A PELE QUE ALMODÓVAR HABITA
Por Flávio de Oliveira
Quem ama cinema, ama Pedro Almodóvar. O cineasta espanhol é um dos cineastas mais queridos pelos cinéfilos, autor de uma obra extensa e regularmente boa, quando não excelente. Seu último filme, “A Pele que Habito” (La Piel que Habito), pode ser considerado um divisor de águas em sua carreira tão eclética.
Pedro é um diretor que se aventurou por vários gêneros. Iniciou sua carreira com comédias, onde o escracho e os cenários “kitsch” estavam presentes desde o começo, como “Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão” (1980), “Maus Hábitos” (1983), o clássico “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988), e “Ata-me!” (1990).
Em meados dos anos 90, Pedro direcionou sua carreira para o melodrama e construí obras memoráveis, como “A Flor do Meu Segredo” (1995), “Carne Trêmula” (1997), “Tudo sobre minha mãe” (1999) e “Fale com Ela” (2002), todos sucessos de crítica e bastante premiados.
Em 2004, ao apresentar seu novo trabalho, “Má Educação”, houve uma nova mudança de gênero. Pedro apresentou um filme sombrio, misterioso, e a resposta do público e crítica não foi das mais calorosas. O mistério também rondou suas obras seguintes, “Volver” (2006) e “Abraços Partidos” (2009).
Ao apresentar “A Pele que Habito” no Festival de Cannes de 2011, onde fora premiado em outras ocasiões, Pedro causou mal-estar, dividiu opiniões e apresentou um trabalho diferente de tudo que já realizou. Desta vez ele se aventurou pelo gênero terror, de humor deslocado e muito sombrio.
Em primeiro lugar, quero deixar claro que o gênero terror apresentado nesse filme não se refere aos “slasher movies” (subgênero de filmes de terror envolvendo um psicopata que mata suas vítimas aleatoriamente)! O terror e a violência da obra, quando existe, estão representados na natureza dos objetos em cena. É psicológico. Não é recomendado para os “estômagos fracos” e, sim, pode causar bastante mal-estar.
Está aí a genialidade da obra de um diretor que se reinventa e não tem medo de novos desafios. Pedro entregou um filme diferente de tudo o que já realizou. Subversivo, frio... e o humor, que existia desde sempre em suas obras, simplesmente desapareceu. Quando o filme provoca alguma risada, significa apenas desconforto. Talvez por isso, “A Pele que Habito” seja um filme para amar ou odiar. Brincando com o título do filme, é uma mudança de pele para o diretor.
Sobre a trama, não podemos entregar muito, pois esse é um filme que tem que ser descoberto em camadas. Elas existem e não sou poucas. Pedro baseou-se no livro “Tarântula”, do escritor Thierry Jonquet para contar a história de Robert Ledgard (Antonio Banderas, que não fazia um filme com Almodóvar há mais de vinte anos), um médico traumatizado com a perda da esposa. Mestre da cirurgia plástica, ele está criando um novo tipo de pele artificial à prova de queimaduras e picadas de insetos, capaz de resistir à dor, misturando DNA de humanos e suínos. Como cobaia, ele mantém em cativeiro uma mulher chamada Vera (Elena Anaya). Claro que as coisas são bem mais complicadas do que isso, mas falar mais pode estragar qualquer surpresa.
Sabendo que o foco central nas tramas de Almodóvar sempre foi a mulher, assistir “A Pele que Habito” pode ser uma experiência traumatizante e surpreendente para alguns. Uma coisa é certa: você não ficará indiferente após os créditos começarem a subir no final da exibição.
La Piel Que Habito, Espanha, 2011. De Pedro Almodóvar. Com Antonio Banderas, Elena Anaya e Marisa Paredes. 117 minutos. Distribuidora: Paris Filmes. Gênero: Suspense.
Adorei Flavinho!!Adoro Almodóvar e conversar sobre ele com você é realmente incrível!!
ResponderExcluirObrigada pelos filmes maravilhosos.
Almodóvar é um gênio ao trabalhar com a metalinguagem e discutir temas como a construção e a desconstrução da mulher!!Ainda nos encontraremos no Doutorado!!
Beijão amigo!!!
Escrito acima por: Daniela Martins 4 Periodo de Literaturas
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