Mariana
Karina Almeida
Para Suelen Domingos
Entro em casa e Mariana me espera
na sala, no escuro, em seu silêncio apavorante, digno de um filme de terror.
Seus olhos sempre me acompanharam como uma entidade Não importa aonde vá, seus grandes olhos
verdes e acusatórios vão comigo. A cabeça girando, mistura de vodka e
ansiolíticos me fazem esquecer de tudo, só vejo o vultos em todo lugar. A maquiagem borrada e o
cheiro de cigarro, suor e saliva impregnou a sala, fazendo Mariana levantar.
Seu silêncio era ensurdecedor e fétido, como quem vomita toda sua raiva,
desprezo e bile.
colada em meus passos.
Enquanto deixo a água quente cair
no meu corpo, penso que ela era tudo que não tive o dom de ser. Eu gritei sem
palavras que seu amor era prisão, seu amor era um tipo estranho de ódio. Mas a
sua ausência era pior que isso. Não sei ao certo quando nos conhecemos, sinto
que temos uma sina doentia, dependemos desse equilíbrio de almas opostas. Seria
mais fácil assumir seu papel, tudo nela é irritamente perfeito, sincronizado,
eu sou ferro, espinho, desespero e abismo.
Mariana ama educadamente, ama pedindo licença,
sempre disposta ao morno, sempre pronta pra não correr riscos. Ela sabe esperar,
nada a abala, perdão é seu sobrenome e eu ainda não aprendi a perdoar. Meu amor
é exagerado, suicida. Tudo em mim sempre grita, e u gosto do grito! Da minha
liberdade como ferida exposta, de ser agora ou nunca. Não sei esquecer ninguém
apenas me calo e se eu me calo é porque te enterro em meu cemitério e abandono
e esqueço todos os meus mortos. Lembro que um dia você me perguntou quando eu a
enterraria.
Mariana não entende que eu a amo
e que sem ela se dar conta eu roubo sua identidade. Finjo que suas escolhas são
minhas. Faço de meu rosto é nosso, de minha voz nossa e nossa alma se entrelaça
e já não sei o que é meu ou seu, se não fosse pelos teus olhos fora de meu
corpo que insistem em me acompanhar. Meu
karma ou salvação?
Quando se fez manhã o cheiro era
de sangue e sal, naquele momento você gritou e você nunca grita. Aquelas mãos
demoníacas, enraizadas me sufocaram até quase o fim, ficou em mim feito
tatuagem que só conseguimos ver. Mas eu vi teus olhos e desde então fizemos um
pacto sermos uma. Só uma. Afinal sempre fomos desde o dia em que nos separaram.
Desde o dia é que a mão em nosso pescoço nos dividiu? Ou uniu?
Quem detém o amor que cura e que
foi arrebatado pela doçura da insanidade de amar. Eu te ensinei a entrega, você
me ensinou a ter raízes. Ando de mãos dadas comigo e já não quero me soltar.
Hoje chego em casa tarde e Mariana não me espera, ela está comigo em todo
lugar.
Que lindo, Karina.
ResponderExcluirAbraços
�� lindo
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