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Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

ALUNO PETER LA RUBIA, DO CURSO DE LETRAS, PORT./LIT NOITE, DAS FIC/RJ, APRESENTA TRÊS DOS MAIS RECENTES TEXTOS DE SUA AUTORIA



FINAIS ALTERNATIVOS - VERSÃO 1 E 2

TEXTO SOBRE A ESCRITA CRIATIVA 

As universidades, a escrita criativa e a formação de escritores



FINAIS ALTERNATIVOS - VERSÃO 1 E 2
Feuc
Rio de Janeiro, 03 de Junho de 2017
Disciplina: Produção Textual – Professor: Erivelto Reis
Aluno: Peter Larrubia – 1º período Letras (Português/Literaturas)

Exercício: Criar um final alternativo para o conto “Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Telles.

Antes do Amanhecer

            Raquel se deixou esvaecer junto às grades enferrujadas, a pele lisa das mãos provando a aspereza do cárcere. Ela tossiu forte, sentindo o gosto do sangue metálico na boca, não tinha mais forças para gritar, a garganta doía como se tivesse engolido pequenas lâminas. O ar pesado e bolorento preencheu seus pulmões com o bafo da morte. Frio e medo fizeram a moça encolher no canto empoeirado da escada, os pelos arrepiados e os dentes tiritando como se fossem quebrar. Quando Ricardo fechou a porta da igreja também levou consigo a luz. Tudo que restava era uma fresta, que de tão estreita, deixava que ela apenas intuísse o pôr do sol.
            As lágrimas desceram até secar. Quanto tempo tinha se passado? Meia hora? Uma? A exaustão embotou-lhe o desespero e, com ela, trouxe algum arremedo de fé (Cansaço e resignação são os pais da má esperança). Convenceu-se de que não precisava ter se atormentado. Era óbvio que Ricardo voltaria. Tudo não passava de uma lição. Meio exagerada. Mas talvez, merecida. Tentou falar em voz alta, pedindo a si mesma para manter a calma, mas estava tão rouca que não conseguiu ouvir a própria voz. Restava agarrar-se à fé.
            No entanto, o tempo se arrastou pelas paredes, inexorável. Através das frestas do portal da igreja sentiu o crepúsculo com os olhos semicerrados. A vida se extinguiu. O frio aumentou e tudo agora era breu, quase palpável, tão escuro que não fazia diferença se estava de olhos abertos ou fechados. Chorou de novo, até cair num sono frágil e desconfortável.
            Foi quando ouviu a explosão. Muito perto. Depois outra. Bombas? Paredes desabando? Depois outra e outra. E então uma sequência que levou vários segundos. E ela entendeu porque as ruas eram tão silenciosas e vazias quando chegaram ali. Era a final da copa do mundo. Todos estavam em casa, ouvidos colados ao rádio. Ninguém entraria naquele cemitério. Apodreceria naquele sepulcro, os fogos zombando de seu azar. Brasil teria sido campeão? Heleno teria feito gol? Não, Heleno não foi convocado. Heleno, o nome que Ricardo tinha escolhido para o filho deles. Ela chorou baixinho e rezou. Deus, não me abandone, eu não sabia o que fazia.
            Há quanto tempo foi? Ontem ou em outra vida?

            É incrível o que pode mudar em um ano. Seu mundo vira de cabeça para baixo e depois volta ao normal como num piscar de olhos. Mas nunca volta para o mesmo lugar.

