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Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Poesia Portuguesa MusIcAda - Volume 4 - Álbum Completa - Produzido por Erivelto Reis

Poesia Portuguesa MusIcAda - Volume 4 - Álbum Completa - Produzido por Erivelto Reis 

 

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Poesia Portuguesa MusIcAda - Álbum Completo - Volume 4 [junho/julho - 2025] (Projeto educacional - audiolivro - sem fins lucrativos) Poemas da Literatura Portuguesa musIcAdos com recursos de IA, visando à formação de público leitor. Produzido e Idealizado pelo Prof. Erivelto Reis - 2025. Projeto Euterpe, Erato & Erivelto Reis. Idealização, Repertório e Produção: Erivelto Reis Ficha técnica: Imagens criadas com Prompts no Copilot e Gemini: Azulejos portugueses como capas de discos de vinil. A correlação entre a poesia portuguesa e sua materialização através do design dos azulejos que remetem à história e à cultura de Portugal e o vinil como elemento-símbolo da música numa alusão ao tempo outro menos tecnológico e mais artesanal. Edição de áudio: Programa Audacity Produção de vídeo: Programa Canva Imagens produzidas com recursos de IA: Gemini e Copilot Produção das canções: Suno IA 00:00 Meditação – Sophia de Mello Breyner Andresen – Para Ida Alves 03:20 Mar português – Fernando Pessoa – Para Ricardo Cavaliere 06:40 Pequena canção à mulher – Maria Teresa Horta – Para Teresa Cerdeira 08:31 Declaração – José Régio – Para André Dias 10:34 Para atravessar contigo o deserto do mundo – Sophia de Mello Breyner Andresen – 
Para Gilda Santos 13:01 Autopsicografia – Fernando Pessoa – Para Julio Correa 15:52 Poema dum funcionário cansado – António Ramos Rosa – Para Alberto Pereira 19:33 És dos céus o composto mais brilhante –[Manuel Maria Barbosa du Bocage – Para Silvio Renato Jorge 22:54 Cantiga, partindo-se – Garcia de Resende – Em memória de Maria Luiza Ritzel Remédios 25:08 O livro dos amantes – Natália Correia – Mário César Lugarinho Bônus 27:55 Meditação (versão 2) – Sophia de Mello Breyner Andresen – Para Nazir Can 30:48 Poema dum funcionário cansado (versão 2) – António Ramos Rosa – Para Ana Elisa Ribeiro

Poesia Portuguesa MusIcAda - Volume 3 - Álbum Completo - Produzido por Erivelto Reis

 Poesia Portuguesa MusIcAda - Volume 3 - Álbum Completo - Produzido por Erivelto Reis 

 

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Poesia Portuguesa MusIcAda - Álbum Completo - Volume 3 [maio/junho - 2025] (Projeto educacional - audiolivro - sem fins lucrativos) Poemas da Literatura Portuguesa musIcAdos com recursos de IA, visando à formação de público leitor. Produzido e Idealizado pelo Prof. Erivelto Reis - 2025. Projeto Euterpe, Erato & Erivelto Reis. Idealização, Repertório e Produção: Erivelto Reis Ficha técnica: Imagens criadas com Prompts no Copilot e Gemini: Azulejos portugueses como capas de discos de vinil. A correlação entre a poesia portuguesa e sua materialização através do design dos azulejos que remetem à história e à cultura de Portugal e o vinil como elemento-símbolo da música numa alusão ao tempo outro menos tecnológico e mais artesanal. Edição de áudio: Programa Audacity Produção de vídeo: Programa Canva Imagens produzidas com recursos de IA: Gemini e Copilot Produção das canções: Suno IA 00:00 Existem Pedras – Maria Teresa Horta – Para Ronaldo Lima Lins 02:38 Transforma-se o amador na coisa amada – Luís de Camões – Para Rosemary Gonçalo Afonso 05:08 Amiga – Florbela Espanca – Ana Cristina Comandulli 08:08 Monólogo do Báltico V – Alberto Pereira - Em memória de Evanildo Bechara 11:41 Quem me dera que eu fosse o pó da estrada XXVIII – Alberto Caeiro – Para Rafael Santana 15:02 Sem remédio – Florbela Espanca – Para Sofia de Sousa Silva 17:46 O meu olhar é nítido como um girassol II – Alberto Caeiro – Para Eduardo da Cruz 21:23 Teoria sentada V – Herberto Helder – Para Andreia Castro 24:42 Sete anos de pastor – Luís de Camões – Para Monica Genelhu Fagundes 27:26 Ode à paz – Natália Correia – Para Claudia Barbieri 30:31 Casa/Breve encontro – Sophia de Mello Breyner Andresen – Para Maria Teresa 34:20 Existem pedras (Versão 2) – Maria Teresa Horta – Para Cinda Gonda 

