Flávio Pimentel: Filósofo, "Poeta bissexto", músico e compositor. Um poeta onírico, em constante alumbramento, num mundo em desassombro. |
Eu não quero ser o homem que você sonhava
Flávio Pimentel
Eu não quero ser o homem
Que você sonhava.
Quero ser a lava
Inflamada do vulcão
Quando você me estende a mão
Pedindo água.
Não quero o retrato
Que você amava,
Empoeirado na estante,
De um casal estátua.
Bigode, vestido,
Terno e gravata,
E um tédio emoldurando
O preto e branco sem graça.
Prefiro ser o nó na garganta
Que te aperta contra a mágoa,
O imperfeito vacilo
De que vc falava,
A dor no teu dente,
E a serpente
Que te morde e tara
Sem te deixar dormir.
Quero ser teu problema,
Teu desdentado pente,
Quero ser teu poente
E teu poema,
Este que você escreve
Pra se reconstruir
Depois de horas difíceis.
Eu quero ser o teu fim,
O perto e o longe de mim,
Teu amor e tua raiva
Na tensão do dia,
Tudo o que não caiba
Em velha fotografia,
A insônia contra a anestesia.
Prefiro ser tua sede
Do que tua poesia.
Que você sonhava.
Quero ser a lava
Inflamada do vulcão
Quando você me estende a mão
Pedindo água.
Não quero o retrato
Que você amava,
Empoeirado na estante,
De um casal estátua.
Bigode, vestido,
Terno e gravata,
E um tédio emoldurando
O preto e branco sem graça.
Prefiro ser o nó na garganta
Que te aperta contra a mágoa,
O imperfeito vacilo
De que vc falava,
A dor no teu dente,
E a serpente
Que te morde e tara
Sem te deixar dormir.
Quero ser teu problema,
Teu desdentado pente,
Quero ser teu poente
E teu poema,
Este que você escreve
Pra se reconstruir
Depois de horas difíceis.
Eu quero ser o teu fim,
O perto e o longe de mim,
Teu amor e tua raiva
Na tensão do dia,
Tudo o que não caiba
Em velha fotografia,
A insônia contra a anestesia.
Prefiro ser tua sede
Do que tua poesia.
Para Bruna Rosa
Beijei lábios e dentes e olhos e garras,
mas também lágrimas, porque seu sabor enternece.
Se me desmonto pelos olhos
É porque respeito meus poentes
Assim como meus dias de sol.
Sacrifícios me trocam a pele.
Num ritual só meu, me despi de minhas armas,
depositei-as num canto inabitado do quintal
sem nenhuma prece.
Pedi licença aos deuses,
entidades, memórias
e eles me entenderam.
Deixaram-me só,
criança boquiaberta sob o céu,
num arco aviso algum faiscando.
Ventos passaram por mim como aves,
tempestades, procelas.
Saí na chuva sem camisa.
Larguei o aço.
Ninguém é de ferro.
mas também lágrimas, porque seu sabor enternece.
Se me desmonto pelos olhos
É porque respeito meus poentes
Assim como meus dias de sol.
Sacrifícios me trocam a pele.
Num ritual só meu, me despi de minhas armas,
depositei-as num canto inabitado do quintal
sem nenhuma prece.
Pedi licença aos deuses,
entidades, memórias
e eles me entenderam.
Deixaram-me só,
criança boquiaberta sob o céu,
num arco aviso algum faiscando.
Ventos passaram por mim como aves,
tempestades, procelas.
Saí na chuva sem camisa.
Larguei o aço.
Ninguém é de ferro.
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