            Ricardo sempre fazia amizade com crianças. Era um dom natural. Os sobrinhos de Raquel o adoravam, jogavam bola e futebol de botão, ele tinha uma paciência infinita. No segundo mês de namoro ele a pediu em casamento. Sonhava em constituir família e ter seus próprios pimpolhos. Ora, nem emprego ele tinha, vivia de bicos no comércio do tio. Raquel não respondeu, limitou-se a rir. Ele não insistiu. Quando assinou carteira como vendedor no mercado do centro, apareceu com uma pequena bola de futebol, dessas para bebês.
            – Ele vai trazer o primeiro caneco pra seleção!
            – Quem, Ricardo?
            – Heleno Albuquerque da Silva. O maior artilheiro do Brasil! Maior que o próprio Heleno de Freitas.
            – Do que você tá falando, seu louco?
            – Nosso bebezinho. Nosso filho.
            – Eu mereço. – Ela revirou os olhos – Nem vou me casar contigo, Ricardo, ainda mais ter um filho. Volte a estudar, faça uma faculdade de direito ou medicina. Seja homem de verdade. Aí, talvez, eu pense em alguma coisa.
            Mas Raquel tinha um fraco além do usual para os desejos da carne. Mantinha relações com Ricardo (só ele?) sem cuidados. Pouco mais de três meses depois sua menstruação, que era pontual, não veio.
            – Mas isso é ótimo, amor!
            – Ótimo? Só se eu fosse maluca!
            Ele escondeu os olhos marejados, aqueles olhos lisos e juvenis. Um misto de felicidade e raiva.
            – Eu assinei a carteira. Coisas boas virão. Uma criança vai mudar nossa vida.
            Ela se exasperou com a imaturidade e presunção de Ricardo. Logo ela, Raquel de Ávila Albuquerque, ia se misturar com Ricardo da Silva? Devolveu, irritada:
            – E tem mais, como você sabe que é seu?
            O rosto dele se transformou em algo branco e vazio. Depois se preencheu de puro ódio. Socou a janela e sangue escorreu pelo punho, desceu pelo antebraço e pingou no chão. Raquel soltou uma interjeição de medo e se encolheu. Ele olhou em volta, deu as costas e saiu.
           Duas semanas se passaram e Raquel fugia de Ricardo. Dizia que não estava, saía pelos fundos, se esquivava. Até que ele a cercou quando voltava sozinha do trabalho.
            – Não importa. Se sou eu quem vai criar, então é meu.
            – Você é mesmo louco.
            – Por te amar? Por amar nosso filho?
            Ela balançou a cabeça com força, demonstrando uma incredulidade exagerada.
            – Esquece isso tudo. Eu não devia ter falado contigo.
            – Não posso esquecer. Eu te amo. Eu amo nosso filho.
            Ela até tinha medo dele, mas a irritação provocou uma raiva muito mais forte do que qualquer temor. Só queria se livrar da situação, e a única maneira era contar logo:
            – Olha só, Ricardo, olha para mim – Ela pegou a cabeça do rapaz com as palmas das mãos – Eu acabei com tudo.
            Ele não entendeu. Ela teve que continuar:
            – Não tem mais. Entendeu? – Ela esperou uma resposta, mas ele limitou-se a encarar os olhos da moça sem esboçar reação – Eu acabei com tudo.
            Ele agarrou os pulsos de Raquel com força. Tanta força e por tanto tempo que ela sentiu as mãos ficarem dormentes.
            – Me solta! – Ela tentou reagir.
            – O que você tá dizendo sua filhinha de papai mimada? – Os olhos dele começaram a mudar, como se tivessem envelhecido – Sua rameira, meretriz!
            Ela só queria ir embora. Só queria que ele morresse. Mas ele insistia em ficar no caminho. Insistia em atrapalhar. Foi divertido por um tempo. Ele era bom de cama, sim, certamente o melhor, mas só isso. Não dava para entender essas atitudes de Ricardo. Por que não a deixava em paz? Ela só queria uma saída, qualquer coisa, e naquele momento, a verdade era a melhor das armas:
            – Acabou, Ricardo. Não tem mais nada entre a gente. Nenhum elo. Acha mesmo que eu ia deixar você destruir minha vida? Acabou!
            Mas ele, além de pobre, era burro, insistiu em atrapalhar, em atravancar sua vida, em não entender.
            – Acabou o que, Raquel?
            Ela puxou os braços com toda a força, as mãos dormentes, quase mortas, os olhos manchados de raiva. Como ela odiava a si mesma por se envolver com Ricardo, como ela odiava esse proletariadozinho.
            – Acabou, idiota! Eu matei o seu filho.

             E pela primeira vez, aquela pele lisa e juvenil em volta dos olhos do rapaz se contraiu em rugazinhas que misturavam ódio, frustração, malícia e dor.


Feuc
Rio de Janeiro, 03 de Junho de 2017
Disciplina: Produção Textual – Professor: Erivelto Reis
Aluno: Peter Larrubia – 1º período Letras (Português/Literaturas)
Exercício: Criar um final alternativo para o conto “Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Telles.