Poesia Portuguesa MusIcAda - Álbum Completo - Volume 2 - Produzido por Erivelto Reis

 Uma fase de muita efervescência. 

Poesia Portuguesa MusIcAda - Volume 2 - Álbum Completo - Produzido por Erivelto Reis 

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 Poemas da Literatura Portuguesa musIcAdos com recursos de IA, visando à formação de público leitor no Ensino Médio. Prof. Erivelto Reis - 2025. Projeto Euterpe, Erato & Erivelto Reis. Idealização, Repertório e Produção: Erivelto Reis Ficha técnica: Imagens criadas com Prompts no Copilot e Gemini: Azulejos portugueses como capas de discos de vinil. A correlação entre a poesia portuguesa e sua materialização através do design dos azulejos que remetem à história e à cultura de Portugal e o vinil como elemento-símbolo da música numa alusão ao tempo outro menos tecnológico e mais artesanal. Edição de áudio: Programa Audacity Produção de vídeo: Programa Canva Poesia Portuguesa MusIcAda - Volume 2 [abril/maio - 2025] (Projeto educacional - audiolivro - sem fins lucrativos) 00:00 Faixa 1 – A cor da liberdade – Jorge de Sena – Para Cícero César 02:29 Faixa 2 – Um poeta barroco – Ana Hatherly – Para Carmen Lucia Tindó 04:37 Faixa 3 – Se eu morrer amanhã – Rosa Lobato de Faria – Para Mauro Dunder 07:32 Faixa 4 – Carta à amada – Herberto Helder – Para Claudia Amorim 10:13 Faixa 5 – Ser Poeta – Florbela Espanca – Para Gerson Roani 13:01 Faixa 6 – Mar/Inscrição – Sophia de Mello Breyner Andresen – Para Anabelle Loivos 16:30 Faixa 7 – Vaidade – Florbela Espanca – Para Flávio Pimentel 19:29 Faixa 8 – Segue o teu destino/Para ser grande – Fernando Pessoa – Para Ágatha Cristina 23:26 Faixa 9 – Canção tão simples – Manuel Alegre – Para Maria Helena Sansão 25:51 Faixa 10 – Comigo me desavim – Sá de Miranda – Para André Carneiro 28:12 Faixa 11 – Comigo me desavim – Sá de Miranda (Versão 2) – Para Cintia Kütter 29:34 Faixa 12 – A cor da liberdade – Jorge de Sena (Versão 2) – Para Marcos Pasche

 

sábado, 19 de julho de 2025

FAIXA 6 - VOLUME 2- MAR/INSCRIÇÃO - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - Poesia Portuguesa MusIcAda - Produzido por Erivelto Reis

FAIXA 6 - VOLUME 2 

MAR/INSCRIÇÃO - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - 

Poesia Portuguesa MusIcAda - Produzido por Erivelto Reis 

Projeto Euterpe, Erato & Erivelto Reis - Poesia Portuguesa MusIcAda (2025)

Idealização e Produção: Erivelto Reis

 


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A FAIXA É UMA UNIÃO DE DOIS POEMAS DE SOPHIA

[Mar]

Mar, metade da minha alma é feita de maresia

Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,

Que há no vasto clamor da maré cheia,

Que nunca nenhum bem me satisfez.

