Ao reencontrar a aluna Cássia Cristina, agora no 5º período, ela recomendou-me a leitura de um conto escrito durante uma das Disciplinas ministradas pela querida Professora Norma em 2011.2 e publicado no Blog do NEL - Núcleo de Estudos da Linguagem das FIC em 2012.1. Reproduzo aqui o belo e emocionante conto escrito por Cássia. Att. Erivelto Reis
O Amor Jamais Acaba
por Cássia Cristina Gomes Ribeiro
Foi naquela noite fria do dia 07 de junho de 1995, no ponto
de ônibus enfrente a Cinelândia no Rio de Janeiro, que Carlos conheceu
Maria. Uma mulher cheia de encantos e
surpreendente. Seus cabelos e olhos negros reluzentes, o corpo sinuoso que o
impactou. Carlos aproveitou a demora do ônibus e encheu-se de coragem para
aproximar-se dela. Mas, quanto mais próximo estava sentia suas pernas bambas e
sua coragem sair correndo. Maria não resistiu e perguntou?
-Você está
bem? O que houve? Está pálido.
-Estou bem,
deve ser um mal estar. Qual é o seu nome?
-Maria. E o
seu?
-Eu, eu me
chamo Carlos. Você mora próximo daqui?
-Sim, moro em Madureira. E você?
-Em São Cristóvão.
Tudo estava
indo bem. Tudo contribuía para um relacionamento além de uma simples amizade. E
Carlos perguntou:
-Você
trabalha por aqui?
-Sim,
trabalho em um escritório de contabilidade. E você?
-No
Tribunal de Justiça, sou Analista de Sistemas.
-Que bom!
Você está aqui há muito tempo esperando o ônibus?
-Sim.
Vamos tomar um suco na Confeitaria Colombo?
-Vamos.
Carlos
pensava: Essa mulher será minha até que a morte me leve. Pois, sabia que teria
pouco tempo de vida, afinal, estava com uma doença linfática e teria
aproximadamente seis meses de vida.
Maria e
Carlos conversavam, trocavam olhares, um acariciava a mão do outro. Tudo era
mágico e perfeito. Carlos perguntou:
-Posso lhe
falar uma coisa? Você é a mulher da minha vida.
-Sério? O
que houve? Há algo diferente entre nós dois. Preciso ir embora Carlos, minha
mãe deve estar preocupada.
-Maria,
posso vê-la amanhã no mesmo lugar e horário?
-Sim.
E a cada
dia os dois se envolviam mais. Carlos morava sozinho, pois, sua família era do
Rio Grande do Sul. Habituado ir à casa de Maria, já era considerado como um
filho, para Dona Neide, mãe de Maria.
Angustiado, precisava contar para Maria de sua doença e de seus poucos
dias de vida. Maria fazia planos para o futuro, sonhava em casar-se, afinal,
estava se preservando para o seu amado e em seu imaginário vinha o tão grande
dia de seu casamento. Quando Maria falava sobre este assunto para Carlos, ele
se alegrava e ao mesmo tempo sua alma se entristecia, porque esse dia poderia
não chegar.
Na calada
da noite do dia três de outubro, Carlos entrou na madrugada pensativo, e
esperou o dia nascer para abrir o jogo a Maria e tirar de vez a angústia de seu
peito.
Chegando à
residência de Maria, estava determinado a não esconder coisa alguma para sua
pérola preciosa. E disse:
-Maria,
preciso lhe falar algo importantíssimo.
-Diga-me,
você está tenso. É algo grave meu amor? Sua mão está um gelo.
-Primeiro
de tudo. Aconteça o que for, eu a amarei sempre.
-Fale
logo, você está me deixando nervosa.
-No mês em
que nos conhecemos, descobri que tenho uma doença degenerativa, ainda não
descobriram a cura, e o médico diagnosticou que possuo vida aproximadamente por
seis meses, ou seja, tem quatro meses em que estamos juntos e se você ainda me
quiser, ficaremos aproximadamente dois
meses juntos.
Naquele
momento, o céu desabou. As lágrimas tomaram conta de seus rostos, abraçaram-se e começaram a se beijar.
De repente, Maria disse:
-Você é a
minha vida. Jamais o deixarei e não vamos ficar nem mais um segundo separados.
Vamos nos casar.
Os dois
competiam com o tempo e o casamento foi marcado para o dia cinco de novembro.