RUGAS
(Peter LaRubia)

Ricardo sempre fazia amizade com crianças. Era um dom natural. Os sobrinhos de Raquel o adoravam, jogavam bola e futebol de botão, ele tinha uma paciência infinita. No segundo mês de namoro ele a pediu em casamento. Sonhava em constituir família e ter seus próprios pimpolhos. Ora, nem emprego ele tinha, vivia de bicos no comércio do tio. Raquel não respondeu, limitou-se a rir. Ele não insistiu. Quando assinou carteira como vendedor no mercado do centro, apareceu com uma pequena bola de futebol, dessas para bebês.
– Ele vai trazer o primeiro caneco pra seleção!
– Quem, Ricardo?
– Heleno Albuquerque da Silva. O maior artilheiro do Brasil! Maior que o próprio Heleno de Freitas.
– Do que você tá falando, seu louco?
– Nosso bebezinho. Nosso filho.
– Eu mereço. – Ela revirou os olhos – Nem vou me casar contigo, Ricardo, ainda mais ter um filho. Volte a estudar, faça uma faculdade de direito ou medicina. Seja homem de verdade. Aí, talvez, eu pense em alguma coisa.
Mas Raquel tinha um fraco além do usual para os desejos da carne. Mantinha relações com Ricardo (só ele?) sem cuidados. Pouco mais de três meses depois sua menstruação, que era pontual, não veio.
– Mas isso é ótimo, amor!
– Ótimo? Só se eu fosse maluca!
Ele escondeu os olhos marejados, aqueles olhos lisos e juvenis. Um misto de felicidade e raiva.
– Eu assinei a carteira. Coisas boas virão. Uma criança vai mudar nossa vida.
Ela se exasperou com a imaturidade e presunção de Ricardo. Logo ela, Raquel de Ávila Albuquerque, ia se misturar com Ricardo da Silva? Devolveu, irritada:
– E tem mais, como você sabe que é seu?
O rosto dele se transformou em algo branco e vazio. Depois se preencheu de puro ódio. Socou a janela e sangue escorreu pelo punho, desceu pelo antebraço e pingou no chão. Raquel soltou uma interjeição de medo e se encolheu. Ele olhou em volta, deu as costas e saiu.
Duas semanas se passaram e Raquel fugia de Ricardo. Dizia que não estava, saía pelos fundos, se esquivava. Até que ele a cercou quando voltava sozinha do trabalho.
– Não importa. Se sou eu quem vai criar, então é meu.
– Você é mesmo louco.
– Por te amar? Por amar nosso filho?
Ela balançou a cabeça com força, demonstrando uma incredulidade exagerada.
– Esquece isso tudo. Eu não devia ter falado contigo.
– Não posso esquecer. Eu te amo. Eu amo nosso filho.
Ela até tinha medo dele, mas a irritação provocou uma raiva muito mais forte do que qualquer temor. Só queria se livrar da situação, e a única maneira era contar logo:
– Olha só, Ricardo, olha para mim – Ela pegou a cabeça do rapaz com as palmas das mãos – Eu acabei com tudo.
Ele não entendeu. Ela teve que continuar:
– Não tem mais. Entendeu? – Ela esperou uma resposta, mas ele limitou-se a encarar os olhos da moça sem esboçar reação – Eu acabei com tudo.
Ele agarrou os pulsos de Raquel com força. Tanta força e por tanto tempo que ela sentiu as mãos ficarem dormentes.
– Me solta! – Ela tentou reagir.
– O que você tá dizendo sua filhinha de papai mimada? – Os olhos dele começaram a mudar, como se tivessem envelhecido – Sua rameira, meretriz!
Ela só queria ir embora. Só queria que ele morresse. Mas ele insistia em ficar no caminho. Insistia em atrapalhar. Foi divertido por um tempo. Ele era bom de cama, sim, certamente o melhor, mas só isso. Não dava para entender essas atitudes de Ricardo. Por que não a deixava em paz? Ela só queria uma saída, qualquer coisa, e naquele momento, a verdade era a melhor das armas:
– Acabou, Ricardo. Não tem mais nada entre a gente. Nenhum elo. Acha mesmo que eu ia deixar você destruir minha vida? Acabou!
Mas ele, além de pobre, era burro, insistiu em atrapalhar, em atravancar sua vida, em não entender.
– Acabou o que, Raquel?
Ela puxou os braços com toda a força, as mãos dormentes, quase mortas, os olhos manchados de raiva. Como ela odiava a si mesma por se envolver com Ricardo, como ela odiava esse proletariadozinho.
– Acabou, idiota! Eu matei o seu filho.
            E pela primeira vez, aquela pele lisa e juvenil em volta dos olhos do rapaz se contraiu em rugazinhas que misturavam ódio, frustração, malícia e dor.


