Fórum de Educação, Ciência e Cultura: a ousadia em pauta
nov. 06 FIC, MUNDO FEUC, slider 4 comentários
O tradicional evento transdisciplinar da FEUC este ano passou em revista uma série de projetos e trabalhos de alunos, professores e convidados que estão se debruçando sobre dificuldades da educação e contribuindo para tornar a atividade docente mais pulsante e reflexiva
Por Tania Nevesemfoco@feuc.br
Com o tema “Educação e ousadia: teoria e prática em projetos emancipatórios”, o XVII Fórum de Educação, Ciência e Cultura proporcionou, no último dia 1 de novembro, um daqueles sábados memoráveis para a FEUC: encontros fantásticos de professores e alunos debatendo temas de alta relevância para o Magistério, assim como apresentações emocionantes de trabalhos que nossos licenciandos vêm desenvolvendo no âmbito da Iniciação Científica e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/Capes).
Para introduzir a plateia no clima que se pretendia para a jornada, a professora Célia Neves, coordenadora do evento e do curso de Ciências Sociais, apresentou o vídeo “O direito ao delírio”, em que o sociólogo uruguaio Eduardo Galeano poeticamente esclarece para que serve a utopia. Em seguida as professoras Rosilaine Silva (coordenadora de Geografia), Arlene Fonseca (coordenadora de Letras e diretora de Ensino da FEUC) e Gabriela Barbosa (coordenadora da Pós-Graduação) discursaram, elencando a importância daquele encontro e convidando todos a participarem ao máximo das discussões.
Por que é necessário ousar?
A mesa de abertura contou com uma dupla perfeita: a sempre presente professora doutora Daniela Patti, ex-coordenadora do curso de Pedagogia das FIC e hoje vice-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, e o mestre em Geografia Leandro Tartaglia, professor do Colégio Pedro II. Daniela elencou uma série de “ousadias” necessárias para que a educação e os educadores cumpram seu papel social, e Leandro em seguida falou um pouco do projeto que desenvolve como professor do Pedro II.
Entre as ousadias propostas por Daniela em sua palestra ela destacou a defesa de uma educação democrática (mais do que garantir escola para todos e todas, certificar-se de que realmente ninguém fique fora desse “todos/as”), pública (o que não impede a existência de instituições particulares, mas que estas sejam de fato opção e não a única saída), gratuita (preservando e protegendo a escola pública das interferências e ingerências privadas), laica (que respeite os crentes de qualquer religião e os não crentes também), inclusiva (que amplie a compreensão da inclusão e respeite a diversidade) e ética (no sentido de compreender e respeitar os acordos firmados no tempo, e que por isso se transformam, pois não são universais nem eternos) – e, sobretudo, ousar ser professor.
“Os desafios que o professor tem hoje na escola são múltiplos, então as ousadias também precisam ser muitas”, disse Daniela, lembrando que a formação da faculdade dará muitos subsídios aos futuros professores para desempenharem seu papel, mas certamente não os preparará para tudo, por isso é importante que eles ousem e busquem em todo canto – bibliotecas, internet, discussões acadêmicas – a complementação necessária: “Nenhum curso prepara para a vida, a vida a gente aprende vivendo. A escola não precisa ser divertida, mas pertinente; não tem que ser “Rivotril”, mas precisa fazer algum sentido para cada aluno”, completou.
A geografia do grafite na cidade
Leandro Tartaglia, que está lançando pela editora Luminária Academia o livro “Geograffitis – Uma leitura geográfica dos graffitis cariocas”, resultante de seu mestrado em Geografia na UFF, contou como desenvolve no sisudo Pedro II uma oficina permanente de grafite que, entre outras atividades, leva os alunos a percorrer ruas da cidade analisando como os grafites estampados nos muros dialogam com o entorno e dão pistas sobre as tensões e os conflitos espaciais existentes na sociedade.
