Quem sou eu

Minha foto
Blog para apresentação de textos e desenvolvimento de práticas relacionadas à produção, manipulação, seleção, gerenciamento e divulgação de trabalhos de confecção de textos dos alunos e alunas do Professor Dr. Erivelto Reis, mediador, orientador e coordenador das atividades desenvolvidas no Blog, que tem um caráter experimental. Esse Blog poderá conter textos em fase de confecção, em produção parcial, em processo de revisão e/ou postados por alunos em fase de adaptação à seleção de conteúdo ou produção de textos literários.

sábado, 28 de junho de 2025

FAIXA 3 - VOLUME 2 - SE EU MORRER AMANHÃ - ROSA LOBATO DE FARIA - Poesia Portuguesa MusIcAda - Produzido por Erivelto Reis

FAIXA 3 - VOLUME 2  

SE EU MORRER AMANHÃ - ROSA LOBATO DE FARIA

Poesia Portuguesa MusIcAda - Produzido por Erivelto Reis

Projeto Euterpe, Erato & Erivelto Reis - Poesia Portuguesa MusIcAda (2025)

Idealização e Produção: Erivelto Reis

 



 

 

 ACESSEM:  

 

 

 

 

 

Se eu morrer amanhã

Rosa Lobato de Faria

 

Se eu morrer de manhã

Abre a janela devagar

E olha com rigor o dia que não tenho

Não me lamentes. Eu não me entristeço.

Ter tido a morte é mais do que mereço

Se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar

E um pedaço de céu

O único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa

Que não saber voar

Foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.

Não chames o meu nome que não venho,

E do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.

Deixa que eu faça o meu papel de morta

Pois não estar é da morte quanto sei...

In "Poemas Escolhidos e Dispersos"

Rosa Lobato de Faria (1932-2010) foi uma figura multifacetada e de grande relevância na cultura portuguesa. Nascida em Lisboa, destacou-se como escritora, atriz e letrista, deixando um legado notável em diversas áreas artísticas. Sua carreira literária começou com a poesia, mas foi na escrita de romances que conquistou um público vasto e fiel, com obras que frequentemente exploravam temas como o amor, as relações humanas, o misticismo e a identidade feminina. Títulos como "O Pranto das Sete Luas" e "Os Pássaros da Noite" são exemplos de seu estilo envolvente e sua capacidade de construir narrativas ricas em simbolismo e emoção, muitas vezes mesclando o real e o fantástico.

Além de sua prolífica carreira como romancista, Rosa Lobato de Faria teve uma presença marcante na televisão e no cinema como atriz, participando de inúmeras produções que a tornaram um rosto conhecido do público português. Sua versatilidade a permitiu transitar entre papéis dramáticos e cômicos, sempre com uma performance cativante. No campo da música, deixou sua marca como letrista de canções que se tornaram grandes sucessos, interpretadas por nomes consagrados da música portuguesa. Suas letras eram frequentemente poéticas e profundas, demonstrando sua sensibilidade e domínio da palavra, contribuindo para a eternização de melodias no imaginário coletivo.

O impacto de Rosa Lobato de Faria na cultura portuguesa vai além de sua vasta obra. Ela foi uma artista que soube se reinventar e explorar diferentes formas de expressão, sempre com paixão e dedicação. Sua capacidade de comunicar-se com o público em diferentes plataformas a tornou uma figura querida e respeitada. Mesmo após sua morte em 2010, sua obra continua a ser lida e revisitada, mantendo viva a memória de uma mulher que, com sua arte, enriqueceu significativamente o panorama cultural de Portugal.

 

Análise do Poema

O poema "Se eu morrer amanhã" de Rosa Lobato de Faria é uma reflexão profunda e serena sobre a morte, vista não como um fim trágico, mas como uma transição aceita e até mesmo desejada. A voz poética, que se presume ser a da própria autora, aborda a inevitabilidade da partida com uma lucidez e uma tranquilidade notáveis, desmistificando o sofrimento e o luto tradicionalmente associados a ela.

O eu-lírico expressa um desejo de que sua morte seja recebida com naturalidade, sem lamentos ou tristeza. Há uma clara instrução para que se abra a janela, permitindo que a vida exterior – o dia, o ar, o céu e talvez um pássaro – continue seu curso inalterado. Essa abertura simboliza não apenas a continuidade do mundo, mas também uma leveza em relação à própria inexistência. A menção de "não saber voar" como sua "lei" pode ser interpretada como uma aceitação das limitações da vida terrena, talvez até uma metáfora para a incapacidade de transcender certas barreiras enquanto em vida.

A negação do espelho para buscar o hálito e a recusa em responder ao nome chamam a atenção para a completa desvinculação do corpo físico e do mundo dos vivos. O mistério da morte é abraçado, e o eu-lírico declara que nada revelará sobre ele, reforçando a ideia de que a morte é uma experiência singular e intransferível. A frase final, "Deixa que eu faça o meu papel de morta / Pois não estar é da morte quanto sei...", é de uma pungente simplicidade e resignação. Ela encapsula a essência do poema: a morte é, em sua forma mais pura, a ausência, e o eu-lírico está pronto para assumir esse "papel" com total consciência e paz. É um poema que convida à reflexão sobre a finitude, mas o faz com uma melancolia suave, desprovida de desespero.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário