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Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Aluna Karina Almeida, do Curso de Letras/Literaturas escreve um belo texto no qual a lembrança e o amor às Cartas de Mariana Alcoforado unem-se à amizade fraterna por Suelen Domingos


Mariana

Karina Almeida

Para Suelen Domingos 


Entro em casa e Mariana me espera na sala, no escuro, em seu silêncio apavorante, digno de um filme de terror. Seus olhos sempre me acompanharam como uma entidade   Não importa aonde vá, seus grandes olhos verdes e acusatórios vão comigo. A cabeça girando, mistura de vodka e ansiolíticos me fazem esquecer de tudo, só vejo o  vultos em todo lugar. A maquiagem borrada e o cheiro de cigarro, suor e saliva impregnou a sala, fazendo Mariana levantar. Seu silêncio era ensurdecedor e fétido, como quem vomita toda sua raiva, desprezo e bile. 
colada em meus passos.
Enquanto deixo a água quente cair no meu corpo, penso que ela era tudo que não tive o dom de ser. Eu gritei sem palavras que seu amor era prisão, seu amor era um tipo estranho de ódio. Mas a sua ausência era pior que isso. Não sei ao certo quando nos conhecemos, sinto que temos uma sina doentia, dependemos desse equilíbrio de almas opostas. Seria mais fácil assumir seu papel, tudo nela é irritamente perfeito, sincronizado, eu sou ferro, espinho, desespero e abismo.
 Mariana ama educadamente, ama pedindo licença, sempre disposta ao morno, sempre pronta pra não correr riscos. Ela sabe esperar, nada a abala, perdão é seu sobrenome e eu ainda não aprendi a perdoar. Meu amor é exagerado, suicida. Tudo em mim sempre grita, e u gosto do grito! Da minha liberdade como ferida exposta, de ser agora ou nunca. Não sei esquecer ninguém apenas me calo e se eu me calo é porque te enterro em meu cemitério e abandono e esqueço todos os meus mortos. Lembro que um dia você me perguntou quando eu a enterraria.
Mariana não entende que eu a amo e que sem ela se dar conta eu roubo sua identidade. Finjo que suas escolhas são minhas. Faço de meu rosto é nosso, de minha voz nossa e nossa alma se entrelaça e já não sei o que é meu ou seu, se não fosse pelos teus olhos fora de meu corpo que insistem em me acompanhar.  Meu karma ou salvação?
Quando se fez manhã o cheiro era de sangue e sal, naquele momento você gritou e você nunca grita. Aquelas mãos demoníacas, enraizadas me sufocaram até quase o fim, ficou em mim feito tatuagem que só conseguimos ver. Mas eu vi teus olhos e desde então fizemos um pacto sermos uma. Só uma. Afinal sempre fomos desde o dia em que nos separaram. Desde o dia é que a mão em nosso pescoço nos dividiu? Ou uniu?
Quem detém o amor que cura e que foi arrebatado pela doçura da insanidade de amar. Eu te ensinei a entrega, você me ensinou a ter raízes. Ando de mãos dadas comigo e já não quero me soltar. Hoje chego em casa tarde e Mariana não me espera, ela está comigo em todo lugar.

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