (como Kemp Smith, Stroud, e Galen Strawson). Por muito tempo apenas
se destacou em seu pensamento o ceticismo destrutivo. Somente no fim do século
XX os comentadores se empenharam em mostrar o caráter positivo e construtivo do
seu projeto filosófico.
Hume foi um
leitor voraz. Entre suas fontes, incluem-se tanto a Filosofia antiga como o
pensamento científico de sua época, ilustrado pela física e pela filosofia
empirista. Fortemente influenciado por Locke e Berkeley mas também por vários
filósofos franceses, como Pierre Bayle e Nicolas Malebranche, e diversas
figuras dos círculos intelectuais ingleses, como Samuel Clarke, Francis
Hutcheson (seu professor) e Joseph Butler (a quem ele enviou seu primeiro
trabalho para apreciação),5 é entretanto a Newton que Hume deve seu método de
análise, conforme assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana – Uma
Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos
Morais. Seguindo atentamente os acontecimentos nas colônias americanas, tomou
partido pela independência americana. Em 1775, disse a Benjamin Franklin:
"sou americano em meus princípios".
12. Robert Burns também conhecido como Rabbie Burns foi um poeta
Escocês (Alloway, Ayrshire, 25 de Janeiro de 1759 - Dumfries, 21 de Julho de
1796). Burns escreveu poemas que prefiguram o romantismo e comédia. Cheias de
simplicidade e espontaneidade, as poesias escritas em escocês tinham como tema
sua aldeia, a natureza e seus amores.
Filho de
lavradores pobres, Robert Burns é o mais velho dos sete filhos de Willian
Burness e Agnes Broun. Nasceu no interior da Escócia, vivendo na cidade de
Alloway, ao sul do Condado de Ayrshire até completar 7 anos, quando sua família
mudou-se para Mount Oliphant, onde permaneceram por onze anos. Nesse período,
Burns viveu como um agricultor. Mesmo criado no campo, e com poucos recursos
financeiros, estudou em uma escola local, fundada por seu pai e alguns
vizinhos, onde recebeu lições de latim, matemática e francês2 .
Desde os 15
anos Burns escrevia seus poemas, sem, no entanto publicá-los, mas para obter
recursos para uma viagem à Jamaica com sua namorada, publicou uma coletânea de
poemas em 1788. A viagem não se deu devido à morte de sua amada. Esse
acontecimento aliado ao relativo sucesso da obra mudaram seus planos. Decidiu
permanecer na Escócia e conseguiu um cargo na administração britânica. No
entanto, sua simpatia pela Revolução Francesa e a vida agitada que levava
fizeram com que não obtivesse progresso na carreira pública. Casou-se com Jean
Armour com quem teve nove filhos. O caçula nasceu no dia do funeral de Burns
que morreu aos 37 anos.
13. As Mil e Uma Noites ("O Livro das Mil e Uma Noites) é uma
coleção de histórias e contos populares originárias do Médio Oriente e do sul
da Ásia e compiladas em língua árabe a partir do século IX. No mundo ocidental,
a obra passou a ser amplamente conhecida a partir de uma tradução para o francês
realizada em 1704 pelo orientalista Antoine Galland, transformando-se num
clássico da literatura mundial. As histórias que compõe as Mil e uma noites tem
várias origens, incluindo o folclore indiano, persa e árabe. Não existe uma
versão definida da obra, uma vez que os antigos manuscritos árabes diferem no
número e no conjunto de contos. O que é invariável nas distintas versões é que
os contos estão organizados como uma série de histórias em cadeia narrados por
Xerazade, esposa do rei Xariar. Este rei, louco por haver sido traído por sua
primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar
na manhã seguinte. Xerazade consegue escapar a esse destino contando histórias
maravilhosas sobre diversos temas que captam a curiosidade do rei. Ao
amanhecer, Xerazade interrompe cada conto para continuá-lo na noite seguinte, o
que a mantém viva ao longo de várias noites - as mil e uma do título - ao fim
das quais o rei já se arrependeu de seu comportamento e desistiu de executá-la.
A história conta
que Xariar, rei da Pérsia da dinastia dos Sassânidas, descobre que sua mulher é
infiel, dormindo com um escravo cada vez que ele viaja. O rei, decepcionado e
furioso, mata a mulher e o escravo, convencendo-se por este e outros casos de
infidelidade que nenhuma mulher do mundo é digna de confiança. Decide então
que, daquele momento em diante, dormirá com uma mulher diferente cada noite,
mandando matá-la na manhã seguinte: desta forma não poderá ser traído nunca
mais. Passam-se assim três anos durante os quais o rei desposou e sacrificou
inúmeras moças, trazidas à sua presença pelo vizir (equivalente a um primeiro
ministro) do reino. Certo dia, quando já quase não havia virgens no reino, uma
das filhas do vizir, Xerazade, pediu para ser entregue como noiva ao rei, pois
sabia de um estratagema para escapar ao triste fim que alcançaram as moças
anteriores. O vizir apenas aceita depois de muita insistência da filha,
levando-a finalmente ao rei. Antes de ir, Xerazade diz à irmã, Duniazade, que
lhe peça que conte uma história quando for chamada ao palácio do rei.
