Isabela Cordeiro dos Santos: "Não se acaba uma leitura sem que um pedacinho dela fique em você..." |
A LITERATURA COMO ESSÊNCIA HUMANA,
COM BASE NA OBRA
“TEMPOS DE PAZ”
ISABELA CORDEIRO DOS SANTOS
Na obra “Tempos de paz”, o personagem
Clausewitz, ex-ator polonês, se encontra na necessidade de usar todo seu
talento e conhecimentos literários a fim de conseguir permissão para entrar no
Brasil, pós Segunda Guerra Mundiais. Ele chega ao país como agricultor, pois
acredita que, após toda a barbárie vivenciada no mundo, o teatro já não tinha
sentido, nem função. Porém, ao se encontrar na missão de fazer o funcionário da
alfândega, Segismundo, chorar – condição imposta para entrar no país, inicia-se
um diálogo quase confessional entre os personagens, que se desenrola até uma
verdadeira encenação teatral. Se apropriando do texto de “La vida es sueño”, de Calderón de la Barca, como se fosse uma
memória pessoal, ele conseguiu emocionar Segismundo e entrar no Brasil.
Com cena de Clausewitz, percebemos que a
arte, o teatro e, consequentemente, a literatura emocionará e fará sentido,
independente do contexto sócio histórico, pois a essência humana é imutável. A
literatura é a representação da alma humana: esperanças, crenças, alegrias,
prazeres, dores, temores, preconceitos, indiferenças, indignações; quaisquer
sentimentos que inquietem a imaginação humana. Exatamente por isso, tenho
confiança em afirmar que conhecer e se apaixonar por literatura é uma jornada
de compreensão de tudo que nos torna humanos. É descobrir que aquilo que
admiramos em um personagem é o que nos falta, e aquilo que odiamos, muitas
vezes, nos sobra.
Não saberia dizer quando, nem como,
comecei a ler por prazer, mas sei que foi com a leitura de Pollyanna, de
Eleanor H. Porter, que embarquei no mundo literário. Quando penso nisso,
percebo que ler sobre uma garota da minha idade, com uma vida tão mais difícil
e que via o mundo de forma com tanta alegria, me fez admirar o otimismo que me
faltava. Nunca fui capaz de jogar o “Jogo do contente” e me pergunto se alguém
já conseguiu, mas conhecer Pollyanna e todos os moradores de sua triste cidade
me ensinou empatia, que as pessoas têm motivos para seus atos, mesmo os
egoístas e cruéis. Essa é a habilidade mais nobre da literatura: mostrar-nos
pontos de vista.
Isso se torna mais evidente ao lermos
diferentes tipos de livros, de diferentes países e culturas. Um livro britânico
não vai apresentará a mesma visão de mundo que um livro japonês, ou francês.
Contudo, não é necessário ter lido literatura de quinze países diferentes para
perceber essa variação de visões. Como dito antes, a literatura reflete o ser
humano, porém esse reflexo submetido ao filtro do escritor, pela sua forma de
ver o mundo. Sendo assim, ler livros de três autores, do mesmo país e mesmo
período histórico, pode ser suficiente para que encontremos três visões
diferentes, mesmo que semelhantes em alguns aspectos.
Assim, a literatura não e simplesmente
lida, é vivida. Não se acaba uma leitura sem que um pedacinho dela fique em
você, e não há por que resistir a isso. O maior, e talvez mais assustador,
efeito colateral é a jornada inconsciente pelo autoconhecimento, sempre que
algo incomoda e provoca, sem prévio aviso. E a melhor saída é nos deixar
instigar pelas provocações e mergulhar nessa jornada, sem temores. A literatura
é a maior arma contra a solidão da alma e a insensibilidade, um remédio sem
contra-indicações.
Não sou o mar
Isabela Cordeiro dos Santos
Passos na areia
apagados pelo mar.
Não posso
voltar,
não vejo nada.
Quem fui, quem sou
O mar também levou isso.
Espreito o caminho percorrido:
Nada.
Enfrento o caminho que sigo:
Nada.
E, assim, finalmente entendo
Não sou nada.
Primavera da alma
Isabela Cordeiro dos Santos
O rio furioso
A pétala suave
Repousa e amansa
O mar revolto
Ao som do violino
Recua e espera
O vento gélido
Perfuma o mundo
Em brisa gentil
O pensamento confuso
Se anima e acalma
Ao som da poesia.