“Ao mesmo tempo em que discutimos técnicas, estética, paisagem, estamos produzindo conhecimento sobre a cidade, sobre arte urbana, sobre geografia”, explica Leandro, ressaltando onde essa sua prática docente quer chegar: “Na discussão sobre cidadania, sobre o uso político cultural do espaço escolar e do espaço urbano. A escola tem esse papel. Eu tenho esse papel, seja lecionando geografia, que é o meu ofício, ou com a oficina de grafite, que é o projeto a que me dedico”.
Cursos da FEUC lançam revista científica eletrônica
Após o debate, o professor Flávio Pimentel apresentou a “Khóra: Revista Transdisciplinar”, publicação científica eletrônica dos cursos de Ciências Sociais, Geografia, História e Pedagogia. Ela pode ser acessada no endereço http://www.site.feuc.br/khora/index.php/vol e está aberta a submissões de artigos inéditos; sinopses e resenhas; capítulos de teses, dissertações e monografias; entrevistas, relatos e projetos, entre outros textos científicos. O número de estreia traz dois dossiês temáticos: “Perspectivas da educação pública do RJ: construindo caminhos para além da educação como mercadoria” e “Transformações sócio-territoriais em Campo Grande”.
Show do meio-dia
E a etapa matinal foi encerrada em grande estilo por Demetrius Silva Gomes, formado em Geografia pelas FIC em 2010 e que veio fazer uma apresentação dos primeiros resultados de sua pesquisa de mestrado no Cefet: “O pagode da década de 90, um estudo sobre a imagem do negro na mídia” (que você conhecerá com mais detalhes em matéria a ser publicada na próxima edição impressa de nossa FEUC em Foco). Após apresentar alguns achados iniciais de sua pesquisa, Demetrius brindou o público com um curto, porém aplaudidíssimo, show de MPB.
Cordel e poesia marginal no pátio
Enquanto os debates corriam no auditório, o professor Erivelto Reis coordenava no pátio a atividade “Cordel, poesia marginal e práticas didático-pedagógicas: Recriando a geração mimeógrafo”. Os alunos Danielle Silva Vitorino Pitzer, Alex Marques de Melo, Rita de Cássia Vieira e Alexsandra Amaral Cavalcante trabalharam a produção de textos, ao tempo que Marta Dayana A. de Freitas, Margareth Hilário dos S. Medeiros, Angela de Carvalho, Ingrid da Silva Cantanhede e Suely do Carmo R. Oliveira atuavam na divulgação dos textos. Todos se pautando pelas práticas de produção artesanal e difusão alternativa que foram a marca da geração de artistas marginais dos anos 60 e 70, principalmente.
“Aqui trabalhamos a criação de poemas curtos, como foi a marca dessa geração que seguia pela noite, nos bares e nas ruas divulgando sua arte, e também exploramos o modo artesanal como essa divulgação era feita, usando o mimeógrafo e a teatralidade”, explicou o professor Erivelto, orgulhoso de ter levado para a atividade a velha máquina de escrever que o acompanha há 30 anos.
A vez e a voz dos nossos alunos
Na parte da tarde os participantes se dividiram em dois espaços distintos para troca de experiências: o Auditório foi reservado para as “Práticas pedagógicas para uma nova formação docente”, com relatos de resultados de projetos em desenvolvimento, tanto por alunos e professores da casa quanto por convidados; e na Sala de Vídeo da Biblioteca a professora Gabriela Barbosa esteve à frente de uma série de apresentações de trabalhos de alunos dos cursos de Letras, História, Geografia e Matemática. Foram apresentadas pesquisas de Iniciação Científica e também do PIBID. Para reunir todos os trabalhos na mesma sessão, permitindo que mais alunos pudessem assistir às apresentações dos colegas, o que seriam os minicursos oferecidos pelos estudantes de Matemática foram transformados em comunicação científica.
Na sessão do Auditório, cinco experiências foram apresentadas:
1- “O trabalho de campo como ferramenta pedagógica para compreensão da realidade: o relato de uma experiência na Ilha da Madeira, Itaguaí/RJ”, de Marc Faria de Siqueira Machado e Eduardo Souza, com orientação da professora Célia Neves.
