Lybia Santos de Oliveira
Português / Literaturas
1º período - Noite
Conversando com meu Eu
Ponho-me
a escrever no quarto, aceitando apenas o barulho da
chuva. Essa sim, é uma companhia bem apropriada. Aliás, ela se comporta
magnificamente. Soa em meus ouvidos como complemento da minha
inspiração. Refresca minha alma com seu ruído discreto e ao mesmo tempo
intenso e marcante. Ela não passa despercebida, mas também não me
atrapalha. Ela vem acompanhada de um céu cinzento, que as pessoas cismam
em chamá-lo de “tempo feio”. Mas se tem alguém que lhe admira
fortemente, sou eu. Ele é encantador. Não é sorridente, alegre e
saltitante como o céu azul. Ele carrega mistérios. É cinza, portanto é
neutro, combinando com quase tudo, em um cenário de soberania e altivez.
Se repararmos bem, ele chega a ser cintilante e não é triste como
pensam, mas elegante, honesto e firme.
Estar
sozinho é essencial para pensar sem interferências, para opinar sem ser
criticado, para resmungar, reclamar, rir e especular.
Há
tempos, não escrevo. E ultimamente, ando sentindo esta necessidade,
exageradamente. Talvez eu esteja enjoada do ser humano e das suas
conversas fúteis, de amigos normais com respostas mecânicas e
totalmente
previsíveis. Talvez eu deva sentir que existo dentro de
mim.
Acontece
que muitas das vezes, ajudamos outras pessoas, absorvemos problemas
alheios, saímos para festejar, brigamos e criticamos atitudes erradas de
pessoas em nosso convívio e, puxa vida, esquecemos de nós mesmos! Eu
precisava de um tempo comigo, eu precisava conversar com meu Eu.
Chega de pensar nos outros, de ajudar, de querer saber, de ligar, de ouvir. Hoje eu apenas me quero! E não
aceito interrupções.
Quando
estou acompanhada de mim mesma, penso no que eu quero, falo sozinha,
canto, revejo fotos antigas, leio, faço tudo ou simplesmente, faço nada.
É bom fazer nada de vez em quando. Muitas das vezes é extremamente
necessário. Dar um pause, apertar o stop e até ejetar coisas que estavam guardadas lá dentro do seu Eu, e você, por algum motivo, não teve tempo de pensar sobre isso, mandando-o definitivamente para o espaço.
Precisamos
nos dedicar ao nosso bem estar e por vezes, estamos tão atribulados com
afazeres do dia-a-dia, com problemas do cotidiano, contas a pagar,
compromissos e obrigações, que não lembramos o que nós somos e o que
realmente precisamos.
Não
basta abraçar o mundo se você não consegue se abraçar, não adianta ser
eficiente no trabalho, ótima mãe, filha perfeita e esposa exemplar, se
você é relaxada consigo mesma. Não apenas em aspectos
estéticos, mas lá dentro. Lá no fundo tem uma voz que clama por atenção
e quer ser ouvida, quer ser cuidada, quer ser sentida. Hoje eu sou
minha e de mais ninguém.
Lybia de Oliveira (2013)
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