O QUE LER NA
CORRESPONDÊNCIA SENTIMENTAL
Ruy Espinheira
Filho
Não o papel
pautado de azul;
não a escrita
traçada em azul.
A data, o
envelope: não.
Não: a mancha
do carimbo, a metáfora.
Mas o jeito
da mão escriba,
invisa,
os lagos dos olhos
e o vasto que o íntimo
faísca, deflágrima
num espaço mais amplo
que o pintado de azul.
Heleóboro (1966-1973) Parte I: Longe de Sirius
in: Poesia Reunida e Inéditos (1966-1998) – 2ª edição –
Record [p. 13]
CIRCULAÇÃO AMOROSA
Ruy Espinheira Filho
Cuidava que o amor já se findara,
até vê-lo de face, recomposto
entre asfalto e edifício, nuns alindes
de tempo muito outrora merecido.
Cuidava que carpir só me restava,
diante de impassíveis formas neutras,
o meu próprio pretérito exilado
na mais interior e inacessível
ilha que me permito, enquanto a bruma
delia-me, no peito, a tatuagem
celebrante de ingênuos madrigais
compostos entre beijo, espada e rosa.
Cuidava me tornar, fonte exaurida,
um somente lugar no descaminho,
cemitério de seixos, sem o móbil
que cumpre o ser do rio e seu destino.
E nem mais matinava nos mundéus:
a espreita, o soslaio, o sutil
em que se guarda amor no anteminuto
de quando a nossa posse é consumada.
E onde nos consumimos. Ah, cuidava
ser a coisa maninha (alma ou carne)
tudo o que finalmente me compunha,
era eu-mesmo, repleto, concluído.
Como se, antese oculta, vindo amor
fosse momento em branco o onde se enflora
nosso endereço escrito no infinito.
in: Poesia Reunida e Inéditos (1966-1998) – 2ª edição –
Record [p. 26]
3 - Autoridade
Ruy Espinheira Filho
In.: Heleóboro (1966-1973) II Música pretérita [p. 44 - 1998]
Ruy Espinheira Filho
In.: Heleóboro (1966-1973) II Música pretérita [p. 44 - 1998]
O Dr. Juiz de Direito
decidido
mandou prender o bêbado
mandou prender o desordeiro
mandou prender o assassino
e uma vez proibiu os bodoques
para proteger as vidraças.
decidido
mandou prender o bêbado
mandou prender o desordeiro
mandou prender o assassino
e uma vez proibiu os bodoques
para proteger as vidraças.
Mas no fundo das noites
os lobisomens
uivaram e vagaram impunemente
até o fim.
os lobisomens
uivaram e vagaram impunemente
até o fim.
NO BANCO DO JARDIM
Ruy Espinheira
Filho
aos rapazes de 1964
No banco do jardim
viajávamos ao dia.
A um dia além dos galos
que exalavam a manhã.
A um dia além do dia
que nos dissolvia
no banco do jardim.
Nada sabíamos
das estrelas sobre nós,
nem das brancas formas
nevoentas, frias,
de mortos inconformados
à espreita na treva.
Sabíamos do chão,
seu barro, sua pedra.
Sabíamos dos pés
do homem
no chão.
Sabíamos do homem,
seu passo, seu pulso.
Sabíamos no peito
do homem: sua nuvem,
seus fogos e seu
recôndito marulho.
No banco do jardim
já nada se vê
do tempo arquitetado
palavra a palavra;
do homem do sonho
com o rosto iluminado
na tenda comum
sobre o campo semeado.
No banco do jardim
o silêncio monta guarda
à nossa ausência.
Nada fala
do peso de aço nos gestos
não mais alados.
De como é rouca a voz
ensanguentada.
As sombras Luminosas (1975-1980) – 2. O inquilino do
incêndio
in: Poesia Reunida e Inéditos (1966-1998) – 2ª edição –
Record [p. 123-124]
TERCEIRA ELEGIA
URBANA
Ruy Espinheira
Filho
Escuto o vento pesado
que vem ferir a janela:
hálito da cidade, onde
navegam escuras pétalas
de ar morto, mortos perfumes,
ausência de asas, gorjeios
degolados. Nada adianta
fechar janelas e portas
e paredes: esse sopro
destroça a nuvem do peito
e somos só engrenagens
cumprindo a fria tarefa
de edificar o trovão
da cidade.
Sem saber
que para nós, quase todos,
esse amplo ruído é
uma forma de silêncio.