E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia

Mais fortes se levantam outra vez,

Que após cada queda caminho para a vida,

Por uma nova ilusão entontecida.

 

E se vou dizendo aos astros o meu mal

É porque também tu revoltado e teatral

Fazes soar a tua dor pelas alturas.

E se antes de tudo odeio e fujo

O que é impuro, profano e sujo,

É só porque as tuas ondas são puras.

[Inscrição]

Quando eu morrer voltarei para buscar

Os instantes que não vivi junto do mar.

 

Poema “Mar” de Sophia de Mello Breyner Andresen

Este poema, com sua linguagem rica e sensorial, estabelece uma profunda identidade entre o eu lírico e o mar. A "metade da minha alma é feita de maresia" imediatamente conecta a essência do ser com o oceano, sugerindo uma natureza intrinsecamente ligada à inquietação e nostalgia.

A analogia entre a maré cheia e a insatisfação pessoal ("nunca nenhum bem me satisfez") revela uma busca incessante por algo que transcende o tangível. O mar, com suas ondas que se "levantam outra vez" após se desfazerem na areia, torna-se uma metáfora para a resiliência e a capacidade de superação do eu lírico ("após cada queda caminho para a vida"). A "nova ilusão entontecida" indica um ciclo contínuo de esperança e recomeço, mesmo diante das adversidades.

A dor compartilhada com o mar ("também tu revoltado e teatral / Fazes soar a tua dor pelas alturas") universaliza o sofrimento, tornando-o parte de um lamento cósmico. Finalmente, a pureza das ondas justifica a aversão do eu lírico ao que é "impuro, profano e sujo", elevando o mar a um símbolo de purificação e integridade. O poema, assim, explora temas como a busca, a resiliência, a dor existencial e a pureza, tudo sob a poderosa influência do elemento marinho.

Poema “Inscrição” de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Este minúsculo poema, um dístico, é uma poderosa declaração sobre arrependimento e desejo eterno. A frase "Quando eu morrer voltarei para buscar" estabelece um tom de promessa solene e inadiável, transcendendo a própria morte. O objeto dessa busca é precisamente o que faltou em vida: "Os instantes que não vivi junto do mar".

O mar aqui não é apenas um cenário, mas um símbolo de plenitude, liberdade e talvez de uma paz inatingível durante a existência terrena do eu lírico. Há uma clara nostalgia antecipada pelo que não foi vivido, uma melancolia pela oportunidade perdida que só a morte, paradoxalmente, parece capaz de corrigir. O poema, em sua concisão, evoca a fragilidade da vida e a força dos anseios não realizados, sugerindo que certos desejos são tão profundos que persistem para além da mortalidade. É um convite à reflexão sobre as prioridades e o valor do tempo presente.

SOBRE A AUTORA

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das vozes mais proeminentes da poesia portuguesa do século XX. Nascida no Porto, desde cedo manifestou uma profunda ligação à literatura e à cultura. Estudou Filologia Clássica em Lisboa, embora não tenha concluído o curso, e publicou os seus primeiros versos em 1940.

Sua obra poética é marcada pela linguagem clara e precisa, uma busca constante pela transparência e uma profunda conexão com a natureza, especialmente o mar, que se torna um elemento recorrente e simbólico em seus poemas. O mar em Sophia não é apenas paisagem, mas espelho da alma, lugar de liberdade, pureza e mistério.

Além da natureza, temas como a justiça, a liberdade e a ética permeiam sua escrita. Sophia de Mello Breyner foi uma figura engajada politicamente, participando ativamente na luta contra a ditadura e, após a Revolução de 1974, foi eleita deputada. Para ela, a poesia era um ato de resistência, uma forma de lutar por um mundo mais justo.

Entre suas obras mais conhecidas estão "Poesia" (1944), "Mar Novo" (1958), "O Nome das Coisas" (1977), e "Coral". Além da poesia, escreveu contos e livros infantis aclamados, como "A Menina do Mar" e "A Fada Oriana".

