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Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Poema: Quando bombardearam Hiroshima - Sarah Kay

QUANDO BOMBARDEARAM HIROSHIMA
Sarah Kay

Quando bombardearam Hiroshima
a explosão formou uma pequena supernova,
de tal forma que todo o animal, humano ou planta
que recebeu diretamente
os raios desse sol
se transformou instantaneamente em cinza.
E o que sobrou da cidade logo seguiu o mesmo destino.
O efeito duradouro dos danos da radiação nuclear
fizeram com que uma cidade inteira e a sua população
se transformasse em pó.
Quando nasci, a minha mãe diz que olhei em volta do quarto de hospital
com um olhar que dizia, "Isto? Eu já fiz isto antes".
Ela diz que eu tenho olhos velhos.
Quando nasci, a minha mãe diz que olhei em volta do quarto de hospital
com um olhar que dizia, "Isto? Eu já fiz isto antes".
Ela diz que eu tenho olhos velhos.
Quando o meu avô Genji morreu, eu tinha apenas anos,
mas peguei na mão da minha mãe e disse-lhe,
"Não te preocupes, ele vai voltar na forma de um bebé".
E, no entanto, para alguém que aparentemente já fez isto antes,
ainda não percebi nada.
Os meus joelhos ainda tremem quando subo a um palco.
A minha autoconfiança pode ser medida
em colheres de chá misturadas com a minha poesia,
e ainda deixa um sabor estranho na minha boca.
Mas em Hiroshima, algumas pessoas foram varridas,
deixando só um relógio de pulso ou uma página de um diário.
Por isso, não importa se tenho inibições para encher todos os meus bolsos,
continuo a tentar,
à espera que um dia escreva um poema
que me orgulhe tanto que possa ser exibido num museu
como a única prova de que alguma vez existi.
Os meus pais deram-me o nome de Sarah,
que é um nome bíblico.
Na história original, Deus disse a Sarah que ela podia fazer algo impossível
e ela riu-se,
porque essa Sarah,
ela não sabia o que fazer com o impossível.
E eu? Bem, eu também não,
mas eu vejo o impossível todos os dias.
O impossível é tentares relacionar-te neste mundo,
tentares agarrar os outros enquanto tudo explode à tua volta,
sabendo que enquanto falas
eles não estou só à espera da sua vez de falar: eles ouvem-te.
Sentem exatamente aquilo que tu sentes
ao mesmo tempo que tu o sentes.
É o que almejo cada vez que abro a minha boca,
essa ligação impossível.
Há um pedaço de parede em Hiroshima
que foi pintado de preto pela radiação.
Mas nos degraus, estava uma pessoa sentada
que impediu a radiação de atingir a pedra.
A única coisa que resta agora
é a permanente sombra de luz positiva
Depois da bomba atómica,
os especialistas disseram que demoraria 75 anos
para que no solo de Hiroshima City, danificado pela radiação,
voltasse a crescer alguma coisa.
Mas nessa mesma Primavera, havia já rebentos a brotar da terra.
Quando eu te conheço, nesse momento,
eu deixo de ser parte do teu futuro.
Rapidamente me torno parte do teu passado.
Mas nesse instante, eu partilho o teu presente.
E tu, tu partilhas o meu.
E esse é o maior presente de todos.
Então se me dizes que eu consigo fazer o impossível,
provavelmente vou-me rir de ti.
Não sei se já consigo mudar o mundo,
porque não sei muito acerca dele,
e também não sei muito sobre reencarnação,
mas se me fizeres rir e bem,
posso até esquecer-me do século em que estou.
Não é a primeira vez que estou aqui.
Não é a última vez que estou aqui.
Estas não serão as últimas palavras que vou partilhar.
Mas, por via das dúvidas, estou a dar o máximo

para acertar desta vez.

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