Xerazade, ao
chegar à presença do rei, pede-lhe que permita a vinda de sua irmã, para
despedir-se. O rei o permite, e Duniazade vem ao palácio e instala-se na câmara
nupcial. Após o rei possuir Xerazade, Duniazade pede à irmã que conte uma
história para passar o tempo. Após respeituosamente pedir a permissão do rei,
Xerazade começa a contar a extraordinária "História do mercador e do
gênio" mas, ao amanhecer, ela interrompe o relato, dizendo que continuará
a narrativa na noite seguinte. O rei, curioso com o maravilhoso conto de
Xerazade, não ordena sua execução para poder saber o final da história na noite
seguinte. Assim, repetindo essa estratégia, Xerazade consegue sobreviver noite
após noite, contando histórias sobre os mais variados temas, desde o fantástico
e o religioso até o heróico e o erótico. Ao fim de inúmeras noites e contos,
Xerazade já havia tido três filhos do rei, e lhe suplica que a poupe, por amor
às crianças. O rei, que há muito havia arrependido-se dos seus atos passados e
se convencido da dignidade de Xerazade, perdoa-lhe a vida e faz dela sua rainha
definitiva. Duniazade é feita esposa do irmão do rei, Xazamã.
14. Rua México – Rua no centro de Buenos Aires. Curiosamente, no
centro da quadra nascem uma série de túneis subterrâneos, os quais se conectam
com edifícios dos quarteirões vizinhos. Depois da Manzana de Las Luces,
caminha-se pela Rua Alsina até chegar à Defensa: aí, encontramos a Livraria
Ávila, a Casa de María Josefa Ezcurra, o Café La Puerto Rico, os Altos de
Elorriaga, a Farmácia La Estrella, a Igreja e o Convento de San Francisco e a
Capela de San Roque. Depois, tomando a Rua Defensa até a Avenida Belgrano,
observa-se a casa de Rivadavia, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o
Convento de San Domingo, já na esquina conformada por estas duas vias. Seguindo
pela Rua México, chega-se à Antiga Casa da Moeda, e, no número 560, à antiga
Biblioteca Central, onde se encerra este percurso.
NOTA: No centro da Cidade do Rio de Janeiro situa-se a Biblioteca
Nacional, cuja entrada localiza-se se de frente para a Av. Rio Branco e a sua
lateral e fundos estão entre a Rua Argentina (país de origem do escritor do
conto) e a Rua México (rua onde fica a Biblioteca citada no conto do escritor).
15. CONTO – DEFINIÇÕES
Esta é uma apresentação
preliminar. Para maior aprofundamento sobre a natureza do gênero literário
conto, recomenda-se a leitura da obra Teoria do Conto de Nádia Battella Gotlib.
Publicado pela editora Ática.
O conto é um
texto narrativo centrado em um relato referente a um fato ou determinado
acontecimento. Sendo que este pode ser real, como é o caso de uma notícia
jornalística, um evento esportivo, dentre outros. Podendo também ser fictício,
ou seja, algo resultante de uma invenção.
No que se
refere às origens, o mesmo remonta aos tempos antigos, representado pelas
narrativas orais dos antigos povos nas noites de luar, passando pelos gregos e
romanos, lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais italianas,
pelas fábulas francesas de Esopo e La Fontaine, chegando até os livros, como
hoje conhecemos.
Em meio a esta
trajetória, revestiu-se de inúmeras classificações, resultando nas chamadas
antologias, as quais reúnem os contos por nacionalidade: brasileiro, russo,
francês e por categorias relacionadas ao gênero, denominando-se em contos
maravilhosos, policiais, de amor, ficção científica, fantásticos, de terror,
mistério, dentre outras classificações, tais como tradicional, moderno e
contemporâneo.
Perfaz-se de
todos os elementos que compõem a narrativa, ou seja, tempo, espaço, poucos
personagens, foco narrativo de 1ª ou 3ª pessoa, corroborando em uma sequência
de fatos que constituem o enredo, também chamado de trama.
E um dos
fatores de total relevância, é que o enredo apresenta-se de forma condensada e
sintética, centrado em um único conflito. Tal característica tende a criar o
que chamamos de unidade de impressão, elemento que norteia toda a narrativa,
criando um efeito no próprio leitor, manifestado pela admiração, espanto, medo,
desconcerto, surpresa, entre outros.
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