2- “Histórias da Nossa Educação: experiência que revela trajetórias e constrói intencionalidades”, apresentação da professora Célia Neves, com relato da aluna de Pedagogia Elizabeth Ramos, uma das participantes do projeto.
3- “Leitura – Fruição humana”, apresentação das professoras convidadas Marinázia C. Pinto e Michele Cristiane S. de Sousa, alunas do mestrado em Letras da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
4- “Funk e Geografia: Uma possibilidade metodológica para o ensino”, relato do mestre em Geografia pela UFF Leonardo de Castro Ferreira, que desenvolve o projeto no Colégio Pedro II, onde leciona.
5- “Desenvolvendo o letramento literário através do grupo Contação de Histórias”, dos alunos das FIC Gledison Morel, Isabelle Brum e Silva, Michelle Rodrigues da Silva Bitencourt Calisto, Ramayana Dell S. Linhares e Tamires Nunes da Silva.
Na Sala de Vídeo, os seguintes trabalhos foram apresentados:
GEOGRAFIA
1- “Resgatando Histórias e Fortalecendo as ações ambientais no Parque Estadual do Mendanha (PEM)”, dos alunos Luiz Alexandre Monteiro Alves, Raquel dos Santos Brasilino, André do Nascimento Siqueirae João Henrique Santo de Oliveira. Orientação da professora Rosilaine Silva e do professor Artur Lopes.
2- “Análise da paisagem do Parque Estadual do Mendanha (PEM)”, dos alunos Cristiane Monteiro de Lima, Anderson Araujo e Vanessa Austin Barbosa. Orientação do professor Alexandre Teixeira.
3- “Faixa marginal de proteção na Bacia Hidrográfica do Rio Guandu do Sapê e suas transformações ambientais”, dos alunos Guilherme Santos de Souza e Bruno Batista C. da Silva. Orientação da professora Débora Rodrigues.
HISTÓRIA
1- “Fontes para o estudo da história de Campo Grande”, das alunas Elba Gaya e Sônia Romano. Orientação das professoras Márcia Vasconcellos, Beatriz Oliveira, Nívia Pombo e Vivian Zampa, e assistência técnica de José Américo de Oliveira.
LETRAS
1- “A Carta do Descobrimento: descortinando a arte e a cultura brasileiras a partir da Carta de Caminha”, da aluna Lybia Oliveira. Orientação do professor Erivelto da Silva Reis.
2- “Turismo Literário: Uma ferramenta de desenvolvimento cultural e aprendizagem escolar através da vida e obra machadiana”, da aluna Vanessa Rodrigues de Souza. Orientação da professora Renata Gomes.
MATEMÁTICA: Projetos desenvolvidos no âmbito do PIBID, na Escola Municipal Baltazar Lisboa, sob a coordenação dos professores Alzir Fourny Marinhos e Gabriela Barbosa
1- “Jogos matemáticos de cartas envolvendo as operações aritméticas da adição, subtração, multiplicação, divisão”, dos alunos Ana Cláudia Cabral da Costa, Mário Campos (substituindo John Queiroz Evaristo) e Marco Antônio Carvalho Dias.
2- “Metodologias diversificadas para o ensino das quatro operações fundamentais da aritmética”, dos alunosAna Carla Pimentel de Albuquerque, Alexandre Ferreira da Cunha e Vanessa Barbosa Miranda.
3- “A tabuada e seus desafios”, dos alunos Alan Monteiro, Milena Rodrigues Barbosa dos Santos eSiliane Menezes de Almeida França.
A professora Gabriela comentou o resultado do evento: “Fizemos a apresentação integrada com os trabalhos de iniciação científica e achei que deu certo”, disse ela, destacando que a reunião de todos os trabalhos numa mesma sessão permitiu que alunos de cursos diferentes tomassem conhecimento dos trabalhos dos colegas e compartilhassem de modo mais dinâmico as discussões sobre metodologias e ações desenvolvidas por cada um no âmbito de suas pesquisas: “Foi uma atividade interdisciplinar, promovendo o diálogo entre as várias áreas do conhecimento”, finalizou.
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