Como o crepitar das chamas
para o inquilino do incêndio.
As sombras Luminosas (1975-1980) – 2. O inquilino do
incêndio
in: Poesia Reunida e Inéditos (1966-1998) – 2ª edição –
Record [p. 136]
SOBRE O AUTOR:
https://academiadeletrasdabahia.wordpress.com/2007/04/28/ruy-espinheira-filho/
Ruy Alberto d’Assis Espinheira Filho nasceu em Salvador, Bahia, no dia 12 de dezembro de 1942, filho de Ruy Alberto de Assis Espinheira, advogado, e Iracema D’Andréa Espinheira, de ascendência italiana. Passou a infância em Poções e a adolescência em Jequié, cidades do Sudoeste baiano. De volta a Salvador, em 1961, estudou no Colégio Central da Bahia e, levado pelo poeta Affonso Manta, que conhecia desde Poções, ingressou no grupo boêmio capitaneado pelo poeta Carlos Anísio Melhor. Ainda nos anos 60, começou a publicar na revista Serial, criada por Antonio Brasileiro, e se iniciou no jornalismo — como cronista da Tribuna da Bahia (1969-1981), onde também trabalhou como copidesque e editor (1974-1980). Colaborou ainda com o Pasquim, como correspondente na Bahia (1976-1981), e foi contratado como cronista diário do Jornal da Bahia (1983-1993). Atualmente assina artigos quinzenais em A Tarde. Convidado pela Fundação Biblioteca Nacional, representou o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, em 2007, e fez parte da Comissão Julgadora do Prêmio Camões de 2008.
Graduado em Jornalismo (1973), mestre em Ciências Sociais (1978) e doutor em Letras (1999) pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, e doutor honoris causa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB (1999), Ruy Espinheira Filho é professor associado do Departamento de Letras Vernáculas do Instituto de Letras da UFBA, membro da Academia de Letras de Jequié e da Academia de Letras da Bahia. Publicou 11 livros de poemas, 8 de ficção e 3 volumes de ensaios literários. Lançou ainda o CD Poemas, gravado pelo próprio autor, com 48 textos extraídos de seus livros, além de alguns inéditos (2001). Contos e poemas seus foram incluídos em diversas antologias, no Brasil e no exterior (Portugal, Itália, França, Espanha e Estados Unidos).
Obras publicadas
POESIA
• Poemas (com Antonio Brasileiro). Feira de Santana-BA: Edições Cordel, 1973.
• Heléboro. Feira de Santana-BA: Edições Cordel, 1974.
• Julgado do vento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
• As sombras luminosas. Florianópolis: FCC Edições, 1981. Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa.
• Morte secreta e poesia anterior. Rio de Janeiro: Philobiblion/INL, 1984.
• A guerra do gato (infantil). Salvador: Jornal da Bahia, 1987; 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
• A canção de Beatriz e outros poemas. São Paulo: Brasiliense/Jornal da Bahia, 1990.
• Antologia breve. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (col. Poesia na UERJ), 1995.
• Antologia poética. Salvador: Copene/Fundação Casa de Jorge Amado, 1996.
• Memória da chuva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996; 3ª impressão 1999. Finalista do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira e do Prêmio Jabuti, ambos em 1997; Prêmio Ribeiro Couto — União Brasileira de Escritores —, 1998.
• Livro de sonetos. Feira de Santana-BA: Edições Cordel, Coleção Poiuy, 1998.
• Poesia reunida e inéditos. Rio de Janeiro: Record, 2ª ed., 1998.
• Livro de sonetos. 2ª. ed. rev. ampl. e il. Salvador: Edições Cidade da Bahia/Capitania dos Peixes, 2000.
• A cidade e os sonhos/Livro de sonetos. Salvador: Edições Cidade da Bahia/Fundação Gregório de Matos, 2003.
• Elegia de agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. Prêmio Academia Brasileira de Letras de Poesia, 2006. No mesmo ano, Prêmio Jabuti (2° lugar), da Câmara Brasileira do Livro, e “Menção Especial” do Prêmio Cassiano Ricardo – UBE/RJ.
• Romance do sapo seco: uma história de assombros. Salvador: Edições Cidade da Bahia, 2005.
• Sob o céu de Samarcanda. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. Finalista do Jabuti e indicado ao Prêmio ugal Telecom, 2010.