Sophia de Mello Breyner Andresen foi a primeira mulher portuguesa a receber o prestigiado Prémio Camões (1999) e seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional em 2014, um reconhecimento de sua importância incontestável para a cultura portuguesa. Sua poesia continua a ressoar pela sua beleza, profundidade e a forma como celebra a vida e os elementos essenciais da existência.

 


 

 

domingo, 13 de julho de 2025

FAIXA 5 - VOLUME 2 - SER POETA - FLORBELA ESPANCA - Poesia Portuguesa MusIcAda - Produzido por Erivelto Reis

 FAIXA 5 - VOLUME 2  

Ser Poeta  - Florbela Espanca

Poesia Portuguesa MusIcAda - Produzido por Erivelto Reis

Projeto Euterpe, Erato & Erivelto Reis - Poesia Portuguesa MusIcAda (2025)

Idealização e Produção: Erivelto Reis

 


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O soneto "Ser poeta" é um verdadeiro manifesto da visão de Florbela sobre a arte de criar, um autorretrato do poeta e, por extensão, da própria autora. Desde o primeiro verso, "Ser poeta é ser mais alto, é ser maior / Do que os homens!", a poeta estabelece a elevada condição do ser poético. Não se trata de uma superioridade arrogante, mas de uma capacidade de transcender a realidade ordinária, de enxergar e sentir para além do comum. Essa elevação confere ao poeta uma perspectiva singular, um olhar que capta nuances imperceptíveis aos demais.

A contradição é um elemento central no poema, refletindo a complexidade da alma poética. "Morder como quem beija!" expressa a dualidade entre a ferocidade da paixão e a ternura do afeto, a capacidade do poeta de amar intensamente, mesmo que isso implique dor ou angústia. Essa ambivalência se repete em "É ser mendigo e dar como quem seja / Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!". O poeta é, ao mesmo tempo, aquele que se sente desamparado, carente de tudo, e o que possui uma riqueza interior tão vasta que pode ofertá-la generosamente, dominando tanto as alegrias ("Aquém") quanto as tristezas ("Além Dor"). Essa ideia de ser mendigo e rei simultaneamente sublinha a extrema sensibilidade do poeta, que experimenta a vida em suas maiores e menores manifestações.

A busca por algo inatingível e a própria ignorância sobre o que se busca são temas recorrentes na obra de Florbela, e aqui se manifestam em "É ter de mil desejos o esplendor / E não saber sequer que se deseja!". Essa frase revela uma inquietude constante, uma sede insaciável por algo indefinido, mas que emana um brilho intenso. O poeta vive em um estado de perpétua aspiração, movido por uma força interna que ele mesmo não consegue nomear ou delimitar.

A imagem do "astro que flameja" dentro do poeta evoca a paixão ardente e a inspiração incessante. Essa chama interna é a fonte de sua criatividade, uma energia vital que o impulsiona a expressar-se. A comparação com "garras e asas de condor" reforça a ideia de um ser dotado de poder e liberdade, capaz de ascender aos céus da imaginação e, ao mesmo tempo, de agarrar-se firmemente à realidade, transformando-a em poesia. O condor, majestoso e solitário, simboliza a natureza muitas vezes isolada e grandiosa do poeta.

O terceiro quarteto aprofunda a ideia da ânsia por algo grandioso e transcendental: "É ter fome, é ter sede de Infinito!". Essa busca incessante pelo ilimitado, pelo que está além da compreensão humana, é uma característica marcante da lírica de Florbela. O poeta não se contenta com o finito, com o terreno; sua alma anseia por algo maior, que preencha seu vazio existencial. "Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…" é uma imagem poética de grande beleza, onde o "elmo" (capacete de proteção) do poeta é feito de elementos luminosos e delicados, sugerindo que sua defesa e sua coroa são a própria beleza e a efemeridade das manhãs, com seu brilho e sua suavidade. É uma armadura de sonho e sensibilidade.