Muitos foram os preparativos, afinal, Carlos desejava que Maria fosse a mulher
mais esperada para ser vista naquele dia.
Com a
chegada do dia do casamento, a noiva passou o dia inteiro se ornamentando para
o seu amado, porque aquela noite havia sido planejada pelos dois. Às dezoito
horas, as porta da Igreja da Candelária foram abertas. A família e amigos de
ambos enchiam os bancos da igreja, e alguns comentavam: “Não sei por que esse
casamento tão rápido. Será que está grávida?”
E chegou a
hora. Carlos estava lindo. Trajava um terno cinza escuro que trazia no bolso um
lenço branco e a cada passo que dava até ao altar, as lágrimas vinham mais
forte. A mãe de Carlos, Dona Luíza, não sabia da doença do filho, consolava-o,
enxugando as lágrimas, e dizia:
-Filho,
por que tanto choro? Não está feliz?
-Pelo
contrário mãe, hoje é o dia mais feliz da minha vida. A senhora vai conhecer a
mulher que sempre esteve em meus sonhos. Sou um homem que recebi dos altos céus
um presente precioso, a Maria.
Carlos
acabara de pronunciar o nome de Maria, começa a tocar a marcha nupcial. A
noiva, belíssima, com um vestido cravejado de pedras brilhantes, carregava na
cabeça uma coroa de princesa. À medida que dava seus passos vagarosos, em rumo
ao seu prometido, toda igreja fitava os olhos nela. O noivo, com o olhar fixo
na noiva sorridente, chorava e sorria ao mesmo tempo. Ao tocar nas mãos de
Maria, beijou-a na testa e juntos foram para o altar. A cerimônia foi
finalizada pelo Padre com a frase: “O AMOR JAMAIS ACABA”. Aquelas últimas
palavras entraram no coração dos noivos como um bálsamo, afinal, ninguém sabia
do segredo dos dois.
Os
convidados, a festa, as fotos, o bolo, o corte da gravata, o dia ímpar, os
noivos se despediram, dando um adeus dentro do carro, que saiu carregado de
latas penduradas no pára-choque.
O casal
foi para sua residência, o apartamento que Carlos já morava, e em fim sós. A
noite não parecia ter fim, a lua cheia que clareava o quarto, o leve vento que
balançava as cortinas, o mundo que girava ao redor dos dois e as juras de amor
que faziam. Maria se entregou de corpo e alma para Carlos. O dia nasceu e os
dois acordaram com o sol batendo no rosto. Um disse para o outro ao mesmo
tempo:
-Eu te amo.
Dali em
diante, os dias passavam cronometradamente, e o mês de dezembro estava chegando
e a ansiedade bombardeava suas vidas. Já impossibilitado de trabalhar, havia
dias em que Carlos
encontrava-se com a saúde muito debilitada, trêmulo e às vezes desmaiava. Maria
procurava passar tranquilidade a Carlos através da confiança que tinha em Deus. Saiu do serviço
para dedicar-se totalmente a ele, pois, a cada dia a maldita doença o consumia.
No dia
quinze de dezembro, Maria deu uma notícia para Carlos.
-Adivinha o que está escrito neste papel?
Com um meio sorriso, disse:
-O que houve? Outro resultado de exame, outro diagnóstico
médico pior, outra data premeditada para morrer?
-Não. O que tenho em minhas mãos é um resultado positivo de
gravidez.
Por essa Carlos não esperava. O brilho que possuía no rosto
contagiou os dois e Carlos já acariciava a barriga de Maria e disse:
-Meu bebezinho, você não conhecerá o papai, mas eu desejo a
você toda a felicidade que um ser humano possa receber na vida. Chorando, Maria
diz a Carlos que enquanto ele estiver vivo ainda tem esperança que seja curado.
Mas a doença se agravava ainda mais e no dia vinte e três de
dezembro, Carlos disse:
-Maria, chegou a minha hora. Cuida do nosso filho. Por um
longo período não precisará trabalhar. No dia em que nosso filho nascer,
lembrarás de nós dois e eu estarei vivo dentro do seu coração. Peço-lhe, não
chores mais, alegra a tua alma com a presença dessa criança.
Na véspera do Natal, Carlos adormeceu para sempre e um dia
encontrará na eternidade Maria e seu filho.
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