• Livro de canções e inéditos. Salvador: P55 edições, 2011.
• Viagem & outros poemas. Salvador: P55 edições, 2011.
• A casa dos nove pinheiros. São Paulo: Dobra Editorial, 2012. Indicado ao Prêmio Portugal Telecom, 213.
• Estação infinita e outras estações – poesia reunida. Rio de Janeiro, 2012.
• Afonso Manta (org.). Salvador, Coleção Mestres da Literatura Baiana, 2013
• Poemas (com Antonio Brasileiro). Feira de Santana-BA: Edições Cordel, 1973.
• Heléboro. Feira de Santana-BA: Edições Cordel, 1974.
• Julgado do vento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
• As sombras luminosas. Florianópolis: FCC Edições, 1981. Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa.
• Morte secreta e poesia anterior. Rio de Janeiro: Philobiblion/INL, 1984.
• A guerra do gato (infantil). Salvador: Jornal da Bahia, 1987; 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
• A canção de Beatriz e outros poemas. São Paulo: Brasiliense/Jornal da Bahia, 1990.
• Antologia breve. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (col. Poesia na UERJ), 1995.
• Antologia poética. Salvador: Copene/Fundação Casa de Jorge Amado, 1996.
• Memória da chuva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996; 3ª impressão 1999. Finalista do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira e do Prêmio Jabuti, ambos em 1997; Prêmio Ribeiro Couto — União Brasileira de Escritores —, 1998.
• Livro de sonetos. Feira de Santana-BA: Edições Cordel, Coleção Poiuy, 1998.
• Poesia reunida e inéditos. Rio de Janeiro: Record, 2ª ed., 1998.
• Livro de sonetos. 2ª. ed. rev. ampl. e il. Salvador: Edições Cidade da Bahia/Capitania dos Peixes, 2000.
• A cidade e os sonhos/Livro de sonetos. Salvador: Edições Cidade da Bahia/Fundação Gregório de Matos, 2003.
• Elegia de agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. Prêmio Academia Brasileira de Letras de Poesia, 2006. No mesmo ano, Prêmio Jabuti (2° lugar), da Câmara Brasileira do Livro, e “Menção Especial” do Prêmio Cassiano Ricardo – UBE/RJ.
• Romance do sapo seco: uma história de assombros. Salvador: Edições Cidade da Bahia, 2005.
• Sob o céu de Samarcanda. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. Finalista do Jabuti e indicado ao Prêmio ugal Telecom, 2010.
• Livro de canções e inéditos. Salvador: P55 edições, 2011.
• Viagem & outros poemas. Salvador: P55 edições, 2011.
• A casa dos nove pinheiros. São Paulo: Dobra Editorial, 2012. Indicado ao Prêmio Portugal Telecom, 213.
• Estação infinita e outras estações – poesia reunida. Rio de Janeiro, 2012.
• Afonso Manta (org.). Salvador, Coleção Mestres da Literatura Baiana, 2013
FICÇÃO
• Sob o último sol de fevereiro (crônicas). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
• O vento no tamarindeiro (contos). Rio de Janeiro: Codecri, 1981.
• Ângelo Sobral desce aos infernos (romance). Rio de Janeiro: Philobiblion/Fundação Rio, 1986 (2º lugar no Prêmio Rio de Literatura — 1985).
• O rei Artur vai à guerra (novela). São Paulo: Contexto, 1987 (finalista do Prêmio Bienal Nestlé, 1986).
• O fantasma da delegacia (novela). São Paulo: Contexto, 1988; 2ª ed. 1989.
• Os quatro mosqueteiros eram três (novela). São Paulo: Contexto, 1989.
• Últimos tempos heróicos em Manacá da Serra (romance). Belo Horizonte, Oficina de Livros, 1991.
• Um rio corre na Lua (romance). Belo Horizonte, Leitura, 2007.
• De paixões e de vampiros: uma história do tempo da Era (romance). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
• Andrômeda e outros contos. Salvador: Caramurê, 2011. 2ª Impressão 2013.
• Sob o último sol de fevereiro (crônicas). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
• O vento no tamarindeiro (contos). Rio de Janeiro: Codecri, 1981.
• Ângelo Sobral desce aos infernos (romance). Rio de Janeiro: Philobiblion/Fundação Rio, 1986 (2º lugar no Prêmio Rio de Literatura — 1985).
• O rei Artur vai à guerra (novela). São Paulo: Contexto, 1987 (finalista do Prêmio Bienal Nestlé, 1986).
