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Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

sábado, 23 de agosto de 2014

Uma Reflexão proposta pelo texto do aluno Marc Siqueira do Curso de Ciências Sociais das FIC

Insight - Através do vidro


Marc Siqueira
A Sociedade Moderna é como um mar de inconsistências dentro de um oceano de indiferenças.
Tudo é bastante aparente nessa cidade, o Rio de Janeiro.
Através dos vidros da janela de um coletivo eu vejo: mares de pessoas, enseadas de sombras.
Ideais abandonados, ancorados em águas profundas. Eu vejo.
Eu vejo da janela, enquanto tudo passa à minha volta;
Eu vejo obras imensas, faraônicas, Arranha-Céus incomensuráveis.
Obras que refletem como um espelho a realidade a sua volta.
Reflexos que não são entendidos verdadeiramente como o são, pela origem do espelho:
Imagens inversas criadas pela consequência dessas próprias construções.
A poeira.
Ao lado destes espelhos gigantes jaz a poeira;
Algumas das mais belas arquiteturas feitas pelo homem Brasileiro.
À ferro e fogo, arte e alma;
São estas obras de arte abandonadas e depredadas pela razão de um padronismo moderno e vertical.
Sinto-me enraivecido em nome dos artesãos de outrora, em um misto de amor e ódio ao perceber o abandono.
O desprezo comum demonstrado pelo ignorar de uma cidade clássica...
... De estruturas horizontais e simples de um passado não tão longínquo.
Concedendo espaço a uma estrutura complexa e brutal daqueles que nos olham de cima.
Do alto dos espelhos gigantes, dos Arranha-Céus, nos olham os intocáveis faraós do tempo moderno.
Tudo isto passa e eu continuo a olhar, olhar através dos vidros.
Através dos vidros eu vejo a incoerência;
Da janela do coletivo eu vejo centenas de barcos, milhares de carros e milhões de assalariados.
Através do vidro eu vejo;
A realidade cruel de uma solidariedade orgânica que em moderna existência...
... De solidária nada possui ou nada lhe resta.
Vejo a dialética da vida atual, moderna.
De um lado o trabalhador que aguarda em sua parada a chegada do carro-de-boi, do outro...
... Um ser socialmente renegado, abandonado, o mendigo, o marginal, o morador das ruas.
Aquele largado à sua própria sorte...
... Existindo no limiar da vida e vivendo no limiar da existência.
Como algo inexistente ou imperceptível.
Como se houvesse tornado-se invisível aos olhos distantes.
Porém, não aos meus.
Mesmo que num relance, eu o vejo.
Eu vejo por fim a síntese empírica da contradição da vida nestes novos tempos modernos e mesquinhos;
Eu vejo a autoestrada; Entre os carros-de-boi e o ser invisível, eu vejo velozes maquinas.
Maquinas que cruzam o espaço e encurtam tempo em alta velocidade, tornando tudo ao seu redor embaçado, trêmulo, fugaz... Quase nulo.
A impressão da construção do “indigno de atenção”.
A indiferença.
O Carro do ano, o importado, estes contém aqueles que não se importam.
Eu vejo, vejo tudo isto e finalmente percebo que na minha cabeça reside um espírito anacrônico.
Um espírito anacrônico de uma existência atemporal que divaga na esperança das pequenas coisas.
Percebo que divago sobre o porquê das muitas coisas;
E nesta nuvem de pensamentos, sobretudo, eu percebo um único “Insight”:
– “Eu não sou daqui”.

Marc Siqueira

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