Final alternativo de Venha ver o Pôr-do-sol
(Por Michel do Carmo)
Ao chegar à pensão em que morava
de aluguel, Ricardo não parou de pensar um minuto sequer em Raquel, a amada de
sua juventude. Lembrou-se dos bons momentos que passaram juntos, das aventuras,
do período de intensa paixão. Repentinamente, foi tomado de um grande remorso
por ter abandonado-a naquela catacumba sombria e abandonada. Já era noite, a
ocasião era inoportuna para regressar ao local onde deixara sucumbir o grande
amor da sua adolescência.
Quando o relógio marcava cinco
horas da manhã, Ricardo saltou da cama, onde não conseguiu pregar os olhos,
pensando na noite de horror, medo e frio que Raquel enfrentara, como
consequência de sua vingança e ato de loucura. Saiu da pensão às pressas, sendo
observado pela senhora que ele chamava de Medusa, a dona do estabelecimento,
que nada falou, apenas fitou-lhe os olhos, com um ar de curiosidade, espanto e
indagação.
Raquel, por sua vez, também nada
dormira. Entre choros e lamentações, passou a noite horrenda acordada, com
receio de olhar até mesmo para o lado, temendo deparar-se com uma assombração.
Quando aproximava-se a alvorada, irmã do amanhã, uma fresta fresca de sol
invadia o cubículo da catacumba, iluminando e trazendo um pouco de esperança.
-Ah! Louco varrido, desgraçado,
miserável! Quis vingar-se pelo fato de ter sido preterido por mim. É assim que
esse doido quer provar-me seu eterno amor, como sempre me dizia? - indagava
Raquel.
Ricardo então chega ao local do
seu crime perfeito. A tentativa frustrada de acabar com a vida daquela que um
dia o abandonou, fora então jogada por terra. Raquel ouve passos, sente a
atmosfera favorável, como quem nunca deixou de acreditar que poderia se
reverter aquela constrangedora situação. Totalmente envergonhado, Ricardo
adentra o jazigo, desce as escadas.
- Ricardo, seu louco! Tira-me
daqui! Perdeu o juízo, seu moleque!
- Voltei Raquel! Esse abandono,
de apenas algumas horas, era pra te fazer entender o que senti nesses anos em
que fui abandonado por ti.
- Como assim, Ricardo?
- Pois é, Raquel! Ser esquecido e
preterido por quem se ama é uma das dores mais angustiantes que alguém pode
sentir. Você sentiu a dor do abandono, do desprezo, da angústia, do medo e da
solidão? Então, Foi exatamente assim que me senti, todos esses anos.
Os dois saem daquele cemitério
com o coração totalmente dilacerado, cada um à sua maneira. Não trocam mais uma
palavra sequer. Um silêncio ensurdecedor toma conta daquele lugar. Ao descer
aquela ladeira, Raquel toma o primeiro táxi que aparece na estrada e Ricardo
toma o seu rumo à pé. Ali, ele finalmente decide seguir a sua vida, na estrada
do sofrer, entendendo que era chegado o fim daquele conto de fadas. Acabou-se a
ilusão. Já não havia mais como seguir os passos daquela que escolheu viver para
sempre longe da sua paixonite, dos tempos áureos da juventude. Acabou.
Créditos
Michel do
Carmo
Estudante
de Letras, do 1º período.
Além de
futuro educador, é também cantor, compositor e poeta.
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