• O fantasma da delegacia (novela). São Paulo: Contexto, 1988; 2ª ed. 1989.
• Os quatro mosqueteiros eram três (novela). São Paulo: Contexto, 1989.
• Últimos tempos heróicos em Manacá da Serra (romance). Belo Horizonte, Oficina de Livros, 1991.
• Um rio corre na Lua (romance). Belo Horizonte, Leitura, 2007.
• De paixões e de vampiros: uma história do tempo da Era (romance). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
• Andrômeda e outros contos. Salvador: Caramurê, 2011. 2ª Impressão 2013.
ENSAIO
• O nordeste e o negro na poesia de Jorge de Lima. Salvador: Fundação das Artes/Empresa Gráfica da Bahia, 1990.
• Tumulto de amor e outros tumultos — criação e arte em Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Record, 2001.
• Forma e alumbramento — poética e poesia em Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: José Olympio/Academia Brasileira de Letras, 2004.
• Tumulto de amor e outros tumultos — criação e arte em Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Record, 2001.
• Forma e alumbramento — poética e poesia em Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: José Olympio/Academia Brasileira de Letras, 2004.
PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS
• 25 poetas/Bahia/de 1633 a 1968. Salvador: Atelier Planejamento Gráfico/Desc, 1968.
• Breve romanceiro do Natal. Salvador: Edit. Beneditina Ltda., 1972.
• Contos jovens (nº4). São Paulo: Brasiliense, 1974.
• Carne viva — 1ª Antologia Brasileira de Poemas Eróticos. Org. de Olga Savary. Rio de Janeiro: Anima, 1984.
• Artes e ofícios da poesia. Org. de Augusto Massi. São Paulo/Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura do Município de São Paulo/Artes e Ofícios, 1991.
• Sincretismo — a poesia da geração 60, introdução e antologia. Org. e introd. de Pedro Lyra. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
• O conto baiano contemporâneo. Org. de Valdomiro Santana. Salvador: EGBA/Secretaria da Cultura e Turismo, 1995.
• A poesia baiana no século XX (Antologia). Org., introd. e notas de Assis Brasil. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação Cultural do Estado da Bahia/Imago, 1999.
• Vozes poéticas da lusofonia. Seleção de textos de Luís Carlos Patraquim. Sintra: Câmara Municipal de Sintra/Instituto Camões, 1999.
• 18+1 poètes contemporains de langue portugaise (édition bilingue). Seleção de Nuno Júdice, Jorge Maximino e Pierre Rivas; traduções de Isabel Meyrelles, Annick Moreau e Michel Riaudel. Paris: Instituto Camões/Chandeigne,2000.
• Antologia de poetas brasileiros. Seleção e coordenação de Mariazinha Congílio. Lisboa: Universitária Editora, 2000.
• A paixão premeditada – poesia da geração 60 na Bahia. Seleção, organização, introdução e notas de Simone Lopes Pontes Tavares. Salvador: Fundação Cultural do estado da Bahia/Imago, 2000.
• Antologia de poesia contemporânea brasileira. Organização de Álvaro Alves de Faria. Coimbra: Alma Azul/Ministério da Cultura/Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, 2000.
• O conto em vinte e cinco baianos. Organização, prefácio e notas de Cyro de Mattos. Itabuna (Bahia): Editus, Coleção Nordestina, 2000.
• Os cem melhores poetas brasileiros do século. Seleção de José Nêumanne Pinto. São Paulo: Geração Editorial, 2001.
• Os cem melhores poemas brasileiros do século. Organização, introdução e referências bibliográficas de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
• Poetas da Bahia — Século XVII ao Século XX. Organização de Ildásio Tavares, notas biobibliográficas de Simone Lopes Pontes Tavares. Rio de Janeiro: Imago/FBN, 2001.
• 100 anos de poesia – um panorama da poesia brasileira no século XX. 2 v. Organização de Claufe Rodrigues e Alexandra Maia. Rio de Janeiro: O Verso Edições, 2001.
• Antologia da poesia brasileira/antologia de la poesia brasileña. Organização e introdução de Xosé Lois García. Santiago de Compostela – Galiza: Edicións Laiovento, 2001.
• Poesia brasileira do século XX – dos modernos à actualidade. Seleção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos. Lisboa: Antígona, 2002.