As universidades, a escrita criativa e a formação de escritores

Peter Larrubia


Tenho feito três perguntas para professores universitários, entre eles mestres e doutores, de diversas instituições publicas e privadas da área de Letras:
1) Por que a disciplina Escrita Criativa é praticamente ausente da grade de Letras?
2) Por que, a exemplo do curso de música que forma músicos, de Artes plásticas que forma artistas plásticos, e assim por diante, o curso de letras não forma escritores?
3) É possível ensinar a escrever?
Para a terceira pergunta a reposta foi praticamente unânime: sim. A exemplo do curso de jornalismo, a escrita fluida e atraente pode ser aprendida como um pintor aprende a combinar cores. As divergências começam a surgir quando essa escrita é a de ficção. Voltarei a esse ponto nevrálgico ao final do texto. Por hora, vamos nos deter aos argumentos para as duas primeira perguntas. Elas podem ser encaradas sob três perspectivas: a cultural, a institucional e a pessoal.
A cultural diz respeito aos costumes petrificados no Brasil que nos remetem ao imaginário popular do artista como possuidor de um dom inato. Onde, não só esse dom não pode ser ensinado, mas quem o possui não precisa estudar para aprimora-lo. Vem-me à mente a famigerada frase do jogador de futebol, Romário, “Treinar pra quê, se eu já sei o que fazer?”. E esse jogador é hoje senador da nossa republica. O que diz muito sobre nosso país. No momento, não vou me deter nos porquês, mas tenho convicção de que essa cultura não só é errônea, mas, prejudicial.
A perspectiva institucional diz respeito à história do nascimento das universidades e dos cursos de Letras. Seus fundadores eram críticos, e não escritores. Portanto, carregamos esse legado que foca os estudos universitários em linguística e teoria literária até hoje.
Sobre o ensino e prática da escrita criativa na faculdade sob as perspectivas pessoais, as principais dúvidas que surgiram foram:
- Como julgar a produção do aluno? A resposta vem com outra pergunta: como fazem nos cursos de música e artes plásticas? Bem, vamos ate lá para ver de perto.
- Como chancelar que um aluno tornou-se escritor? Repito a resposta anterior e complemento informando que a PUC do Rio de Janeiro já oferece o curso​ de formação em escritor. como eles procedem? Lembro também que os EUA já fazem isso há décadas. Pesquisemos.
- O contato com grandes escritores e com teoria de nível muito complexo funcionariam como inibidores do aluno que pretende escrever? Claro que não! Estatisticamente pode até existir uma minoria que se sinta intimidada, mas esses já iriam desistir diante de quaisquer outros percalços. A leitura de grandes escritores só vai servir como fonte de pesquisa e inspiração. E o contato com grandes críticos só vai gerar o conhecimento e o rigor necessário para a formação de futuros bons profissionais da escrita de ficção.
Sócrates disse: quem conta histórias rege a sociedade. Hollywood e a indústria da TV perceberam isso há muito tempo. Hoje a China investe massivamente em cinema. A Argentina começou a colocar o cinema como matéria no ensino fundamental. As bienais do livro são testemunhas de verdadeira histeria coletiva por livros: crianças, jovens e adultos devorando histórias e adorando autores. A demanda por cursos e manuais de EC é enorme. Por que a academia de Letras deveria ficar de fora dessa história? (Perdoem o trocadilho).
Não é só uma questão de oportunidade, mas de um dever institucional e intelectual. As universidades devem, diante dessa enxurrada de cursos e manuais de escrita, participar ativamente da formação de escritores e contadores de histórias, garantindo e fomentando uma formação adequada e uma produção de qualidade.


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