O verso "É condensar o mundo num só grito!" é de uma força e concisão impressionantes. Ele expressa a capacidade do poeta de sintetizar a complexidade da existência humana em uma única expressão, em um lamento, um desabafo ou uma celebração que ecoa a totalidade da vida. É a voz do poeta que, com um único som, pode abarcar a imensidão do universo.

Os dois últimos versos do poema marcam uma virada pessoal e intensamente lírica: "E é amar-te, assim, perdidamente… / É seres alma, e sangue, e vida em mim / E dizê-lo cantando a toda a gente!". Aqui, a definição do poeta se funde com a experiência amorosa. A universalidade da arte poética se conecta com a particularidade de um amor avassalador. O "tu" a quem o poema se dirige torna-se a essência da existência do eu-lírico ("alma, e sangue, e vida em mim"). Essa paixão intensa não é guardada em segredo; pelo contrário, é "dizê-lo cantando a toda a gente!", transformando o amor pessoal em canto universal, em poesia que se espalha e se compartilha. Essa fusão do íntimo com o público, do particular com o universal, é uma das marcas registradas da poesia de Florbela.

"Ser poeta" é, portanto, um poema que desvenda a complexidade da condição poética sob a ótica de Florbela Espanca: a elevação, a dualidade, a busca incessante, a paixão ardente, a capacidade de síntese e, finalmente, a fusão indissolúvel entre a vida, o amor e a arte. É um mergulho na psique da poeta, revelando sua sensibilidade exacerbada e sua entrega total à experiência de sentir e de transpor essa vivência para a palavra.

 

Biografia de Florbela Espanca

Florbela Espanca, nascida Florbela de Alma da Conceição Espanca em Vila Viçosa, Alentejo, em 8 de dezembro de 1894, foi uma das mais notáveis e atormentadas poetas portuguesas do século XX. Sua vida, marcada por amores intensos, perdas dolorosas e uma incessante busca por reconhecimento e compreensão, reflete-se profundamente em sua obra, tornando-a uma figura emblemática do simbolismo e do início do modernismo em Portugal, com uma voz singular que, ainda hoje, ressoa com força.

Infância e Primeiros Anos

Florbela foi filha ilegítima de António Augusto Espanca, um comerciante, e de Antónia da Conceição Lobo, uma empregada doméstica. Essa condição de ilegitimidade, um estigma social na época, certamente marcou sua infância e influenciou sua sensibilidade. Seu pai, embora não a reconhecesse legalmente de imediato, manteve certa proximidade e, posteriormente, ofereceu-lhe apoio financeiro. Florbela foi criada por seu pai e sua madrasta, Mariana Espanca, a quem dedicava grande carinho.

Desde cedo, Florbela demonstrou uma inteligência aguçada e uma paixão pela literatura. Sua inclinação para a escrita era evidente, e ela começou a compor versos ainda muito jovem. Aos 16 anos, em 1910, publicou seus primeiros poemas em jornais locais, sob o pseudônimo de "Gypsy", o que já indicava um espírito livre e inquieto.

A Vida Estudantil e os Primeiros Casamentos

Em 1917, Florbela ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde se tornou uma das primeiras mulheres a frequentar o curso superior em Portugal. Nesse período, ela se destacou por sua vivacidade e inteligência, mas também por uma sensibilidade que a tornava vulnerável às turbulências emocionais.

Sua vida amorosa foi intensa e, muitas vezes, tumultuada. Florbela casou-se pela primeira vez em 1913, aos 19 anos, com Alberto Moutinho, colega de colégio. O casamento, porém, não durou muito. Em 1921, casou-se novamente com António Guimarães, um alferes, de quem se divorciaria em 1925. Essas experiências conjugais, frequentemente frustradas, contribuíram para a sua visão, muitas vezes melancólica e desencantada, sobre o amor e as relações humanas, temas recorrentes em sua poesia.

A Busca por Reconhecimento e a Publicação de Suas Obras

Apesar das dificuldades pessoais, Florbela nunca abandonou a escrita. Sua poesia, carregada de lirismo e uma profunda exploração da alma feminina, começou a ganhar visibilidade. Em 1919, publicou seu primeiro livro de versos, "Livro de Mágoas", que já revelava a intensidade e a dor que marcariam sua obra. O livro foi bem recebido pela crítica e pelo público, consolidando seu nome no cenário literário português.

Em 1923, publicou "Livro de Sóror Saudade", uma obra que aprofundava os temas da solidão, do desejo e da busca por um amor idealizado. Esse livro, considerado por muitos como o mais maduro de sua produção, reforçou sua posição como uma das vozes mais originais da poesia portuguesa de seu tempo.

As Perdas e a Fragilidade Emocional

A vida de Florbela foi assombrada por uma série de perdas devastadoras que minaram sua já frágil saúde mental. Em 1927, perdeu seu irmão mais novo, Apeles Espanca, em um trágico acidente de avião. A morte de Apeles, a quem era profundamente ligada e considerava seu confidente e alma-gêmea, foi um golpe avassalador para a poeta. A partir desse momento, sua saúde psíquica deteriorou-se consideravelmente, e ela entrou em um estado de profunda melancolia e depressão.

Em 1929, Florbela casou-se pela terceira e última vez com Mário Lage, um médico. Embora Mário fosse um companheiro atencioso e solidário, a depressão de Florbela se agravava, e ela vivia em um estado de angústia constante, muitas vezes internada em sanatórios.

O Fim Trágico e o Legado

Florbela Espanca cometeu suicídio em 8 de dezembro de 1930, no dia de seu 36º aniversário, em Matosinhos. Sua morte prematura e trágica chocou o meio literário e a sociedade portuguesa. Deixou para a posteridade uma obra que, embora marcada pela dor e pela melancolia, é também um testemunho de uma força vital inquebrantável e de uma profunda sensibilidade artística.

Postumamente, foram publicadas várias de suas obras, incluindo a coletânea "Charneca em Flor" (1931), considerada por muitos como seu testamento poético, e o "Diário do Último Ano", que revela a intensidade de seus pensamentos e sentimentos em seus últimos meses de vida.

O Legado de Florbela Espanca

Florbela Espanca é hoje reconhecida como uma das mais importantes vozes da poesia portuguesa. Sua obra, permeada por temas como o amor (muitas vezes idealizado e não correspondido), a morte, a solidão, a dor, a condição feminina e a busca incessante pelo infinito, continua a emocionar e a inspirar leitores de todas as gerações.

Ela explorou com maestria o soneto, forma poética que dominava com rara habilidade, conferindo-lhe uma sonoridade e uma musicalidade únicas. Sua linguagem, rica em metáforas e imagens vívidas, é marcada por uma profunda subjetividade e uma exploração corajosa dos sentimentos mais íntimos. Florbela foi uma precursora ao abordar abertamente a sexualidade e o desejo feminino em seus versos, o que era incomum para a época.

A intensidade de sua vida e de sua poesia, bem como sua morte trágica, contribuíram para a formação de um mito em torno de sua figura, tornando-a um símbolo da mulher artista que viveu sua arte com paixão e entrega total. A obra de Florbela Espanca transcende o tempo, permanecendo como um grito de alma que ecoa na literatura e na memória cultural de Portugal e do mundo lusófono.

 

A análise do poema "Ser poeta" e a biografia de Florbela Espanca se entrelaçam para formar um panorama completo da artista e da mulher. O poema, um autorretrato da alma poética, ganha ainda mais profundidade quando compreendido à luz de sua trajetória pessoal, marcada por amores, perdas e uma sensibilidade exacerbada. A vida de Florbela foi, ela mesma, um poema vivido, com toda a sua intensidade, suas contradições e sua busca incessante por um sentido maior para a existência. Sua obra é um convite a mergulhar nas profundezas da alma humana, uma jornada que, embora por vezes dolorosa, é sempre enriquecedora.