• Poesia straniera – portoghese e brasiliana. Organização de Luciana Stegagno Picchio. Roma: Grupo Editoriale L´Espresso S.p.A., 2004.
• Poesia brasileira hoje. Introdução e organização de Alexei Bueno. Santiago de Compostela: Danú Editorial, 2004.
• El mundo al outro lado (Ochenta fotografias para ochenta poetas). Espanha: Junta de Castilla y León, 2004.
• Antologia panorâmica do conto baiano – século XX. Organização e introdução de Gerana Damulakis. Coleção Nordestina – Editus, Editora da UESC, Ilhéus, Bahia, 2004.
• Os rumos do vento/Los rumbos del viento (Antologia de poesia). Coordenação de Alfredo Pérez Alencart e Pedro Salvado. Salamanca: Câmara Municipal do Fundão/Trilce Ediciones, 2005.
• Quartas histórias – contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa. Organização de Rinaldo de Fernandes. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
• Ficção – histórias para o prazer da leitura. Organização e introdução de Miguel Sanches Neto. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.
• Contos para ler no bar. Organização e introdução de Miguel Sanches Neto. Rio de Janeiro: Record, 2007
• Traversée d’ Óceans – Travessia de Oceanos. Voix poétiques de Bretagne et de Bahia – Vozes poéticas da Bretanha e da Bahia. Edição bilíngue, traduções de Dominique Stoenesco. Paris: Lanore, 2012.
• 25 poetas/Bahia/de 1633 a 1968. Salvador: Atelier Planejamento Gráfico/Desc, 1968.
• Breve romanceiro do Natal. Salvador: Edit. Beneditina Ltda., 1972.
• Contos jovens (nº4). São Paulo: Brasiliense, 1974.
• Carne viva — 1ª Antologia Brasileira de Poemas Eróticos. Org. de Olga Savary. Rio de Janeiro: Anima, 1984.
• Artes e ofícios da poesia. Org. de Augusto Massi. São Paulo/Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura do Município de São Paulo/Artes e Ofícios, 1991.
• Sincretismo — a poesia da geração 60, introdução e antologia. Org. e introd. de Pedro Lyra. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
• O conto baiano contemporâneo. Org. de Valdomiro Santana. Salvador: EGBA/Secretaria da Cultura e Turismo, 1995.
• A poesia baiana no século XX (Antologia). Org., introd. e notas de Assis Brasil. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação Cultural do Estado da Bahia/Imago, 1999.
• Vozes poéticas da lusofonia. Seleção de textos de Luís Carlos Patraquim. Sintra: Câmara Municipal de Sintra/Instituto Camões, 1999.
• 18+1 poètes contemporains de langue portugaise (édition bilingue). Seleção de Nuno Júdice, Jorge Maximino e Pierre Rivas; traduções de Isabel Meyrelles, Annick Moreau e Michel Riaudel. Paris: Instituto Camões/Chandeigne,2000.
• Antologia de poetas brasileiros. Seleção e coordenação de Mariazinha Congílio. Lisboa: Universitária Editora, 2000.
• A paixão premeditada – poesia da geração 60 na Bahia. Seleção, organização, introdução e notas de Simone Lopes Pontes Tavares. Salvador: Fundação Cultural do estado da Bahia/Imago, 2000.
• Antologia de poesia contemporânea brasileira. Organização de Álvaro Alves de Faria. Coimbra: Alma Azul/Ministério da Cultura/Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, 2000.
• O conto em vinte e cinco baianos. Organização, prefácio e notas de Cyro de Mattos. Itabuna (Bahia): Editus, Coleção Nordestina, 2000.
• Os cem melhores poetas brasileiros do século. Seleção de José Nêumanne Pinto. São Paulo: Geração Editorial, 2001.
• Os cem melhores poemas brasileiros do século. Organização, introdução e referências bibliográficas de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
• Poetas da Bahia — Século XVII ao Século XX. Organização de Ildásio Tavares, notas biobibliográficas de Simone Lopes Pontes Tavares. Rio de Janeiro: Imago/FBN, 2001.
• 100 anos de poesia – um panorama da poesia brasileira no século XX. 2 v. Organização de Claufe Rodrigues e Alexandra Maia. Rio de Janeiro: O Verso Edições, 2001.
• Antologia da poesia brasileira/antologia de la poesia brasileña. Organização e introdução de Xosé Lois García. Santiago de Compostela – Galiza: Edicións Laiovento, 2001.
• Poesia brasileira do século XX – dos modernos à actualidade. Seleção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos. Lisboa: Antígona, 2002.
• Poesia straniera – portoghese e brasiliana. Organização de Luciana Stegagno Picchio. Roma: Grupo Editoriale L´Espresso S.p.A., 2004.
• Poesia brasileira hoje. Introdução e organização de Alexei Bueno. Santiago de Compostela: Danú Editorial, 2004.
• El mundo al outro lado (Ochenta fotografias para ochenta poetas). Espanha: Junta de Castilla y León, 2004.
• Antologia panorâmica do conto baiano – século XX. Organização e introdução de Gerana Damulakis. Coleção Nordestina – Editus, Editora da UESC, Ilhéus, Bahia, 2004.
• Os rumos do vento/Los rumbos del viento (Antologia de poesia). Coordenação de Alfredo Pérez Alencart e Pedro Salvado. Salamanca: Câmara Municipal do Fundão/Trilce Ediciones, 2005.
• Quartas histórias – contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa. Organização de Rinaldo de Fernandes. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
• Ficção – histórias para o prazer da leitura. Organização e introdução de Miguel Sanches Neto. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.
• Contos para ler no bar. Organização e introdução de Miguel Sanches Neto. Rio de Janeiro: Record, 2007
• Traversée d’ Óceans – Travessia de Oceanos. Voix poétiques de Bretagne et de Bahia – Vozes poéticas da Bretanha e da Bahia. Edição bilíngue, traduções de Dominique Stoenesco. Paris: Lanore, 2012.
EM CD
•“História”. Leitura de Maria Barroso. Vozes poéticas da lusofonia. Sintra: Gravisom, 1999.
• Poemas. Leitura do autor. Salvador: Grandes Autores/Capitania dos Peixes, 2001.
•“História”. Leitura de Maria Barroso. Vozes poéticas da lusofonia. Sintra: Gravisom, 1999.
• Poemas. Leitura do autor. Salvador: Grandes Autores/Capitania dos Peixes, 2001.
O poeta da memória |
Ruy Espinheira Filho
|
poesia.net
CANÇÃO DA MOÇA DE DEZEMBRO
A moça dança comigo
nessa noite de dezembro.
Na sala onde giramos
se alguém mais há não me lembro.
O ondear da moça ondeia
uma melodia ainda
mais doce que a da vitrola
— e uma alegria vinda
dessa doçura me envolve.
Cabe bem no meu abraço
esse perfume com que
vou girando e em que me abraso
em meus quinze anos (a moça
terá, talvez, dezessete
ou dezoito). Como a valsa,
a vida o melhor promete.
E já oferta: esse corpo
a cada instante mais perto.
Ao qual responde meu corpo,
como nunca antes desperto.
E a moça vai-me queimando
em seu hálito, afogando-me
nos cabelos, e nos olhos
luminosos siderando-me!
E eis que, dançando, saímos
além da sala e do tempo.
E dançando prosseguimos
sempre que sopra dezembro,
nos mesmos giros suaves,
nos mesmos ledos enganos:
eu, o antigo rapaz,
e a moça, morta há treze anos.
BLIND BORGES
La vasta y vaga y necesaria muerte.
Jorge Luis Borges: Blind Pew
A vasta e vaga morte, esse outro sonho,
não é só outro sonho: é a mais remota
ilha de ouro a que nossa derrota
nos leva, inexorável, sonho a sonho.
Latidos pelos cães, sonho após sonho,
sonhamos. Esta é a vida, a vela, a rota
do homem: sonhar. E em áurea praia ignota
sonha o que sonha o sonhador, que é sonho.
Isto é o que pulsa em nós: o ansiado ouro
— distante e aqui, no coração —, tesouro
cuja procura tece a nossa sorte;
rumo que a alma singra e sagra em ouro
até chegar enfim a esse tesouro
incorruptível que nos sonha a morte.
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2003
• Ruy Espinheira Filho
In Poesia Reunida e Inéditos (1966-1998)
Editora Record, 2a. ed.
Rio de Janeiro, 1998
Com Pessoa e Sá-Carneiro |
Ruy Espinheira Filho
|
poesia.netwww.algumapoesia.com.br
DE SÚBITO, DO NADA, UMA CARTA
1
Sá-Carneiro disse, em carta, não incomodá-lo muito a
[ possibilidade
de suicídio,
mas a consciência de
ter de morrer forçosamente um dia.
Seu correspondente deve ter pensado em tais palavras
[ muitas vezes
ao escrever certos versos,
como, por exemplo
(16 anos mais tarde, com a alma já por si conturbada
de Álvaro de Campos)
alguns de Tabacaria,
nos quais observou que o dono da loja morreria,
como ele próprio,
um deixando a tabuleta, o outro versos,
que a certa altura também morreriam,
como morreria depois a rua onde estivera a tabuleta
e a língua em que foram escritos os versos,
e, por fim, o planeta girante em que tudo isto se deu.
Sim, tais reflexões já tumultuavam Sá-Carneiro,
mas com menos longo sofrimento,
porque logo soube livrar-se delas com
cinco frascos de arseniato de estricnina
em 26 de abril de 1916,
aos 26 anos de idade.
às 8 da noite, no Hotel Nice,
Paris. E assim
terminou o tormento do Esfinge Gorda,
como certa vez se definiu.
E que ainda mais gorda e com mais mistérios de esfinge ficou,
após a morte,
avolumando-se a ponto de mal caber no caixão,
tornando definitivamente impossível que seu enterro fosse levado sobre um burro,
como pedira num poema,
embora tivesse lembrado
(como se antevendo sua última vontade
não sendo respeitada)
que a um morto nada se recusa,
e insistindo mesmo, peremptório:
E eu quero por força ir de burro.(Não, ninguém se moveu para encontrar um burro capaz
de tal façanha,
ainda que não — como pedido —
ajaezado à andaluza.Sim, a um morto tudo pode ser
recusado.)
Yves Tanguy (1900-1955), americano, The furniture of time
2
Não sei como as linhas acima se escreveram,
pois não havia pensado em nada parecido.
Pelo que recordo, pensara que estava velho,
não propriamente por me sentir assim,
mas por constatar que de então a agora
passara muito tempo.
É a lógica, bastante desagradável:
se muito tempo passou desde a nossa juventude
não há o que discutir: estamos velhos.
Quanto mais tempo, mais velhos.
Sem dúvida, o que de melhor havia no Paraíso,
antes da descoberta do fruto do bem e do mal,
era a ausência de lógica. Não houve nenhuma lógica
na Criação,
as possíveis justificativas do Criador não têm lógica.
Apenas, entediado por tamanha Eternidade,
Ele resolveu brincar de Deus. E, como não havia
nenhuma lógica em tudo isso
(pois só uma absoluta falta de lógica admitiria a criação de algo
tão tentador que poria fatalmente em risco o equilíbrio do Éden),
deu no que deu.
Salvador Dalí (1904-1989), catalão, A persistência da memória
3
Coisas assim é que eu pensava,
quando saltou do nada a carta do poeta
para outro poeta.
Assim me tem sido a vida com frequência:
tarda (às vezes indefinidamente) no que espero
e de súbito serve
o inesperado.
Tudo bem, contando que não venha a lógica
deduzir que eu tenha forçosamente de estar velho
já que de então a agora muito tempo passou.
O tempo, que se oferece ironicamente em Ontem
(que já não é),
Hoje
(que acabou de ser)
e Amanhã
(que, se chegar, não chegará,
pois logo será o que acabou de ser,
o que já não é).
Enfim, envolvido em incômodos
similares aos meus,
e em linguagem bem melhor,
suspirou Ricardo Reis: ... e quanto pouco falta
para o fim do futuro!
Joan Miró (1893-1983), catalão, O caçador
4
Ah, o quanto pouco falta...
Aliás, uma característica do tempo: subtrair-se avaramente,
sobretudo quando gostaríamos que permanecesse mais...
Difícil acreditar que faz pouco,
muito pouco,
estávamos todos aqui...
E então, de súbito,
tivemos e temos que
forçosamente morrer...5
Bem, Sá-Carneiro resolveu tudo por conta própria,
interrompendo o que sentia como apenas cruel alongamento
[ do tempo;
apagando os remorsos que eram como
terraços sobre o Mar,
deixando-nos as palavras com que também gostaríamos de abrir
docemente
a nossa noite:
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
Carlos Machado, 2012
Foto: Academia de Letras da Bahia
Ruy Espinheira Filho
• A casa dos nove pinheiros
Dobra Editorial, São Paulo, 2012
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* Francisco Carvalho, "Pomar Alheio",
in O Silêncio é uma Figura Geométrica (2002)
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